15.8.04
fracasso anunciado
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))) Odom, Marbury e o retrato da derrota
Quando o gigante Amare Stoudemire caiu de maduro após uma finta simples do franzino Carlos Arroyo, ficou nítido que alguma coisa estava fora da ordem. Corria o segundo quarto da estréia americana na Olimpíada de Atenas. Figura de terceiro escalão na NBA, o bravo armador de Porto Rico já havia construído, àquela altura, as bases de uma atuação heróica, que culminaria com um impensável placar de 92 a 73.
A favor da zebra, claro.
Enquanto Stoudemire se levantava e Arroyo festejava mais dois pontos, fiquei me perguntando, naquele momento, onde estariam Kidd, T-Mac, Kobe, Carter, Allen, Bibby, Garnett, Wallace, Martin, Brand, Malone, Hamilton, Shaq e Jermaine. Vendo pela TV, talvez. Por motivo de segurança, cansaço, contusão ou até casamento, todos eles estão longe da Grécia. Recusaram a convocação educadamente e partiram para merecidas férias.
Azar de Allen Iverson e Tim Duncan, que aceitaram o chamado e deram a cara para bater.
Sobrou para eles a missão de carregar nas costas o peso da tradição e driblar cães ferozes que dão o sangue para arrancar uma migalha qualquer dos Estados Unidos. Porto Rico conseguiu bem mais que isso. Liderou a partida do início ao fim e venceu de forma categórica. Uma sova de 19 pontos não deixa margem a dúvidas.
Ah, então a esquadra porto-riquenha é superior à americana? Claro que não. A ausência dos superastros não transforma os olímpicos ianques em atletas de meia tigela. Marbury, Odom, Jefferson, LeBron, Carmelo & Cia merecem algum crédito.
Por que, então, existe um risco tão grande de naufrágio? Há um conjunto de motivos.
1) O elenco é cheio de buracos. Para começar, falta um pivô autêntico. Perde-se a referência embaixo da cesta e os grandalhões adversários acabam levando vantagem, mesmo com menos habilidade. O ataque, portanto, se volta para o perímetro. E aí entra o segundo problema, talvez o maior de todos: não há bons arremessadores. São todos péssimos. Tudo bem que Kobe Bryant está enrolado com a Justiça, Ray Allen preferiu curtir a lua-de-mel e Tracy McGrady tem medo de terroristas. Sendo assim, que chamassem Allan Houston, Michael Redd ou qualquer outro que saiba chutar de média distância. No domingo, a pontaria foi desastrosa. Da linha dos três, foram 24 tiros e apenas três acertos. Assim, seria melhor levar o L.A. Clippers.
2) A escolha do técnico foi errada. Larry Brown é um dos melhores da NBA (na última temporada, sem dúvida foi o melhor), mas seu grande trunfo é a defesa. Foi assim que os Pistons surpreenderam o planeta e roubaram o título dos Lakers. Criar um ferrolho retranqueiro não é tarefa para curto prazo, principalmente com atletas de características ofensivas que jamais atuaram juntos. Elaborar um sistema vencedor leva tempo e requer carregadores de piano. Se a seleção está repleta de estrelas, seria mais prudente nomear um treinador que jogue para frente, garantindo pontuações elásticas que dificilmente seriam alcançadas pelos rivais.
3) A garotada não resiste à pressão. Iverson percebeu isso quase na metade do jogo e, diante do pânico dos colegas, tentou resolver sozinho, correndo a quadra toda em desespero. Quem acompanha a NBA sabe o que acontece quando o craque dos Sixers entra em parafuso. Chutou dez bolas de três e só acertou uma. Ele e Duncan somaram apenas 30 pontos. É pouco para um time de meninos.
A medalha de ouro continua lá, no horizonte, mas agora o estrago está feito. A derrota expôs feridas que precisam ser fechadas o quanto antes, de preferência até terça-feira, quando os adversários serão os donos da casa.
Talvez uma saída seja barrar o inoperante Richard Jefferson, fixar Lamar Odom na posição 3 e lançar Stoudemire ou Boozer (prefiro o primeiro) no time titular, para compor o garrafão ao lado de Duncan. Além disso, Brown precisa destacar alguém para armar as jogadas com calma, como fez Arroyo em Porto Rico. Iverson não sabe cumprir essa função, e Stephon Marbury é uma caixinha de surpresas. Crescem, portanto, as chances de Dwyane Wade.
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Como de praxe, a liga elegeu, ao fim da temporada, sua seleção com titulares, reservas e terceiro time. Dos 15 nomeados, 12 eram americanos, mas apenas Iverson e Duncan estão em Atenas.
Descaso é isso aí.
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Por falar em não-americanos, foi antológica a cesta de Manu Ginobili que selou a vitória da Argentina contra Sérvia-Montenegro. Desequilibrado e com o relógio indo embora, o guerreiro do San Antonio Spurs garantiu seu lugar na galeria olímpica de 2004.
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foto . cnn/sports illustrated
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