31.3.04



universo paralelo
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))) Carmelo e LeBron insistem
em travar um duelo particular



É inegável que existem dois tipos de competição quando Cavs e Nuggets entram em quadra. A concorrência aberta diz respeito à classificação para os playoffs, mas não é só isso que está em jogo. Mesmo à distância, LeBron James e Carmelo Anthony seguem travando um duelo silencioso pelo título de calouro do ano.

Na semana em curso, tivemos dois rounds espetaculares. O primeiro foi no sábado, quando LeBron marcou 41 pontos e distribuiu 13 assistências diante do New Jersey Nets. A resposta veio ontem, quando vimos Carmelo na TV igualando a pontuação do concorrente e ajudando seu time a bater o Seattle, rival direto na luta pela vaga.

Sabe-se que o ingresso no mata-mata pode ser o principal critério de desempate na rixa individual. Se um conseguir se classificar e o outro for barrado no baile, a escolha fica mais fácil. Mas e se os dois entrarem? Ou se os dois fracassarem?

Bem, aí a coisa começa a se decidir nos detalhes. O fenômeno adolescente de Cleveland carrega o mérito de reerguer um time praticamente sozinho, ao contrário do adversário, que anda cercado de talento. Dono de uma visão de quadra apurada, LeBron parece mais perto da conquista.

Carmelo, por sua vez, perdeu ontem uma grande chance de turbinar a campanha. É claro que um sujeito com 41 pontos nas costas tem de ser o craque da partida. A nota triste, contudo, é que 37 destes pontos já haviam sido marcados no terceiro quarto. Quando veio o último período, o calouro dos Nuggets se omitiu de forma lamentável. Cometeu equívocos primários, andou com a bola, errou bandeja sozinho, fez falta intencional desnecessária.

Ou seja, quando a equipe mais precisou do líder para decidir um jogo complicado, a responsabilidade caiu nas mãos de um coadjuvante: o anão Earl Boykins.

(Aliás, abre-se aqui um parêntese para o merecido elogio a este pequeno guerreiro. É impressionante como um atleta de tão baixa estatura pode se tornar um gigante na defesa, infernizando a vida do armador que lhe cruza o caminho. De quebra, Boykins revela uma precisão cirúrgica no ataque, seja nos passes ou nos arremessos.)

Voltando à vaca fria, Anthony poderia ter estourado os 50 pontos ontem, se não tivesse largado o rojão na reta final. Igualou o recorde de pontos de LeBron, mas perdeu a chance de fazer um estrago muito maior. Pena.

Seria ótimo ver um jovem superando o outro a cada rodada. Os fãs do esporte só têm a ganhar. Mas tudo bem. Continuamos admirando, boquiabertos, aguardando os próximos capítulos.

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As águas de março se despedem com uma bela noite de basquete. Das dez partidas marcadas para hoje, oito têm belas atrações relativas aos playoffs. Destaque para o embate de peso lá no topo do Oeste, entre Sacramento Kings e San Antonio Spurs.

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Na outra ponta da tabela, temos logo mais o clássico dos lanternas, entre Chicago Bulls e Orlando Magic.

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foto . nbae

29.3.04



a novela do cartola
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))) Posey e Outlaw: duas apostas de West


Por mais de uma vez, dei a mão à palmatória implacável de Jerry West. Não é vergonha nenhuma. Quando começou a construir o Memphis Grizzlies, sinceramente achei que o cartola estava jogando na latrina toda a glória acumulada à frente dos Lakers nos tempos de showtime. As negociações pareciam erros primários, os reforços eram inexpressivos, ninguém entendia nada. Com aquele olhar travado, o sujeito parecia caduco. De lá, a imprensa bateu forte. De cá, eu segui a correnteza.

Ora, caducos estamos todos nós.

Muito antes do que se esperava, a loucura de West começa a dar frutos saborosos no Tennessee. Em vez de apenas evitar outra temporada vergonhosa, a franquia conseguiu o que parecia impossível: furar o instransponível top-5 do Oeste. O Dallas Mavericks já ficou para trás, e o San Antonio Spurs que abra o olho enquanto é tempo.

A turma de Los Angeles, que guarda lembranças de West, pisou fundo no acelerador e engatou uma bela seqüência de vitórias. Parece livre da ameaça dos emergentes comandados por seu antigo diretor, assim como Kings e Wolves.

À exceção dos três primeiros colocados da conferência, não há quem não sinta uma ponta de dor de cabeça ao pensar nos Grizzlies. Ontem, o time-sensação da temporada cruzou fronteiras e desfilou seu talento no Canadá, batendo o Toronto por 94-88. Foi a quinta vitória seguida.

O segredo? Basicamente, jogo de equipe. Como não podia deixar de ser, o basquete solidário do Memphis é comandado por um craque das pranchetas. Aos 72 anos, Hubie Brown foi mais uma aposta certeira de Jerry West, que não hesitou em pescá-lo na aposentadoria e lhe confiou a missão de azeitar um imprevisível grupo de garotos.

A escolha não podia ter sido melhor. Desde o início da temporada, Brown tem dado a seus colegas treinadores uma aula de rotação no elenco. A prova maior está no tempo que cada atleta gasta em quadra. Pau Gasol, craque da companhia, é o único que joga mais de 30 minutos por noite. Além dele, outros quatro mantêm suas médias de pontos em dígitos duplos: James Posey, Bonzi Wells, Mike Miller e Jason Williams. Sem falar nos sempre úteis Stromile Swift, Shane Battier e Bo Outlaw.

