30.1.04



nada mudou. por enquanto
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))) Carter e Garnett lideraram a votação,
na qual o chinês Yao Ming superou Shaq



Passou um ano e nada mudou. O anúncio dos titulares do All-Star Game 2004 é um espelho do que se viu em 2003: são os mesmos dez nomes, sem uma mudança sequer. As surpresas ficam reservadas para a escolha dos reservas, no dia 3 de fevereiro. Aí sim, uma boa leva de estreantes deve oxigenar a competição.

Enquanto os técnicos não decidem quem completa os elencos, seguimos no ramerrame, adulterando levemente o ditado: a voz do povo é a voz da paixão. Nada de critérios técnicos ou apostas ousadas. O voto popular recai, invariavelmente, sobre os grandes ídolos. Mesmo que eles não estejam brilhando tanto assim.

Vejam o caso de Vince Carter, seguidamente atacado pela mídia especializada, mas líder absoluto no total de votos das duas conferências. Quem acompanha os escritos deste canto sabe que meu apoio ao sujeito é irrestrito, ao menos neste caso. All-Star Game é um palco para quem dá espetáculo. E ninguém supera Carter na arte das enterradas.

O ala-armador do Toronto Raptors aparece pela quinta vez no jogo das estrelas e se une a Allen Iverson (também com cinco participações), Tracy McGrady (quatro), Jermaine O’Neal (três) e Ben Wallace (duas) na esquadra do Leste. Na outra ponta, o Oeste conta com Kevin Garnett (recordista entre os titulares, com sete aparições), Tim Duncan (seis), Steve Francis (três), Kobe Bryant (seis) e Yao Ming (duas).

A eleição de Ming merece um capítulo à parte. Foi a única surpresa do pleito, já que Shaquille O’Neal mantinha a dianteira nas últimas parciais. A virada na reta final despertou a veia debochada do pivô do Los Angeles Lakers: “Que ótimo. De onde ele vem, existem dois trilhões de pessoas!”

Análise torta de perdedor. Na disputa online que se espalha pelo mundo, abrindo espaço para os chineses atacarem em massa, foi Shaq quem venceu. Yao se recuperou na votação em papel, feita apenas nos Estados Unidos e no Canadá. Sinal dos tempos?

Será que a turma anda se cansando das seguidas lesões de O’Neal? Será que isso é reflexo de toda essa história de montar o próprio calendário, desdenhar dos companheiros, brigar com Kobe? Bem, prefiro acreditar em outra corrente. Mais que qualquer tipo de desprezo, a decisão ilustra a evolução cristalina de Yao.

Em sua segunda temporada, o gigante oriental mostra maturidade e total adaptação ao estilo americano. Nas últimas rodadas, as médias subiram assustadoramente, quebrando a barreira dos 20 pontos e 10 rebotes. O aproveitamento de arremessos (54%) só perde para o próprio Shaq e para o brasileiro Nenê. Dentro do garrafão, o chinês está se tornando uma presença sólida e ameaçadora.

Que assim seja. Afinal, a NBA precisa, com urgência, renovar sua escola de pivôs. Não dá para desprezar o estilo clássico de um atleta com 2.29m.

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foto . nbae

29.1.04



a cereja do bolo
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))) Mashburn voltou tinindo


Escorado na solidez de Baron Davis e na flacidez dos adversários diretos, o New Orleans Hornets não parece ter sentido falta de seu maior craque, Jamal Mashburn, alijado por uma cirurgia no joelho. Em três meses de campeonato, conseguiu se manter na elite do Leste, dando sinais de que a briga pelo título da conferência é um sonho mais do que palpável.

Pois ontem Mashburn voltou. Foi como se nunca tivesse saído. Enfiou o time no bolso e fez saltar para outro nível as esperanças de chegar às finais da NBA.

Contra o surpreendente Milwaukee Bucks, Davis continuou brilhante, com 23 pontos e 10 assistências. Mas foi Mashburn que selou o destino da partida, anotando os últimos 13 pontos do New Orleans, incluindo um arremesso difícil a 12 segundos do fim, que garantiu a vitória apertada por 101-100.

Com o principal jogador de volta ao elenco, os Hornets tornam-se um dos melhores times da liga. Esquema azeitado, defesa competente e ataque bem distribuído formam uma receita capaz de perturbar o descanso do Indiana Pacers na liderança do Leste. A mudança iminente para o Oeste, marcada para a próxima temporada, reforça a urgência de uma boa campanha este ano. Se o troféu não vier agora, sabe-se lá quando virá.

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O retorno de Mashburn deixa Chris Webber como único craque ausente na temporada. Perto da volta, o ala do Sacramento Kings vive situação semelhante à do colega. O time faz uma excelente temporada e aguarda sua reintegração como uma espécie de cereja do bolo na arrancada para os playoffs.

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Por falar em retornos, Shaquille O’Neal voltou tímido, com sete pontos e cinco rebotes em 18 minutos. Foi o suficiente para o Los Angeles Lakers bater o Seattle Sonics no Staples Center. Gary Payton marcou 24 contra seu ex-time.

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foto . cbs/sportsline

28.1.04



bandeira fincada no topo
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))) Sam Cassell fez de seu técnico um All-Star


A notícia se esgueirou pelos sites com total discrição. Uma nota aqui, um registro ali, e nem todo mundo ficou sabendo que Flip Saunders foi confirmado como técnico da seleção do Oeste no All-Star Game. Grande coisa, dirá o leitor desatento. De fato, o relevante não é simplesmente um sujeito de terno à frente do banco, gritando para os astros que se divertem em quadra. O que importa, na verdade, é o motivo que concedeu a Saunders tal honraria:

O Minnesota Timberwolves chegou ao topo da NBA.

Por causa disso, o treinador ganha o direito de comandar a conferência na festa do dia 14 de fevereiro. A escalada da equipe à liderança da liga, com 31 vitórias e 12 derrotas, não representa apenas um engravatado feliz. É a colheita gloriosa de sementes plantadas no verão americano. Graças ao trabalho incansável dos cartolas na pré-temporada, o craque Kevin Garnett se viu cercado de talento. Formou um trio de ferro com Latrell Sprewell e, principalmente, Sam Cassell.

