29.3.04
a novela do cartola
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))) Posey e Outlaw: duas apostas de West
Por mais de uma vez, dei a mão à palmatória implacável de Jerry West. Não é vergonha nenhuma. Quando começou a construir o Memphis Grizzlies, sinceramente achei que o cartola estava jogando na latrina toda a glória acumulada à frente dos Lakers nos tempos de showtime. As negociações pareciam erros primários, os reforços eram inexpressivos, ninguém entendia nada. Com aquele olhar travado, o sujeito parecia caduco. De lá, a imprensa bateu forte. De cá, eu segui a correnteza.
Ora, caducos estamos todos nós.
Muito antes do que se esperava, a loucura de West começa a dar frutos saborosos no Tennessee. Em vez de apenas evitar outra temporada vergonhosa, a franquia conseguiu o que parecia impossível: furar o instransponível top-5 do Oeste. O Dallas Mavericks já ficou para trás, e o San Antonio Spurs que abra o olho enquanto é tempo.
A turma de Los Angeles, que guarda lembranças de West, pisou fundo no acelerador e engatou uma bela seqüência de vitórias. Parece livre da ameaça dos emergentes comandados por seu antigo diretor, assim como Kings e Wolves.
À exceção dos três primeiros colocados da conferência, não há quem não sinta uma ponta de dor de cabeça ao pensar nos Grizzlies. Ontem, o time-sensação da temporada cruzou fronteiras e desfilou seu talento no Canadá, batendo o Toronto por 94-88. Foi a quinta vitória seguida.
O segredo? Basicamente, jogo de equipe. Como não podia deixar de ser, o basquete solidário do Memphis é comandado por um craque das pranchetas. Aos 72 anos, Hubie Brown foi mais uma aposta certeira de Jerry West, que não hesitou em pescá-lo na aposentadoria e lhe confiou a missão de azeitar um imprevisível grupo de garotos.
A escolha não podia ter sido melhor. Desde o início da temporada, Brown tem dado a seus colegas treinadores uma aula de rotação no elenco. A prova maior está no tempo que cada atleta gasta em quadra. Pau Gasol, craque da companhia, é o único que joga mais de 30 minutos por noite. Além dele, outros quatro mantêm suas médias de pontos em dígitos duplos: James Posey, Bonzi Wells, Mike Miller e Jason Williams. Sem falar nos sempre úteis Stromile Swift, Shane Battier e Bo Outlaw.
Com as tarefas tão divididas, as definições de titular e reserva vão por água abaixo. Cada um tem sua oportunidade, seu momento de estrela. É mais ou menos como uma novela de Manoel Carlos. Noveleiros de plantão, não fujam da raia: lembram-se de Mulheres apaixonadas? A cada capítulo, um protagonista diferente.
Assim é o Memphis Grizzlies.
A garantia do brilho diário recai apenas sobre dois nomes: o técnico Brown, que faz o roteiro andar, e o cartola West, que foi buscar os atores certos.
Ah, eles vão fracassar nos playoffs? E daí? No campeonato em que todas as expectativas circulavam entre um Kobe acusado e um LeBron celebrado, os rapazes do Tennessee já cumpriram sua missão. Roubaram, ao menos por um tempo, o papel principal. Manoel Carlos assinaria embaixo.
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foto . nbae
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