Com as tarefas tão divididas, as definições de titular e reserva vão por água abaixo. Cada um tem sua oportunidade, seu momento de estrela. É mais ou menos como uma novela de Manoel Carlos. Noveleiros de plantão, não fujam da raia: lembram-se de Mulheres apaixonadas? A cada capítulo, um protagonista diferente.

Assim é o Memphis Grizzlies.

A garantia do brilho diário recai apenas sobre dois nomes: o técnico Brown, que faz o roteiro andar, e o cartola West, que foi buscar os atores certos.

Ah, eles vão fracassar nos playoffs? E daí? No campeonato em que todas as expectativas circulavam entre um Kobe acusado e um LeBron celebrado, os rapazes do Tennessee já cumpriram sua missão. Roubaram, ao menos por um tempo, o papel principal. Manoel Carlos assinaria embaixo.

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foto . nbae

28.3.04



dois dedos de prosa sobre redenção
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))) Alston fez o ginásio tremer


Enquanto os cães ferozes se atacam no Oeste, peço licença aos companheiros para gastar mais algumas linhas com a conferência rival. Os primos pobres da NBA, vocês sabem, vêm dando o que falar. O trio de ferro Pacers-Nets-Pistons continua grudado no topo da tabela, mas a emoção segue espalhada alguns degraus abaixo.

O que aconteceu na noite de sexta-feira foi uma prova inequívoca de que o Leste, apesar de limitado, pode aprontar das suas. Foi o que fez o Miami para cima do Dallas, num triunfo histórico que, a esta altura, já fez valer a temporada para o time da Flórida. Acostumado às derrotas, o Heat decidiu, na reta final do campeonato, tomar o caminho das vitórias. E cadê alguém para frear essa gente?

O tiro certeiro de Rafer Alston, com Shawn Bradley à frente, não apenas sela a sétima vitória seguida do Miami, mas funciona como um símbolo emblemático. Representa a superação do peladeiro diante do gigante, mais ou menos como acontece nas raras ocasiões em que o Leste bate o Oeste. Aquela bola de três caiu como uma bomba no ginásio. O chão tremeu e a arquibancada parecia explodir. Para quem vinha se adequando à rotina de derrotas, esse novo Heat é um sopro de otimismo.

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Outro redentor do fim de semana foi LeBron James, que finalmente quebrou a barreira dos 40 pontos e tornou-se o mais jovem atleta a atingir tal feito. Ontem, contra o New Jersey, o calouro não só marcou 41, como também distribuiu 13 assistências. De certa forma, supriu a ausência de Jason Kidd em quadra. Com o grupo na mão, anotou os últimos 10 pontos da equipe na apertada vitória por 107-104.

E ainda tem gente achando que o garoto é só um produto da mídia.

O resultado de ontem quebrou uma seqüência de fracassos e deixou o Cleveland empatado com o Boston na luta pela oitava vaga do Leste. Para quem foi lanterna no ano passado, a briga atual é mais uma prova de superação numa conferência marcada pelo desafio constante. Com todo respeito aos fãs dos Celtics, o basquete agradeceria se a decadente turma de Paul Pierce abrisse espaço para o sangue novo de LeBron no mata-mata.

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Para não dizer que não falei de Oeste: belíssimo jogo o de ontem, entre Denver e Utah. Disputa acirrada, clima de playoff. O desfecho espetacular, com o raçudo Carlos Arroyo, mostra que, apesar das ausências de Malone e Stockton, o Jazz mantém na veia o espírito guerreiro. Assim como o Cleveland, seria um prazer ver essa moçada na próxima fase.

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foto . nbae

26.3.04



... e se?
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))) Sem Kidd, os Nets tornam-se bons rivais


Os dias passam e o gargalo fica cada vez mais apertado. No Leste, o top 3 reina soberano e o resto se engalfinha por posições na tabela. A menos de um mês dos playoffs, a conferência começa a despertar dúvidas. Boa oportunidade para exercitar a imaginação e se debruçar sobre três perguntas singelas. Pensem comigo.

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))) E se o New Jersey começar o playoff sem Jason Kidd? Dá para passar da primeira rodada?

O joelho esquerdo está lá, em frangalhos. Corre à boca pequena nos corredores médicos que os Nets podem singrar o mata-mata com seu maior craque em trajes de passeio. Colapso? Bem possível. Sem Kidd, o esquema do jovem Lawrence Frank cai por terra. Criar uma nova rotação ofensiva sem a visão genial do armador é tarefa para um senhor técnico. Talvez não seja o caso de Frank, ainda é cedo para saber. Kenyon Martin e Richard Jefferson terão de cortar um dobrado, mas, ainda que isso aconteça, não dá para descartar que a zebra pode falar mais alto. A turma do rodapé (Miami, New York, Cleveland, Boston...) está de olhos arregalados.


))) E se o Miami resolve escolher seu primeiro adversário na próxima fase? Vale a pena cair uma posição para pegar um rival em crise?

Sob a tutela de Lamar Odom, o Heat tem seis vitórias seguidas e vive a melhor fase de todo o Leste. Terminar onde está, na sexta vaga, significa enfrentar de cara o embalado Detroit Pistons. Se for difícil subir uma posição, que tal cair uma? Quem acompanha estas linhas há algum tempo sabe que eu repudio qualquer estratégia deste tipo, mas quem garante que Pat Riley pensa como eu? Deslizando para o sétimo lugar, o Miami pegaria um New Jersey sem Kidd. Que tal?


))) E se o New York consegue passar pelo Indiana? Alguém duvida dessa possibilidade?