Este último, por sinal, tem chances reais de se unir a Garnett e Saunders no All-Star. Parece ter encontrado seu melhor basquete aos 34 anos. Após uma década de carreira, atingiu a inédita média de 21 pontos por noite. Se Steve Francis vai mesmo ser o titular do Oeste, convém a armadores como Steve Nash e Gary Payton abrir o olho. Cassell está crescendo no retrovisor.

Sprewell, por sua vez, foi buscar em Minneapolis a paz que não tinha em Nova York. Com fama de rebelde, integrou-se sem conflitos no esquema tático e passou oferecer uma contribuição sólida, com 17.8 pontos e 4.2 rebotes.

De Kevin Garnett, o que dizer? É difícil escapar da profecia: esta é sua temporada de MVP. Basta colher o exemplo da semana que passou, quando o astro manteve médias de 24.5 pontos, 15 rebotes, 5.8 assistências e 2 tocos, carregando a equipe nas quatro vitórias consecutivas que garantiram o primeiro lugar na tabela. Precisa dizer mais?

Não dá para cravar aqui que o time vai, finalmente, passar da primeira fase dos playoffs. Vamos esperar a segunda metade do campeonato para ver se o nível se mantém. Se a inexperiência em mata-mata vai pesar, só o tempo pode dizer. Em todo caso, os Wolves nunca estiveram tão perto de um título da NBA. Para quem admira o bom basquete, é impossível conter um sorriso.

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Vale lembrar que os titulares do All-Star Game (escolhidos em votação popular) serão anunciados amanhã. No dia 3 de fevereiro, conheceremos os reservas, pescados de acordo com a preferência dos técnicos da liga. E na noite do dia 15, a Rede TV transmite a festa ao vivo. Sorte nossa, ponto para a TV aberta.

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foto . nbae

27.1.04



a voz do manda-chuva
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))) David Stern comemora seus 20 anos de NBA


Corria o ano de 1978 e o então comissário da NBA, Lawrence O’Brien, convidou um amigo para uma missão simples: organizar o departamento jurídico da liga. O contrato previa apenas dois anos de emprego, mas o jovem executivo foi ficando e, em 1984, pulou para o comando da organização. Era David Stern, que completa, no próximo domingo, duas décadas à frente do maior campeonato de basquete do mundo. A jornada começou poucos meses antes do draft que viu o Chicago Bulls escolher Michael Jordan. Tanto tempo depois, o gênio da bola laranja tirou o time de campo, mas Stern se mantém firme no posto, acompanha de perto o surgimento do novo messias, o garoto LeBron James. Aos 61 anos, o comissário olha para trás e constata o óbvio: conseguiu a proeza de fazer da NBA um espetáculo inigualável. Celebrando os 20 anos de trabalho, Stern bateu um longo papo com o jornalista Marc Stein, da ESPN.com. Para que o assunto não fique restrito aos gringos, o Rebote escolheu e traduziu alguns trechos da entrevista. Com a palavra, o manda-chuva.

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Nestas duas décadas de NBA, quais foram os maiores orgulhos e as maiores tristezas do comissário?
Para mim, houve dois grandes momentos de orgulho. O primeiro foi ter sido representado por nossos atletas na conquista do ouro olímpico em Barcelona, em 1992. Naquele momento havia muitas críticas quanto a altos salários, problemas com drogas, mas a marcha de Barcelona foi uma importante afirmação do nosso lugar, mostrando que os Estados Unidos eram grandes. O quadro não era tão negro assim. O outro momento tem a ver com Magic Johnson e o fato de ele ser portador do vírus HIV. Magic alterou o debate sobre Aids neste país. As atitudes mudaram globalmente, e este impacto me deixou orgulhoso. Por outro lado, um dos pontos ruins foi ter de anunciar o fim da carreira de Michael Ray Richardson [uma das primeiras vítimas de drogas na NBA]. Também foi horrível cortar uma temporada pela metade em 1998, por causa de discussões salariais.

A implementação do limite salarial está na sua lista de motivos para se orgulhar?
O limite é essencial para o sucesso a longo prazo, para tornar viável qualquer liga esportiva. Assim, os times bem administrados conseguem competir.

Por que se recusa a usar a palavra “legado” quando fala sobre seu passado na NBA?
Porque estou muito focado no presente, no agora. Não vou escrever um livro. Aprendi há muitos anos que, se você perde tempo tirando fotografias, não aproveita a viagem. Tenho o melhor emprego do mundo e estou aproveitando. Não quero pensar no aspecto histórico do meu trabalho.

O que o prende à NBA? Nunca pensou em comandar outro tipo de organização?
Na verdade, o que me prende aqui é o fato de que aqui tudo está sempre mudando, e eu me divirto muito com isso.

Não há nenhuma aspiração política?
Nenhuma. Apóio determinados candidatos, mas nunca vou me envolver com política.

Como é seu contrato com a NBA? É um documento oficial?
Não. Tenho apenas um acordo anual. Isso foi uma reivindicação minha. Eu e os donos da liga sempre temos a opção mútua da separação.

Na sua avaliação, o que é mais provável: uma franquia da NBA em Las Vegas ou na Europa? [No meio da semana, os proprietários do Dallas, Mark Cuban, e do Sacramento, Gavin Maloof, apontaram Las Vegas como cidade perfeita para um possível 31º time no campeonato]
Na Europa. Bem, eu falei cedo demais, não sei a resposta. Francamente, tudo é hipotético. Não temos planos de expandir a liga no plano doméstico agora, tenho trabalhado duro para melhorar a qualidade de nossos clubes. Dito isso, sabemos que a Europa é diferente do nosso mercado. Este assunto vai ocupar nosso tempo até que possamos decidir entre fazer negócios lá ou não. Quanto a Las Vegas, sei que é uma bela cidade. Os cassinos são legalizados, incentivados pelo governo, mas não atraem nosso interesse.

Quando está sozinho com seus pensamentos, o que o preocupa hoje em dia? A situação de Kobe Bryant, por exemplo?
A reputação de um atleta é um ponto muito sério, mas as pessoas se esquecem de que os escândalos estão em toda parte: na política, na economia, no governo, na cultura. Seres humanos são imperfeitos.

Como advogado, é possível fazer alguma previsão para o julgamento de Kobe?
Bem, vamos ver o que acontece. Não quero avançar muito, mas espero que o caso se resolva logo, favoravelmente a Kobe.

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foto . ap

25.1.04



os trunfos de vlade
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))) A esperteza de Divac irrita os rivais


Na noite de sexta-feira, nem a bela vitória do emergente Memphis Grizzlies sobre o Sacramento Kings aplacou a ira de Lorenzen Wright. Enquanto seus companheiros celebravam o sétimo triunfo seguido, o pivô caprichava na expressão emburrada, afundado no banco de reservas. Havia sido eliminado com seis faltas, e tanta raiva tinha um único alvo:

A catimba de Vlade Divac.

“São inúmeros truques, fingimentos, e os árbitros sempre caem na dele”, esbravejava Wright. “Queria que ele apenas disputasse a partida. Odeio atores. Gritei para o juiz que ele estava fingindo. Não sei atuar.”

De fato, a habilidade cênica que falta em Wright sobra no rival iugoslavo, que encerrou a noite de sexta com 17 pontos e 12 rebotes. Irritar adversários e driblar a arbitragem é uma arte que Divac domina como poucos na NBA. Num tempo em que a liga se rende a pivôs especialistas em distribuir tocos e cotoveladas na mesma escala, esse estilo malandro europeu até que vem bem a calhar. Não é o bastante, contudo, para sustentar uma peça-chave em equipes vitoriosas como o Sacramento.

Na pré-temporada, os Kings pescaram Brad Miller na prateleira dos atletas com passe livre. Houve quem condenasse Divac à aposentadoria. Engano crasso. Miller deu certo, mas não diminuiu em nada a importância do colega, que mantém seu basquete em nível elogiável para alguém que completa 37 anos daqui a uma semana.

Se experiência ganhasse jogo por si só, Larry Bird e Magic Johnson ainda estariam por aí. Ciente da crueldade do tempo, o iugoslavo tratou de escorar sua sabedoria em números. Mantém hoje boas médias de pontos (11.2), rebotes (5.8) e assistências (5.4), mesmo tendo de dividir o garrafão com Miller.

Quando o craque Chris Webber voltar, é bem possível que Divac passe a esquentar o banco. Sorte de gente como Lorenzen Wright. Azar de quem aprecia um basquete maroto.

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foto . nbae

24.1.04



. bloco de notas
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todo sábado, um passeio rápido pela liga

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))) Gasol quer fazer do Memphis uma força no Oeste


a t r o p e l a n d o

Foi uma sexta-feira gloriosa para os meninos do Tennessee. Nem mesmo o melhor time do Oeste intimidou o Memphis Grizzlies, que seguiu firme no galope rumo ao playoff. A vitória de 109-95 sobre o imponente Sacramento Kings foi a sétima seguida, feito jamais alcançado na história da franquia. Méritos para os de sempre (Gasol, Miller, Williams), mas também para James Posey, que limitou Peja Stojakovic a apenas 11 pontos. Mais que cravar o time na oitava posição da conferência, o triunfo de ontem confirma a boa fase da turma jovem comandada pelo escaldado Hubie Brown. A seqüência das últimas quatro vitórias (Sixers fora, Rockets, Lakers e Kings) mostra que a rapaziada não está para brincadeira. A luta continua no domingo, contra outro emergente do Oeste, o Denver Nuggets.

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d e c e p ç ã o

Poucas horas depois da confirmação da venda do New Jersey Nets para um grupo do Brooklyn, o brinde ganhou sabor amargo em Miami. Contra o fraco Heat, a equipe liderada por Jason Kidd perdeu a quinta seguida, desta vez em humilhantes 85-64. Foi o segundo pior desempenho ofensivo dos Nets em todos os tempos. “Estamos mal, mas ainda somos um dos bons times da liga”, esquivou-se Kidd. De fato, o Leste costuma criar aberrações deste tipo. Mesmo em fase crítica, o New Jersey se agarra à liderança da divisão do Atlântico, favorecido pela incompetência dos que vêm atrás.

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s u r r e a l

O paradoxo na tabela ganha ares ainda mais esquisitos quando transferimos a discussão para os playoffs. Os Nets têm hoje a quinta melhor campanha do Leste, mas seriam elevados à segunda vaga se a temporada regular terminasse agora. Culpa da ridícula regra que beneficia os campeões de divisão. Pistons, Hornets e Bucks, em situação melhor, ficariam atrás do New Jersey pelo simples fato de integrarem a Central, liderada pelo Indiana Pacers. Pura injustiça.

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a j u d a

Por falar na turma de Indianápolis, cada vez mais folgada na ponta da conferência, a derrota de ontem para o Houston Rockets mostrou que Jermaine O’Neal precisa de ajuda mais sólida. Não que os companheiros sejam fracos, ao contrário, mas a hora da responsabilidade precisa ser mais dividida. O’Neal marcou 31 pontos e conseguiu escapar razoavelmente bem da marcação de Yao Ming, mas o restante da equipe sucumbiu à forte defesa dos Rockets. Tombo raro para os líderes do Leste.


((((( z o n a ))))) ((((( m o r t a )))))

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* Leandrinho ocupa a quarta posição no último ranking de calouros divulgado pelo site NBA.com. Só perde para LeBron James, Carmelo Anthony e Kirk Hinrich. Na parcial anterior, o brasileiro estava em 28º. Motivado como titular, deixou para trás nomes de peso da posição, como TJ Ford e Raul López.

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* Inquieto no escritório, o presidente do New York Knicks, Isiah Thomas, passou a investir pesado na contratação de Jamal Crawford, do Chicago Bulls.

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* Mais uma recaída no tratamento contra o álcool custou a Vin Baker a suspensão por tempo indeterminado no Boston Celtics. Uma pena.