Na briga de foice pela oitava vaga, não há nada definido. Lá no topo, os Pacers curtem o conforto e analisam possíveis adversários. Posso estar errado, mas algo me diz que eles andam secando os Knicks. Seria um confronto no mínimo interessante. Além da rivalidade que fala por si, teríamos um Isiah Thomas furioso, agora cartola, cutucando os brios de seus comandados e louco por uma vingança contra o time que o demitiu ao fim da última temporada; Stephon Marbury inflado de orgulho por ter levado o New York de volta aos playoffs; o Madison fervendo; e uma equipe inteira ciente de que, batendo o Indiana, teria pela frente Hornets ou Bucks, que atualmente atravessam fase pra lá de confusa. Meio caminho andado para a final da conferência.

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foto . nbae

24.3.04



prêmio pela insistência
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))) Magloire foi o herói do New Orleans ontem


Para bater o time de melhor defesa na liga, não basta tentar uma vez. Na noite de ontem, o New Orleans viu a vitória sobre o Detroit escorrendo pelos dedos após o arremesso de três de Chauncey Billups, quando faltavam 17 segundos. Era este o breve tempo que os Hornets tinham para superar a muralha dos Pistons. Tarefa ingrata.

A primeira tentativa caiu nas mãos de Jamaal Magloire, mas um toco de Ben Wallace zuniu a bola pela lateral. Restavam seis segundos. Na segunda chance, David Wesley tentou o tiro, mas lá estava o monstro Wallace de novo para o bloqueio. O problema é que, desta vez, a bola não foi para fora da quadra. Caiu nas mãos de um Magloire sem marcação. O pivô subiu com tranqüilidade e selou uma vitória heróica ao soar da campainha (foto aqui).

Com isso, foi por água abaixo a seqüência de oito vitórias do Detroit. O técnico Larry Brown tratou de jogar a culpa no juiz, alegando que, no primeiro toco, a bola resvalou em Darrell Armstrong antes de sair. Talvez a TV mostre quem tem razão, mas a choradeira não faz sentido. Méritos para o New Orleans, que conseguiu marcar 82 pontos numa defesa de pedra.

O resultado de ontem muda o rumo após um par de derrotas e faz o treinador Tim Floyd respirar aliviado, a uma distância razoavelmente segura do Milwaukee Bucks, que interrompeu a queda livre ontem com um triunfo espetacular em Sacramento.

Nem o mais pessimista torcedor dos Kings esperava a derrota por 112-101. Salto alto? Pode ser. Afinal, a equipe mantinha uma série de 29 vitórias contra adversários do Leste na Arco Arena. Abriu a guarda diante do Milwaukee, que vinha de cinco derrotas consecutivas.

À turma de Sacramento, convém abrir o olho. Nos últimos sete compromissos, foram quatro tropeços. Hoje, a pedreira está marcada para o Staples Center, contra os Lakers. Com um retrospecto desses, a torcida de Los Angeles deve encher os pulmões para gritar “Queens”.

Provocações à parte, o jogo é uma ótima oportunidade para os dois rivais medirem forças, sem a desculpa dos desfalques. Os elencos estão completos, as estrelas estão a postos, os ânimos estão acirrados. É um duelo que promete.

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foto . cbs/sportsline

23.3.04



o leste na enfermaria
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))) O’Neal no chão: Indiana Pacers em alerta


Enquanto Carmelo Anthony e LeBron James brigam pelo título de calouro do ano e empurram seus times ladeira acima, um novato bem menos cotado teve ontem seu momento Darlene. Já eliminado dos playoffs e sem a menor intenção, coitado, o inexpressivo Ronald Dupree, do Chicago Bulls, ganhou valiosos segundos de exposição na TV ao trombar com o Jermaine O’Neal e mandar o craque do Indiana Pacers para o vestiário.

Joelho esquerdo torcido, expressão de dor, médicos e torcedores em polvorosa.

Com uma enorme bolsa de gelo adormecendo a perna, O’Neal viu do banco sua equipe massacrar os Bulls por 101-77. Pelas mãos calibradas de Reggie Miller e Jamaal Tinsley, o Indiana não sentiu a falta do ídolo e passou fácil por um dos piores times da liga.

Hoje à noite, no entanto, a história há de ser diferente. Quem bate à porta do Conseco Fieldhouse é o forte Dallas Mavericks, que anda se engalfinhando com rivais de peso no bolo da conferência Oeste. A enfermaria ainda não deu o veredicto, mas Jermaine pode desfalcar os donos da casa e iniciar um possível pesadelo para os torcedores de Indianápolis.

Perder seu principal jogador a um mês dos playoffs é tudo que os Pacers mais temem. Afinal, a lembrança traumática da última temporada ainda está viva. Foi feio o que aconteceu com o time após o All-Star Game de 2003. A derrocada culminou com a eliminação do mata-mata, no primeiro round, diante do Boston Celtics.

Experiência semelhante tem vivido o New Jersey Nets, em escala até maior. O time vai a Chicago hoje com três derrotas seguidas na bagagem e sem o líder Jason Kidd. Também com problemas no joelho esquerdo, o melhor armador da NBA foi inscrito na lista de contundidos na sexta-feira, instalando um certo pânico nos primeiros degraus do Leste.

Por enquanto ninguém assume, mas o fato é que Kidd pode não voltar mais neste campeonato. Os exames devem revelar o destino dentro de três ou quatro dias, e o técnico Lawrence Frank parece preocupado com o risco de a casa cair. “Vamos rezar pela saúde dele”, pediu ontem.

É também o maldito joelho esquerdo, com uma incômoda tendinite, que mantém o principal parceiro de Kidd, Kenyon Martin, fora de combate. Sem a dupla, o time entrou em colapso. O fraco adversário de logo mais é uma boa oportunidade para aplacar o desânimo, mas a esperança continua depositada no departamento médico.