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* O comentário em Los Angeles é um só: Shaquille O’Neal está saudável e deveria ter voltado há duas rodadas. O pivô faz corpo mole enquanto a equipe, sem Kobe e Malone, segue perdendo um jogo atrás do outro. Ciente da situação, Gary Payton está ficando irritado.

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:) APLAUSOS para Sam Cassell, que aos 34 anos, vive o melhor momento da carreira. Com médias de 20.8 pontos e 7.5 assistências, tornou-se peça fundamental no embalado Minnesota Timberwolves.

:( VAIAS para o próprio Cassell, que gastou marra sem necessidade ao dizer que vem jogando como um All-Star há quatro anos, mas só agora as pessoas perceberam isso.

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foto . cnn/sports illustrated

23.1.04



máquina sem engrenagens
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))) Gary Payton está sozinho
no olho do furacão dos Lakers



No início do campeonato, o Los Angeles Lakers montou uma máquina. A perspectiva de ver em quadra, ao mesmo tempo, astros como Kobe Bryant, Shaquille O’Neal, Karl Malone e Gary Payton abria uma cortina que não se via há muito tempo na NBA. De fato, era um time dos sonhos, com quatro futuros integrantes do Hall da Fama no elenco.

Pois as contusões foram derrubando um a um, sem piedade. Kobe, Shaq e Malone foram vencidos pelos próprios músculos.

Sobrou um solitário Gary Payton.

Coitado.

Com apenas uma de suas estrelas, o Los Angeles Lakers vira um time absolutamente medíocre. Basta conferir a escalação: Payton, Kareem Rush, Devean George, Luke Walton e Stanislav Medvedenko. Foi este time que entrou em quadra ontem, contra o Dallas Mavericks. E perdeu, claro. No banco, estavam Derek Fisher, Bryon Russell, Brian Cook e Ime Udoka.

Quem? Ime Udoka? É, isso mesmo.

Por motivos óbvios, os Mavs de Nash, Nowitzki, Walker, Finley e Jamison (principalmente estes dois últimos, que marcaram 31 e 26 pontos, respectivamente) venceram com autoridade e sem precisar suar a camisa. O placar de 106-87 diz tudo.

Para quem acha que o Dallas não é exemplo e ainda duvida da fraqueza de um time desfigurado, vamos ao retrospecto recente da turma de Phil Jackson. Nas últimas cinco partidas, foram quatro derrotas. A única vitória, por sinal, veio contra o primo pobre Los Angeles Clippers. Fora isso, houve até a proeza de perder em casa para o Phoenix Suns.

Enquanto os atletas se recuperam, o calendário não parece colaborar. Depois de pegar Utah, Seattle e o forte Minnesota, os Lakers embarcam para uma série de sete jogos na estrada.

Kobe pode até voltar amanhã, contra o Jazz. É uma esperança. Se não conseguirem esvaziar a enfermaria e encher a quadra, os tricampeões podem passar de máquina demolidora a saco de pancadas.

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foto . nbae

22.1.04



lebron solitário
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))) Darius Miles vai para Portland


Manhã de segunda-feira, centro de treinamento do Cleveland Cavaliers. Bolas quicando, jogadores em movimento, e nada de Darius Miles. O atraso preocupou o técnico Paul Silas e os dirigentes, que tomaram uma atitude curiosa: mandaram a polícia à casa do atleta para conferir se estava tudo bem.

E estava mesmo. Miles dormia.

Alegou ter esquecido de programar o despertador.

O surreal episódio foi a gota d’água para a negociação anunciada ontem, mandando o habilidoso ala para Portland, em troca de Jeff McInnis e Ruben Boumtje-Boumtje.

Que as coisas não estavam dando certo em Cleveland, todo mundo já sabia. Basta ver os números do ano passado e os desta temporada também. A chegada de LeBron James acendeu a luz no fim do túnel, mas e o resto? Ainda havia peças a ajustar, principalmente no que dizia respeito a Miles e Ricky Davis. Insatisfeitos, os dois rendiam abaixo do esperado e provocavam conflitos internos na equipe.

A missão de eliminar estas duas peças se concretizou ontem. Agora, Davis é um Celtic e Miles é um Blazer. Tudo bem. Mas o que os Cavaliers ganharam em troca?

Por pior que fosse a fase (e a de Davis não era tão ruim assim), a diretoria do Cleveland tinha em mãos dois potenciais bons atletas. Deveria barganhar melhor no mercado. No fim das contas, qual foi a compensação para cercar LeBron? McInnis, Boumtje, Kedrick Brown Eric Williams, Tony Battie. Todos razoáveis. Nenhum realmente bom.

Caminha-se, assim, no sentido inverso ao do Denver Nuggets, que rodeou Carmelo Anthony de talento e agora colhe os frutos com a sexta posição do poderoso Oeste. LeBron precisava muito de reforços, mas não basta contratar um bocado de jogadores corretos, burocráticos. O que importa é alguém para dividir a responsabilidade. O pepino agora está nas mãos dos grandalhões Carlos Boozer e Zydrunas Ilgauskas.

Logo mais, contra o Sacramento, o calouro fenômeno é dúvida, por conta de uma lesão no tornozelo. Sem ele, sem Davis, sem Miles (por pior que fosse), o Cleveland consegue a proeza de ficar abaixo do time medíocre que terminou o último campeonato na lanterna.

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foto . nbae

21.1.04



entrevista: tj ford
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))) "O calendário é um desafio"


Na noite do draft, muito cartola deixou passar um baixinho franzino que, meses depois, está aprontando na NBA. Veloz e habilidoso, o calouro TJ Ford encara como pode a missão de suprir a ausência de Sam Cassell e Gary Payton, antigos donos da posição 1 no Milwaukee Bucks. Com médias de 7.4 pontos e 6.4 assistências, ele dá sua contribuição para um time que, surpreendentemente, consegue se manter na elite da conferência Leste. Em entrevista ao escritório da NBA para a América Latina, Ford fala sobre a experiência com o técnico Terry Porter e os ajustes para se adaptar à realidade profissional, às vésperas de completar 21 anos.

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Qual tem sido seu grande desafio para se ajustar à vida na NBA?
O maior desafio é a força, a velocidade e o talento dos atletas de todas as equipes. Aliás, ainda mais desafiante é o calendário. Jogar uma partida numa noite, pegar um avião, chegar a outra cidade e ficar pronto para jogar novamente na noite seguinte é realmente cansativo. De todo modo, já estou me acostumando.

Como avalia o trabalho do técnico Terry Porter, um calouro como você?
De fato, tem sido uma incrível ajuda ter o Terry Porter como meu treinador. Ele é um homem que já fez de tudo na NBA. Já viu todos os cenários possíveis um milhão de vezes. Além do mais, jogou na minha posição, então sabe com o que estou lidando. Isso faz dele o técnico perfeito para me ajudar. Tem sido ótimo.

Alguns técnicos andam dizendo que você é o jogador mais veloz da liga, mais rápido até que medalhões como Allen Iverson. Que acha disso?
(Risos) Ah, isso é um grande elogio, não há nada mais que eu possa dizer.

Que parte do seu jogo você precisa melhorar?
Não sou capaz de dizer apenas uma coisa, até porque preciso melhorar e crescer em todas as áreas, em cada face do jogo: driblando, guiando a bola, arremessando, na defesa, nos rebotes, passando. Por outro lado, também não quero apontar uma área específica, para os adversários não explorarem uma ou outra fraqueza.

Com quem você se relaciona melhor nos Bucks?
Sem dúvida, com Damon Jones. Além de ser meu reserva imediato, ele é um grande cara.

No dia 24 de março, você completa 21 anos e estará na estrada para enfrentar o Golden State Warriors. Há algum plano para festejar o aniversário?
Nenhum grande plano, exceto vencer a partida. Espero que os colegas de equipe não tenham nenhuma travessura planejada para mim. Com esses caras, nunca sei o que devo esperar. Mas quero receber a vitória de presente.

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foto . nbae

20.1.04



o lugar de cada um
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))) Marbury contra o Toronto:
os Knicks merecem o playoff



Ainda faltam uns três meses, mas não custa nada especular. A cena tem se repetido nos últimos anos: diante da superioridade da costa americana banhada pelo Pacífico, sabe-se que o inócuo alinhamento dos playoffs no Leste precisa de um empurrãozinho para engrenar. Um pouco de nitroglicerina não faz mal a ninguém, o que torna louvável a entrada de qualquer equipe capaz de adicionar energia à pós-temporada nas bandas do Atlântico.

Aliás, não é qualquer equipe. No frigir dos ovos, só uma tem potencial para bagunçar o coreto de um conferência marcada pela falta de sal.

Sim, o New York Knicks.

A esta altura do campeonato, seria antes de tudo saudável se a trupe nova-iorquina pulasse a cerca e invadisse as posições de elite. Não se trata aqui de qualidade técnica e muito menos de torcida. Mas pelo bem do basquete, o Leste precisa de ânimo. E ninguém na liga tem uma injeção mais carregada que a de Isiah Thomas.

O novo cartola dispensou Antonio McDyess, contratou Stephon Marbury, demitiu Don Chaney, arrebanhou Lenny Wilkens, tudo para sacudir a auto-estima de uma franquia que, perigosamente, começava a se acostumar com o fracasso (vejam que triste o Chicago Bulls, por exemplo).

Com os primeiros passos fora da quadra, surgiram os resultados dentro dela. Na noite de ontem, a vitória diante do Toronto Raptors (time que, por sinal, demitiu Wilkens outro dia) colocou os Knicks na oitava posição do Leste, na mira de um duelo com o assustador Indiana Pacers, caso a fase regular terminasse hoje.

Tudo bem que o fato teve a ajuda providencial de uma derrota do Philadelphia 76ers, e não me agrada o risco de ver Allen Iverson fora do mata-mata. Confesso que também seria interessante conferir como se porta LeBron James encarando as séries decisivas logo na temporada de estréia.

Infelizmente, não há lugar para todos. Diante disso, que pese a camisa azul na reta final. E que alguém lá no meio da tabela abra espaço para Marbury, Wilkens & Cia. Se vai ser o Milwaukee, o Boston, o Toronto ou o próprio Philadelphia, eu não sei.

Mas que seria muito bom ver o New York de volta aos playoffs, ah, isso seria.

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Como se não bastasse o Detroit ter batido o San Antonio, o Indiana também fez sua parte e despachou o Atlanta. Imaginem o jogaço de logo mais, entre Pistons e Pacers. Bem, a ESPN vai de Nets x Mavs. Paciência.

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Aliás, é impressão minha ou velhinho Reggie Miller está de volta?

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foto . nbae

19.1.04



controle mental
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))) Ben Wallace está abrindo a cabeça


Esta história de matar um leão por dia cai como uma luva para certos times da NBA. Com jogos praticamente dia sim, dia não, qualquer desvio no foco representa um risco incalculável. Em certas situações, um tropeço pode ser fatal. Em outras, vejam só, a vitória pode ser inútil. No que diz respeito à batalha pela liderança da conferência Leste, a situação é cristalina:

O Detroit Pistons vence, vence, vence.

E não adianta nada.

Lá está o Indiana Pacers, senhor absoluto não apenas do Leste, mas de toda a liga, confortável na dianteira, sempre escorado em duas, três partidas de diferença em relação ao Detroit. Cabe a Larry Brown a tarefa de manter firmes as rédeas do elenco, que venceu os últimos 12 compromissos e nem assim conseguiu atingir o topo.

A próxima parada está marcada para às 18h de hoje, contra o San Antonio Spurs, que interrompeu ontem uma seqüência de três derrotas ao bater os Celtics em Boston. Se passarem pelos atuais campeões, os Pistons igualam o recorde de triunfos seguidos na história da franquia.

Sabe-se lá qual é o segredo do sucesso, mas é inegável que a boa fase tem a ver com alguma mudança de mentalidade.

A começar pela beira da quadra, com Larry Brown, um dos melhores treinadores da atualidade, obsessivo em elevar o nível de seus times. Foi assim com o Philadelphia, tem sido assim em Detroit. Brown é o homem que teve peito de guardar uma segunda escolha do draft na gaveta. Não tem pressa com Darko Milicic. Sem o europeu, o técnico tira o máximo do restante do elenco.