Enquanto isso, o saudável Detroit sobe feito balão em festa junina. Com oito vitórias seguidas e uma defesa de dar medo em qualquer adversário, os Pistons têm esta semana um par de desafios indigestos. A primeira escala é hoje, em New Orleans. Na quarta posição, os Hornets sofrem com a ausência do astro Jamal Mashburn (outra vítima de um joelho rebelde). Na quinta-feira, é a vez do campeão San Antonio Spurs, desafio de peso para qualquer garrafão.

Mantendo o bom ritmo na viagem, o Detroit terá grandes chances de partir para cima do Indiana na disputa pelo topo da conferência. A diferença atual é de cinco jogos, o que denota um conforto razoável para os Pacers. Mas a lesão de O’Neal e a boa fase dos Wallaces abrem o leque para uma corrida emocionante nas rodadas finais.

Entre enterradas, rebotes, tocos e sessões de fisioterapia, a sorte está lançada no estranho Leste.

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Na nossa TV, Spurs e Wolves cruzam os bicos numa partida que promete. Olho na tela.

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foto . cbs/sportsline

21.3.04



BOLÃO REBOTE ))) PLAYOFFS 2004
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))) Aposte e ganhe uma camisa 31 do Nenê


Foi dada a largada.

Está aberto o Bolão Rebote Playoffs 2004.

Nos próximos dez dias, todos os leitores estão desafiados a cravar os oito classificados em cada conferência, na ordem da tabela. O vencedor fatura um prêmio que faz o esforço valer a pena: uma camisa oficial do nosso bravo Nenê, do Denver Nuggets. Para combinar com o número estampado nas costas, 31 de março é a data-limite para o envio dos palpites. Quem quiser arriscar antes, no entanto, leva vantagem no critério de desempate. Leia o regulamento na crônica que abre esta página, dê um lustre na bola de cristal e capriche no arremesso.

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foto . nbae

20.3.04



. bloco de notas
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todo sábado, um passeio rápido pela liga

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Yao e Charles Oakley: unidos contra Shaq


p e s o

“Yao Ming não precisa mais se preocupar com Shaquille O’Neal”. Foi com essa banca que o veterano Charles Oakley aportou em Houston, com um contrato de dez dias na bagagem. Com Taylor, Cato e Weatherspoon às voltas com lesões, o técnico Jeff Van Gundy viu a força da ala escorrer pelos dedos e buscou socorro no velho parceiro de New York Knicks. Aos 40 anos, Oakley chega mais magro e cheio de vontade, a ponto de surpreender o pivô chinês, que sempre acompanhou seu basquete nos tempos de Nova York. “Quer dizer, mais as lutas do que o basquete”, brincou Yao com o assistente Patrick Ewing. O clima de bom humor do novo Rockets ganha sua primeira prova de fogo amanhã, com uma pedreira em Sacramento.

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c o n f i a n ç a

Por falar nos Kings, foi gloriosa a vitória de ontem sobre o Indiana, naquela que pode ter sido uma prévia das finais da NBA. O tiro certeiro de Mike Bibby no último segundo assegurou a felicidade dos visitantes, que se mantêm com certa folga na liderança do Oeste. Folga maior ainda têm os Pacers, disparados no Leste. Mesmo assim, tenho lá minhas dúvidas sobre a confiança do público nos dois times. Para atravessar o playoff, os dois terão de superar um adversário extra: o descrédito. Basta puxar pela memória. O desfecho constrangedor da última temporada deixa o torcedor de Indianápolis com um pé atrás, e o mesmo vale para a turma da Califórnia, sempre acusada de amarelar em situações decisivas.

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a l e r t a

Quem anda caindo pelas tabelas é o Minnesota, que perdeu seis das últimas dez e se distanciou do líder. A chama revelada na primeira metade do campeonato parece causar agora um incêndio perigoso. Diante de rivais fortes, os Wolves têm mostrado dificuldade em superar momentos adversos da partida. Uma breve seqüência de erros é o bastante para tirar a equipe dos trilhos. A partir daí, cada um passa a querer decidir o jogo sozinho, e a casa cai invariavelmente. Flip Saunders tem menos de um mês para azeitar a máquina a caminho dos playoffs. Outra eliminação na primeira rodada seria uma punhalada de conseqüências imprevisíveis.

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p u l s o

Ao que tudo indica, Allen Iverson vai mesmo acompanhar o mata-mata no sofá de casa. Afundado em conflitos internos, o Philadelphia não consegue se aproximar da zona de classificação. O motivo é óbvio: com a briga declarada entre o craque do time e o técnico Chris Ford, o elenco se divide e cada partida vira um desafio de superação. Cabe aí uma pergunta simples: o que faz a diretoria diante do imbróglio? Com a crise batendo à porta, não dá para ficar inerte. Ou demite o treinador, ou dá uma chamada em Iverson. Do jeito que está, fica difícil sonhar com a segunda fase.


((((( z o n a ))))) ((((( m o r t a )))))

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* Com três vagas abertas na seleção americana que vai a Atenas, Shaquille O’Neal e Kevin Garnett foram convidados oficialmente para participar dos Jogos Olímpicos. Nenhum dos dois respondeu ainda, mas os dirigentes estão otimistas, à espera do sim.

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* Se tudo correr como planejam os cartolas, a terceira vaga no Dream Team pode ser do calouro LeBron James.

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* Uma cotovelada em Derek Anderson custou um jogo de suspensão a Ron Artest. Em Indiana, tem gente preocupada com a recaída.

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* O New York Knicks realmente acredita que ainda é possível recuperar Vin Baker?

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:) APLAUSOS para o Denver Nuggets, que saiu na frente na disputa por Kobe Bryant. O armador disse abertamente que estuda a possibilidade de assinar com o time do Colorado (justamente o estado onde responde por crime de estupro).