Ben Wallace, por exemplo, é a estrela da companhia. Assusta quem arrisca circular em seu garrafão. Distribui tocos e apanha rebotes com a facilidade de quem tira o doce de uma criança. Para Brown, tudo isso é pouco. Falta um singelo detalhe: ímpeto ofensivo.

Aos que acham impossível, o próprio Wallace avisa: “Por que não? Eu posso fazer pontos. Eu sei como fazer pontos.” A afirmação faz parte do projeto de cruzar a marca dos dígitos duplos, nunca alcançada em sete anos de carreira. A média de pontos, que nunca havia ultrapassado os 7.6, hoje está bem perto da dezena, em angustiantes 9.8.

A conscientização é lenta e passa por injeções diárias de auto-estima. “Tenho trabalhado forte no ginásio, treinando arremessos e ganhando confiança. Nos jogos, tenho me encorajado a atacar. Estou chegando lá”, disse o atleta ao jornal Detroit News.

Se realmente chegar lá, Wallace vai colaborar não apenas com sua equipe. Aprendendo a jogar, desenvolvendo habilidades, prestará um imenso serviço à NBA, quebrando a corrente dos pivôs contemporâneos, em geral talhados à força física acima de qualquer outra característica.

Wallace, logo ele, é o maior expoente desta turma. Não sabe jogar, mas é eficiente ao extremo. Se aprender um pouquinho que seja, os amantes do basquete lhe serão eternamente gratos.

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foto . nbae

17.1.04



. bloco de notas
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todo sábado, um passeio rápido pela liga

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))) Rasheed voltou a jogar no
sábado e pode sair de Portland



d i v ó r c i o

Os rumores são intensos, em diversas frentes, e o destino parece selado: Rasheed Wallace vai mesmo sair do Portland Trail Blazers. O leitor atento há de lembrar, inflado de razão, que uma frase semelhante se arrastou durante anos até que Latrell Sprewell realmente fosse embora de Nova York. Desta vez, no entanto, a novela deve ser mais curta. Marc Stein, colunista respeitável da ESPN, cravou que a separação pode se consumar ainda no fim de semana: Sheed iria para Dallas, em troca de Antawn Jamison e Tariq Abdul-Wahad. Ansioso, o cartola Mark Cuban já teve dois encontros com o ala problemático. A negociação anda bem, mas há quem pense na contramão. O jornalista Mike Kahn, editor de esportes da CBS, aposta que, no fim das contas, tudo vai continuar como está. A nós, resta esperar. Enquanto os engravatados não se decidem, Mavs e Blazers se enfrentaram no sábado, com vitória dos texanos. Wallace, que não jogava há quatro rodadas, contribuiu com 24 pontos.

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e x p e r i ê n c i a s

A confirmação do negócio complicaria ainda mais a química no laboratório de Don Nelson. Como encaixar Wallace no time? Barrando Antoine Walker? Fazendo de Dirk Nowitzki um pivô definitivo? Jogando com três alas e cortando os minutos de Michael Finley? Goste-se ou não de Nelson, uma coisa é preciso admitir: o sujeito não tem medo de inventar. A chegada de mais um All-Star seria um curioso exercício de criatividade para o técnico.

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i n s a c i á v e l

Correndo por fora, o inquieto Isiah Thomas pediu a palavra e disse que também está na parada. De fato, o New York Knicks sem marginais em quadra não é o New York Knicks. Ou seja, é preciso arrumar outro Latrell antes que a torcida se irrite. Digo isso no melhor dos sentidos. A turma que freqüenta o Madison Square Garden não costuma engolir mocinhos simpáticos como Keith Van Horn. Entre vaias e aplausos, tapas e beijos, as arquibancadas cobram a presença de jogadores agressivos. Casos de Spree, Marbury e Sheed.

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v o l t a n d o

Por falar em agressividade, Dennis Rodman finalmente estreou pelo Long Beach Jam no campeonato da ABA. Aos 42 anos, entrou em quadra com o cabelo colorido de azul, vermelho, laranja e amarelo. Não tentou um arremesso sequer e terminou zerado em pontos. As energias foram reservadas para a especialidade: em 28 minutos, o Verme pegou 14 rebotes. “Não estaria aqui se não tivesse o desejo de voltar à NBA. Em fevereiro, estarei 100%”, avisou.


((((( z o n a ))))) ((((( m o r t a )))))

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* “O sorriso de Carmelo Anthony é o motivo pelo qual a torcida vai ao ginásio. As pessoas estão cansadas de jogadores resmungando. Ele mudou os rumos de um time, por isso acho que deveria ser eleito calouro do ano.” Quem diz é Magic Johnson, craque na quadra e especialista em simpatia.

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* Com uma torção no tornozelo, LeBron James saiu de quadra carregado no sábado (confira a imagem aqui). Preocupante, não? Apesar disso, o Cleveland superou o Utah, com direito a 32 pontos de Carlos Boozer.

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* Se bater o San Antonio na segunda-feira, o Detroit Pistons chega a 13 vitórias seguidas e iguala o recorde histórico da franquia, obtido na temporada 1989-90. E olha que Darko Milicic ainda nem deus as caras.

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* Coitado do solitário Gary Payton. O trio Kobe-Shaq-Malone vai ficar fora das quadras pelo menos mais uma semana. Foi nesta penúria que o Los Angeles Lakers levou uma enfiada de 20 pontos do rival Sacramento Kings na sexta-feira.

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:) APLAUSOS para Yao Ming, que trabalha em silêncio e torna-se um pivô cada vez mais eficiente. Nos últimos três jogos do Houston, o chinês superou a marca de 20 pontos e 10 rebotes.

:( VAIAS para Orlando e Phoenix, os dois únicos times que não repetiriam a classificação para os playoffs se a temporada regular terminasse hoje. A queda, por sinal, não apenas tirou as equipes do grupo de elite, mas jogou ambas nas lanternas das conferências.

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foto . nbae

16.1.04



nets em novo endereço
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))) Nem Kidd garante ginásio lotado


Nos últimos 11 jogos, foram 10 vitórias. Nos últimos dois anos, foram dois títulos do Leste. O retrospecto, a curto ou médio prazo, é digno de orgulho. Não adianta nada. Por mais que o New Jersey Nets se esforce em quadra, a Continental Airlines Arena sempre reserva sua tradicional parcela de poltronas vazias. Ginásio lotado? Difícil, hein.

Por essas e outras, a venda da franquia deve ser anunciada nos próximos dias.

O precinho camarada atinge vultuosos US$ 300 milhões, que cairão direto no bolso dos atuais proprietários, Lewis Katz e Ray Chambers. Representado pelo empresário Bruce Ratner, o grupo comprador é do Brooklyn (NY) e inclui até o rapper Jay-Z, que em novembro fez um megashow no Madison Square Garden, com direito a tumulto e pancadaria no templo dos Knicks.

Se o martelo for batido, começam imediatamente as obras para a construção de um novo complexo esportivo, com capacidade para 19 mil torcedores (bem distante dos 9 mil que andam freqüentando a Continental). O prédio ficaria pronto em 2006, justamente quando termina o vínculo da equipe com a cidade de New Jersey.

Até hoje, a parceria rendeu muita dor de cabeça. A arena atual, construída num lugar isolado de East Rutherford, dificulta o acesso dos torcedores. O prejuízo se arrasta a cada ano, sempre girando em dezenas de milhares de dólares. O jeito foi buscar o lucro do outro lado da ponte, em terreno nova-iorquino.

Com a troca de endereço, o discurso muda da água para o vinho. Mesmo antes da canetada, a chegada dos Nets já vem sendo encarada pelas autoridades do Brooklyn como a grande chance de revitalizar a área. Um ginásio luxuoso seria o ponto de mutação para o bairro, marcado pela decadência nas últimas cinco décadas, desde que o lendário time de beisebol Brooklyn Dodgers foi vendido para Los Angeles. Coincidentemente, seguiu-se um período de trevas: fábricas fecharam as portas, o desemprego se espalhou, as ruas viraram terra de ninguém.

Hoje, a situação não é tão dramática. Grandes empresas migraram de Manhattan, restaurantes finos se instalaram e o comércio se reergueu. Falta a cereja do bolo. Um segundo time de basquete em Nova York, reforçando a rivalidade com os Knicks, pode elevar a paixão do torcedor a níveis nunca antes vistos.

O local do novo ginásio já está escolhido. O maquinário das obras aguarda apenas a oficialização do contrato. Para comerciantes e pequenos empresários da área, será uma bênção. Para a NBA, será mais uma bela jogada de marketing. No fim das contas, todo mundo sai ganhando.

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foto . nbae

15.1.04



um degrau a menos, por favor
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))) Não dá para atropelar o tempo


Incômodos percalços no servidor deixaram o Rebote fora do ar justamente no dia em que Leandrinho e Nenê se cruzaram pela primeira vez na NBA. Ontem, a análise do jogo estava pronta, da primeira palavra ao ponto final. Agora o texto repousa na lixeira que ilustra o canto esquerdo da minha tela. Paciência. Talvez aquilo fosse mesmo uma análise precipitada.

O que importa é que a transmissão da ESPN dissipou as lantejoulas em torno da figura de Leandrinho. Foi bom para ele. Caiu o brilho dos holofotes, desceu o tom do oba-oba, surgiu um par de pontos cristalinos: 1) O jovem armador do Phoenix Suns tem muito potencial. 2) Esta seta na direção do futuro ainda está longe de fazer dele um craque.

Quando Stephon Marbury se foi, nosso Barbosa sentiu nos ombros o peso de substituir o astro. Não percebeu que há no time uma hierarquia em relação às opções ofensivas. A saída de um jogador brilhante força a entrada de um reserva, não de um sucessor.

No caso do Phoenix, o desafogo no ataque passa automaticamente para Shawn Marion, Amare Stoudemire e Joe Johnson. Leandrinho ainda não entendeu isso. Segue selecionando arremessos na melhor escola Paul Pierce de basquete, sem metade da competência do original.

Contra o Denver Nuggets, o armador brasileiro arremessou 13 vezes, acertou apenas quatro, levou tocos a granel e (o mais grave) irritou Mike D’Antoni. Foi preocupante ver aquele sermão furioso que levou do técnico após ter chutado um tijolo desnecessário da linha de três.

Contra o Chicago Bulls, naquele jogo dos 27 pontos, o ímpeto ofensivo deu certo, com a colaboração de uma defesa frágil. Pronto. Leandrinho achou que a cartilha serviria para todas as noites. Pensou que a ausência de Marbury estava suprida. Ledo engano. A pontuação caiu nas partidas seguintes e a regularidade foi escoando pelo ralo, abrindo um sorriso maroto no rosto do experiente Howard Eisley (que é fraco, mas carrega malandragem de sobra para disputar posição com um calouro).

Companheiros patrióticos, vocês podem (e devem) embarcar no entusiasmo da torcida. Só vocês. Quem veste uniforme não pode. É preciso saber que toda carreira pressupõe uma escada, e a tentativa de pular degraus geralmente acaba em tombo feio.

Logo mais, em Portland, convém ir com calma: passar mais, selecionar chutes, ampliar visão de jogo. Entre um e outro momento de cautela, cabe perfeitamente a infiltração abusada sem medo Zach Randolph, o tiro de três com Wesley Person tapando a visão, até a assistência pelo vão das pernas de Jeff McInnis. Tudo isso é exceção, diferencial. Não dá para transformar ousadia em regra a cada posse de bola.

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Por falar em Phoenix e por falar em calouros, que belo jogador este Zarko Cabarkapa, hein? Ainda vai dar muito trabalho.

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Aguardo as pedradas. Até amanhã.

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12.1.04



briga de foice
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))) Leandrinho e Eisley: quem será titular?