:( VAIAS para o Phoenix Suns, que não consegue largar a lanterna do Oeste. Não é possível que, com um elenco pra lá de razoável, o time não seja capaz de ultrapassar Clippers, Warriors e Sonics.

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fotos . nbae

19.3.04



muralha azul
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))) Perguntem a Jefferson o que ele
achou de ter Wallace pela frente



Noite de quinta-feira na Continental Airlines Arena. Quando faltavam 13 segundos para a sirene final, o New Jersey Nets se apressou em fazer uma falta e mandar o adversário para a linha de lances-livres. Ainda deu tempo de subir ao ataque pela última vez e, no ato derradeiro da partida, cumprir uma missão curiosa: quebrar a barreira dos 70 pontos. O tapinha de Aaron Williams caiu e deu tudo certo, a não ser por um singelo motivo.

Àquela altura, jogo encerrado, o placar do Detroit Pistons era de 89.

A ansiedade para ultrapassar as sete dezenas mesmo diante de uma derrota vergonhosa em casa tem uma explicação um tanto esquisita. Nas últimas cinco partidas, o Detroit havia conseguido manter os rivais abaixo dos 70, recorde absoluto na história da NBA. Esperto, o New Jersey apelou para um recurso batido e evitou tal humilhação. Ótimo, mas de que adianta?

“Talvez quebrar nossa seqüência tenha sido mais importante para eles do que vencer o jogo. Tudo bem, deixe que eles se preocupem com isso. Nós simplesmente conseguimos o que queríamos”, provocou o atacado Rasheed Wallace, principal responsável pela boa fase dos Pistons.

Com a sexta vitória seguida, o Detoit garantiu matematicamente a classificação para os playoffs. Motivos para sorrir não faltam. Com uma endiabrada dupla de Wallaces (Sheed e Ben) embaixo do aro, criou-se uma muralha quase intransponível.

Antes de a bola subir, ainda no vestiário, o técnico Larry Brown escreveu a receita na lousa branca: “Façam deles um time de arremessos, não um time de bandejas”. Assim foi feito. Com o garrafão trancado, o New Jersey não funcionou. Durante os dois primeiros quartos, o Detroit não permitiu uma cesta sequer em contra-ataques.

Por mais que melhore sua campanha, o Detroit não vai conseguir passar o New Jersey na tabela. As equipes estão em divisões diferentes, e os Nets só poderiam ser batidos pelos Hornets, que continuam bem atrás. Ainda assim, terminar com mais vitórias vale a pena a partir da segunda fase do mata-mata, quando a campanha passa a decidir o mando de quadra, independentemente de divisões.

Por essas e outras, estão colhidos os frutos do cartola Joe Dumars, que não pensou duas vezes em buscar Rasheed num momento em que ele parecia ser um peso morto para a liga. Golpe de mestre, que certamente vai render dividendos no futuro próximo.

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foto . cnn/sports illustrated

18.3.04



BOLÃO REBOTE ))) PLAYOFFS 2004
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Daqui a um mês, a NBA separa o joio do trigo e abre as cortinas para os playoffs. Cheia de atrativos, a temporada regular caminha para a reta final imersa em dúvidas e expectativas. Das 29 equipes que deram a largada em outubro de 2003, apenas 16 ganharão o privilégio de brigar por um objetivo comum: erguer o belo troféu dourado, hoje em poder do campeão San Antonio Spurs.

De olho no clima de competição, o Rebote convoca os leitores para uma disputa. Começa neste fim de semana o BOLÃO PLAYOFFS 2004.

Para testar o conhecimento e a sorte de quem costuma passear por esta página, está lançado o desafio: quem é capaz de prever os oito classificados de cada conferência? E a ordem dos times na tabela?

Os interessados em participar do concurso vão mandar seus palpites por e-mail. A corrida começa no domingo, quando divulgarei aqui o endereço, o regulamento, o prazo para as apostas e os prêmios para os vencedores.

Até lá, podem começar a analisar a tabela.

Amanhã, voltamos às quadras para falar de basquete. Afinal, é isso que interessa, certo?

Abraços,

Rodrigo Alves

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16.3.04



Caros,

Acho que devo satisfações.

O trabalho como jornalista tem consumido meu tempo num nível acima do esperado. Pode ser só uma fase, mas sei que as atualizações do Rebote ficam prejudicadas. Diante da opção de enterrar o site, optei por mantê-lo no ar mesmo com o risco de furos esporádicos (como este dos últimos dias).

Garanto que não vai faltar esforço pela atualização diária, e espero que os amigos possam compreender eventuais faltas.

Na quinta-feira, voltamos à carga.

Abraços,

Rodrigo Alves

12.3.04



entrevista: vlade divac & brad miller
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Na primeira metade da temporada, a ausência do astro Chris Webber forçou o técnico Rick Adelman a acomodar dois pivôs no garrafão do Sacramento Kings. O primeiro, Vlade Divac, carregava nas costas 15 anos de experiência. O segundo, Brad Miller, enfrentava o desafio de deixar o fraco Leste rumo ao poderoso Oeste. Entrosados embaixo do aro, os dois acertaram os ponteiros e ajudaram a levar os Kings ao topo da NBA. Com a volta de Webber, caíram os minutos em quadra, mas a produção continua em alto nível. Em entrevista ao escritório da NBA para a América Latina, Divac e Miller falam sobre a expectativa dos playoffs, a globalização do basquete e os projetos fora da quadra.

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))) BRAD MILLER

No ano passado, você jogava pelo Indiana Pacers. Agora, está fazendo um trabalho formidável em Sacramento, e por isso chegou ao All-Star Game. O que mudou nesta viagem do Leste para o Oeste?
É bem diferente dos tempos de Indiana. No Leste o contato é maior, os jogadores se empurram mais embaixo do aro. Na conferência Oeste, o jogo é um pouco mais aberto.

Depois de 62 partidas, os Kings estão no topo da NBA. Qual é a importância de ficar em primeiro e garantir o mando de quadra ao longo dos playoffs?
É importantíssimo, especialmente pela torcida que temos em Sacramento. A verdade é que nem posso imaginar como será a Arco Arena no mata-mata. Os fãs nos apóiam muito e tenho certeza de que vibrarão muito mais na próxima fase.

Kings e Pacers lideram suas conferências hoje. Como seria enfrentar sua ex-equipe na final?
Ainda falta muito para as finais. Primeiro temos de jogar os playoffs. Em todo caso, se isso acontecer, eu não tomaria como algo pessoal.

Em outras temporadas, o time sentiu falta de um pivô dominante. Com você e Divac, o problema parece solucionado. O que fez para se adaptar ao esquema e dar a solidez necessária na parte defensiva?
Nada especial. Só tento fazer o que a equipe precisa para ganhar. Pelo meu estilo de jogo, tento me concentrar em aspectos como a defesa, os rebotes e o bom aproveitamento de arremessos.

Antes de assinar contrato com o Charlotte Hornets, em 1999, você passou uma temporada na Itália. Como foi esta experiência no basquete internacional?
Foi muito bom. Aprendi muitas coisas, mas agora não penso em voltar. Gosto mais de jogar na NBA. Esta é a melhor liga do mundo, e farei o impossível para jogar muitos anos aqui. Hoje temos atletas de todo o mundo na liga e isso se dá porque o basquete é praticado nos quatro cantos do mundo.

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))) VLADE DIVAC

Com o fim da carreira se aproximando, muitos atletas optam por voltar às origens e procuram os clubes que os revelaram. Isso aconteceu, por exemplo, com o lituano Arvydas Sabonis. Voltar à Iugoslávia é uma possibilidade para você?
Não sei, é muito difícil. Seria encantador voltar ao meu país e me aposentar jogando pelo meu clube, mas não sei. Acho que será muito difícil fazer isso. O que farei, com certeza, é disputar uma partida de despedida com o pessoal de lá.

Você anunciou que não vai participar das Olimpíadas. Trata-se de uma despedida definitiva ou as portas da seleção estarão abertas depois de Atenas?
É definitivo. Já dei o melhor de mim para a seleção. Agora é hora de os mais jovens jogarem.

Fora da quadra, você optou pelo mercado de restaurantes. O que o levou a esta escolha?
De fato, é um mercado complicado, mas fica mais fácil quando tem gente trabalhando para você. É assim no meu caso. Minha esposa é quem fica encarregada dos negócios. Eu só vou lá para comer, e não me encarrego da administração.

Então Divac é um autêntico capitalista.
Sim, totalmente. Minha esposa é quem cuida do restaurante.

Você tem feito atividades na TV e no teatro. Vai seguir esta carreira quando parar de jogar?
Acho que não. Na verdade, não me vejo fazendo isso no futuro. Quando você é um jogador de basquete profissional da NBA, as pessoas te chamam para fazer participações em projetos. Faço porque me divirto, mas não me vejo fazendo isso depois de me aposentar.

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fotos . nbae

11.3.04



noite mágica, ressaca inevitável
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))) Nem os 62 pontos deixaram T-Mac feliz


Pobre Gilbert Arenas, que escolheu logo a noite de ontem para marcar 40 pontos. Por mais espetacular que tenha sido a atuação do jovem armador na derrota do visitante Washington Wizards para o Orlando Magic, o esforço ficou parecendo brincadeira de criança. Do outro lado da quadra, o que se viu foi uma performance quase inacreditável.

Senhoras e senhores, palmas para Tracy McGrady.

Dez rebotes, cinco passes e surreais 62 pontos.

A atuação que sacudiu a Flórida é digna de deixar boquiabertos até os fãs mais crédulos. Tanto que me fugiu da memória a última vez em que tal marca havia sido atingida. Está lá nos alfarrábios, que não mentem jamais: em 1994, o mestre David Robinson cravou 71 pontos na última partida da temporada regular, uma vitória fácil e arrastada sobre o Los Angeles Clippers.

A casa das seis dezenas foi quebrada novamente em 2000, quando Shaquille O’Neal registrou 61, de novo contra os Clippers, coitados. Ironia do destino, a marca de T-Mac entra para os anais do basquete como a mais alta do Orlando, tirando justamente de Shaq o registro histórico: em 1994, o pivô ainda jogava pelo Magic quando anotou 53 contra o Minnesota Timberwolves.

Agora imaginem onde McGrady poderia chegar se não tivesse descalibrado a mão na reta final da partida. O craque errou dez de seus últimos 11 arremessos e desperdiçou nove lances livres. Só aí seriam mais 29, que jogariam a pontuação para 91.

Levando em conta que o placar foi de 108-99, percebemos que todos os colegas de T-Mac somaram apenas 46 pontos. Nas arquibancadas do TD Waterhouse Centre, cerca de 13 mil sortudos viram um espetáculo único, protagonizado em monólogo por um artista de elite.

Para ofuscar a festa, só mesmo uma boa dose de realidade. O Magic cai pelas tabelas de forma vergonhosa e, por conta disso, McGrady fica longe da disputa pelo título de MVP. Ciente de seu papel, o líder do time driblou a euforia e encerrou a noite em tom triste, na sala de entrevistas.

“De fato, não me diverti. Geralmente, quando faço um grande jogo como este, o público vai ao delírio e eu acompanho, mas hoje não consegui. Olho para a nossa campanha e vejo que não vamos a lugar nenhum após a temporada regular. É frustrante”, lamentou.

Com 19 vitórias e 48 derrotas, o time da Flórida continua firme na lanterna da NBA. Definitivamente, não é este o lugar mais adequado para um atleta do calibre de Tracy McGrady.

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Antes da façanha de David Robinson, foi o próprio Orlando que sofreu a maldição das seis dezenas. Em janeiro de 1993, o mestre Michael Jordan marcou 63 pontos contra o Magic.

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E por falar em craques, o que dizer de Kobe Bryant? O departamento médico do Los Angeles Lakers alardeou que uma contusão no ombro o deixaria longe das quadras por um mês. Pois o indivíduo só agüentou ficar afastado por duas partidas. Com uma proteção no braço, voltou ontem e anotou 18 pontos, dez rebotes e cinco assistências para bater os Celtics em Boston.

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foto . cbs/sportsline

9.3.04



Por singelos motivos de força maior, o Rebote ficou cinco dias fora do ar. Rodrigo Alves.

5.3.04



salt lake pede passagem
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))) Kirilenko começa a ganhar companhia


Jarron Collins, Tom Gugliotta, Andrei Kirilenko, Sasha Pavlovic e Carlos Arroyo. Com esta linha de frente razoavelmente humilde, o técnico Jerry Sloan segue aprontando seus milagres. Desacreditado desde o início do campeonato, o Utah Jazz ainda briga para manter a freqüência nos playoffs mesmo sem Karl Malone e John Stockton.

Logo mais, a equipe recebe o Indiana Pacers com bons motivos para crer na zebra. Nos últimos quatro jogos, foram quatro vitórias. E não pensem os incrédulos que a seqüência se deu no terreno das galinhas mortas. Tombaram diante da turma de Sloan o Seattle Sonics (duas vezes), o Sacramento Kings e o Detroit Pistons.

É bem possível que a alegria tire licença hoje e não volte nas próximas duas rodadas, quando o time enfrenta Blazers e Lakers. A fagulha de boa fase, no entanto, foi o bastante para acender a luz no fim do túnel. A nona posição do forte Oeste significa muito, principalmente quando notamos que o Denver Nuggets (8º) anda tropeçando a torto e a direito.

Ainda é cedo para creditar o mérito à diretoria, mas as mudanças no elenco têm dado certo. Em Salt Lake City, Gugliotta respira ares que não encontrava no banco do Phoenix Suns. Virou titular e, com a confiança da comissão técnica, tem contribuído, não tanto com pontos (média de 3.5) mas com rebotes (5.3). No mínimo, funciona como talismã, invicto desde a chegada à nova cidade.

Na carona do veterano, chegou também o jovem Gordan Giricek, que ainda amarga a reserva, mas pode passear entre os titulares muito em breve. Raja Bell, outra cara nova, abandonou o posto de coadjuvante em Dallas para assumir um papel importante em Utah. No caminho inverso, o pivô Greg Ostertag foi rebaixado para o banco, mas a reação foi surpreendente: como suplente de Collins, o grandalhão tem rendido muito mais.

A esta massa de bolo, adicionamos o talento consolidado de Harpring e Kirilenko. Ainda não seria o bastante, se não fosse a estrela de Jerry Sloan, capaz de devolver aos trilhos uma equipe em frangalhos, que até pouco tempo atrás chorava em prantos a perda de dois ídolos eternos.

Recuso-me a escolher um Cristo para sair do páreo, mas não dá para torcer contra o Jazz nesta corrida rumo ao mata-mata.

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foto . nbae

4.3.04



desfecho sintomático
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))) Mashburn vs Brunson: um duelo injusto


Faltavam apenas nove segundos para o fim da prorrogação quando Jamal Crawford acertou um belo arremesso de longa distância e se inflou de otimismo. Com 34 pontos, o esforçado armador preparava o espírito para encarar um segundo período extra. Seria um baita lucro. Afinal, o Chicago Bulls estava longe de casa, mais precisamente em New Orleans, e só o fato de arrastar os Hornets a tal ponto já valia como uma vitória.

Para facilitar ainda mais a vida de Crawford, o time da casa abriu mão do direito de pedir tempo. Saiu do fundo da quadra e trabalhou a bola na ala esquerda. Jamal Mashburn foi acionado na linha de três quando o tempo já escorria pelo relógio. Com 2.03m, o ala tinha pela frente o limitado Rick Brunson, de 1.92m. Não foi muito difícil equilibrar o corpo, fazer a finta para a direita e acertar o tiro, com a sirene ao fundo, de trilha sonora.

Cá estamos diante de dois pontos:

1) Mashburn é uma espécie de cereja num bolo bem formado. Algo como um Chris Webber de New Orleans. Perdeu grande parte da temporada se recuperando de uma contusão, voltou há pouco e começa a se encaixar num time que já vinha bem. Assim como o colega de Sacramento, é um craque. Decide jogos. Tem crachá permanente para circular no salão nobre da NBA.

2) Brunson é uma espécie de ovelha negra numa família de ovelhas cinzas. Pouca gente se salva naquele elenco, mas nem os Bulls merecem ter um sujeito desses em quadra, especialmente nos momentos decisivos de uma prorrogação. Para quem não se lembra, o rapaz teve passagem medíocre pelo United Center há dois anos. Transferiu-se para o Toronto Raptors, onde conseguiu se afundar ainda mais. Em dezembro, o Chicago foi buscá-lo de volta, abrindo mão de Roger Mason Jr, que pelo menos é jovem e ainda pode aprender alguma coisa.

Mesmo com direito a um período extra, o jogo de ontem teve um desfecho digno das trajetórias de duas equipes que seguem caminhos opostos. Com vaga praticamente garantida nos playoffs, os Hornets de Mashburn brigam pela quarta posição do Leste. Os Bulls de Brunson, coitados, se estapeiam com o Orlando para ver quem fica com a lanterna da NBA.

A uma hora dessas, Jamal Crawford deve estar se perguntando por que a diretoria não cumpre logo a promessa de mandá-lo para outra vizinhança.

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Hoje à noite, o encrenqueiro Rasheed Wallace volta a Portland, agora envergando a camisa 30 do Detroit Pistons. Com transmissão em rede nacional para os Estados Unidos, a partida tem sido promovida de forma intensa desde o início da semana. A promessa é de arquibancadas lotadas e quadra em ebulição, principalmente após o trauma de ontem, quando outro ex-Blazers voltou ao ginásio. Sob vaias sonoras a cada vez que tocava na bola, Bonzi Wells não se fez de rogado: marcou 28 pontos e comandou uma vitória contundente do Memphis Grizzlies.

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fotos . nbae

3.3.04



o que faltava
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))) Brand sabe que Webber voltou


A foto que ilustra esta crônica flagra uma cena banal, porém congelada justamente no instante em que dá margem à fantasia. O que se vê é apenas uma disputa embaixo do aro, mas a lente parece captar um retrato, em tons exagerados, da volta de Chris Webber às quadras.

Foi ontem à noite, em Sacramento.

Diante de um Webber sereno, braço erguido e autoridade incólume, vemos um Elton Brand em aparente pânico, sem saber o que fazer com a bola. Claro, trata-se de realidade deturpada pelas expressões daquele mísero centésimo de segundo. Por uma feliz coincidência, os riscos da face evidenciam um contraste que talvez só exista aos olhos de quem enxerga.

No terreno das metáforas, contudo, a imagem diz muito sobre o retorno do craque. Na primeira vez em que trocou os trajes de passeio pelo uniforme nesta temporada, Webber mostrou que o poder de fogo continua intacto. Os efeitos da grave cirurgia no joelho, que renderam longos meses de reabilitação, não deram as caras contra o Los Angeles Clippers, numa Arco Arena transbordando de gente.

Aos incrédulos, a linha de estatísticas fala por si: 26 pontos, 12 rebotes, quatro assistências, uma roubada e 12 de 18 arremessos convertidos. Tudo isso em apenas 29 minutos, com ataduras enormes envolvendo os dois joelhos.

Que tal?

O pivô Brad Miller, que migrou para o banco e abriu vaga para o titular, revelou-se igualmente útil, com 23 pontos e nove rebotes. Vlade Divac, outro que disputa posições, beirou o triple-double, com 12 pontos, 10 rebotes e oito assistências.

Além de Miller, o Sacramento usou apenas dois reservas (Anthony Peeler e Rodney Buford). O esquema azeitado de Rick Adelman rodou pelas mãos de oito atletas, e não pareceu desajeitado com a inclusão de um sujeito que só conseguiu estrear na 59ª partida da equipe.

Webber não está 100% e segue se recuperando, passo a passo. Ainda assim, o impacto da presença é imediato. O favoritismo ao título, que já existia antes, só faz crescer agora.

Convém ressaltar que o adversário de ontem era fraco e a vitória foi apertada, 113-106. Tudo bem. Senhor da razão, o tempo há de reintegrar o bom filho ao ambiente da casa. Importa que, a partir de agora, os adversários passam a ter bons motivos para abrir os olhos diante dos Kings. Tal como fez Elton Brand diante da câmera.

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foto . thearon henderson. cbs sportsline

1.3.04



ilusões geográficas
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))) Contra cachorro grande,
o New Jersey tem fracassado



Quando venceu 14 partidas seguidas, o New Jersey Nets foi alçado, com méritos, à condição de uma das forças do Leste. A única brecha para a desconfiança se concentrava num fato singular: 13 das vítimas eram companheiros de conferência. Do Oeste, o único da lista foi o Houston Rockets.

Sem desmerecer o valor da seqüência, restou a dúvida sobre como a esquadra do novato Lawrence Frank se comportaria diante de rivais mais encorpados. Pois o time teve, nos últimos dias, duas chances de provar que tem calibre para passear na elite da liga.

Fracassou em ambas.

Contra os Timberwolves (quarta-feira) e contra os Lakers (ontem), o New Jersey levou duas enfiadas daquelas que deixam a equipe torta na saída para o vestiário. Na primeira parada, foram 13 pontos de diferença, mas o placar é claramente enganoso. Com Sam Cassell lesionado e Latrell Sprewell em noite nada inspirada, o Minnesota precisou apenas de uma dupla de coadjuvantes (Fred Hoiberg e Troy Hudson) para interromper a série de triunfos do adversário.

Diante do Los Angeles, o estrago foi maior: 17 pontos, mesmo com a crise deflagrada por Gary Payton, que andou reclamando sobre o papel que vem exercendo no esquema ofensivo. Kobe Bryant marcou apenas 11 pontos e Shaquille O’Neal não passou de 19. Foi o bastante para dar um passeio.

Os resultados reforçam a velha tese do abismo entre as duas conferências. No confronto direto, as diferenças ficam nítidas. Para pintar o quadro com outras cores, não basta chutar cachorro morto.

Os Nets têm agora uma grande chance para iniciar a revanche. A partir de amanhã, são quatro jogos seguidos no Oeste, contra Nuggets, Suns, Warriors e Lakers. Os três primeiros compromissos representam uma oportunidade de outro para começar a virada. Qualquer tropeço dará ainda mais munição aos críticos de plantão.

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foto . nbae