A pesquisa está num canto qualquer do site oficial do Phoenix Suns: “Quem deve ser o titular da posição 1 no restante da temporada?” O resultado, vejam só, é animador para os brasileiros:

1. Leandro Barbosa – 67%
2. Howard Eisley – 18%
3. Joe Johnson – 15%


Até a noite de ontem, tinham sido computados mais de 5.400 votos, o que representa um montante com mais de 3.600 cliques a favor de Leandrinho. Se a voz do povo é a voz de deus, só o treinador Mike D’Antoni poderá dizer. Mas a arquibancada, ao que parece, já fez sua escolha.

Nos dois primeiros jogos após a chegada de Eisley, o brasileiro ganhou a disputa e foi titular. A escolha é natural, tendo em vista que o ex-reserva do New York Knicks acabou de chegar a Phoenix. Ainda não teve tempo para entrar no ritmo dos treinamentos e conquistar a confiança da comissão técnica.

Aliás, será natural também se Eisley tomar a posição de Leandrinho amanhã, contra o Denver Nuggets, em jogo imperdível que será transmitido pela ESPN a partir da meia-noite. Afinal, uma década de experiência na NBA não pode ser desprezada. D’Antoni segue em fase de testes. Acaba de perder um craque na posição e vai queimar um bocado de neurônios para escolher o substituto.

Com a camisa dos Knicks, Eisley não conseguiu superar os 10 pontos de média. Na temporada passada, quando foi titular em 76 partidas, atingiu os 9.1, além de elogiáveis 5.4 assistências. Os números caíram este ano, e precisam subir se a intenção é garantir uma das cinco vagas principais da equipe.

Com Leandrinho, a história é diferente. Ainda não houve tempo e oportunidade para avaliar a qualidade do atleta. Nestes três jogos em que foi titular, a média ficou em surpreendentes 17 pontos, mas o número veio caindo (27, 16 e 8). Numa hora dessas, não basta conquistar a simpatia da torcida. O que vale é cair nas graças do técnico.

Nesse aspecto, a regularidade fala mais alto.

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Ainda sobre a troca Knicks/Suns, um diálogo curto ilustra o clima pesado que Antonio McDyess vinha enfrentando em Nova York. Antes de anunciar a negociação, o presidente Isiah Thomas procurou o jogador: “Tenho uma má notícia. Você vai se transferir para o Phoenix Suns.” A resposta de McDyess foi imediata: “E onde está a má notícia?”

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fotos . nbae

11.1.04



uma espiada no draft
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))) Howard não é o novo LeBron


Em primeiro lugar, uma sensação do colegial. Em segundo, um gigante do Leste europeu. Em terceiro, uma sólida opção do basquete universitário. LeBron, Darko e Carmelo? Menos, menos. A mais de cinco meses do draft 2004, o processo de seleção começa a se desenhar, conservando o mesmo esqueleto da última edição. Ainda é cedo, mas se tudo continuar como está, o Top-3 vai repetir a fórmula de 2003, com uma diferença fundamental: a qualidade.

Aos 18 anos, Dwight Howard é o LeBron James da vez, ainda que em nível bem distante do original. Desde já é apontado pelos especialistas (incluindo o site NBAdraft.net) como nome certo para a primeira escolha. Pelo andar da carruagem, pode acabar em Orlando, Atlanta, Phoenix, Washington, ou até mesmo em Charlotte, já que os Bobcats não podem ficar abaixo do quarto lugar na lista.

Trata-se de um ala de força de 2.10m e 115kg, que atualmente defende a Academia Cristã do Sudoeste de Atlanta. As comparações variam. Os otimistas falam em Chris Webber; os pessimistas preferem Kwame Brown; os ponderados ficam entre um e outro, com Amare Stoudemire ou algo parecido.

Até onde se sabe, Howard é veloz, arremessa bem, tem bom controle de bola e revela uma visão de jogo rara para os grandalhões de sua posição. Isso se explica pelo fato de ter começado a jogar basquete como armador. A espichada na altura o empurrou para a ala, mas a habilidade se manteve intacta. Na última temporada do colegial, registrou médias de 19.3 pontos, 15.5 rebotes e 4.5 tocos.

O ponto fraco do rapaz é justamente a dificuldade em jogar embaixo da cesta. A agilidade que o traz para fora do garrafão contrasta com a falta de consistência dentro da área pintada. Além disso, LeBron deixou o povo mal acostumado, e a responsabilidade do próximo nº 1 será imensa.

A segunda escolha deve recair sobre o russo Pavel Podkolzine, que não chega a ser um rosto totalmente desconhecido. Quase entrou no último draft e até ameaçou a posição de Carmelo Anthony. Em cima da hora, pulou do barco e optou por ganhar mais um ano de experiência na Europa. Mesmo com assustadores 2.25m e 140kg, o gigante consegue manter boa movimentação em quadra, na melhor escola de Arvydas Sabonis. Na quinta-feira, ele completa 19 anos.

Ainda com 18, Josh Smith é o favorito para ser o terceiro fisgado. Joga como ala de ligação pela Universidade de Indiana, e tem 2.03m e 97kg. Atlético e habilidoso, chuta bem de três e adora uma enterrada.

Howard, Podkolzine e Smith não chegam a formar um trio de ferro garantido, como LeBron, Darko e Carmelo. Até junho, muita coisa pode mudar. Inclusive a situação dos brasileiros. Hoje, o NBAdraft.net lista quatro em condições de chegar.

O mais bem colocado é Tiago Splitter, que aparece na 10ª posição. Os outros são Marcelinho (26º), Anderson Varejão (33º) e Rafael Araújo, o Baby (35º). Este último tem a vantagem de já estar disputando a liga universitária. As boas atuações de Nenê e Leandrinho devem facilitar a vida dos nossos jogadores no draft, mas não vale ficar ansioso por antecipação. O melhor é guardar a tensão na gaveta e deixar o barco correr. Tudo a seu tempo.

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foto . nbae

10.1.04



. bloco de notas
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todo sábado, um passeio rápido pela liga

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Ward é mais uma pedra no sapato de Alex


o b s t á c u l o s

A negociação que mandou Stephon Marbury para Nova York no início da semana foi daquelas que fazem o chão tremer. Ninguém esperava, no entanto, que a troca fosse respingar até no Texas, acertando em cheio o nosso bravo Alex Garcia. Carente na posição 1, o San Antonio Spurs foi rápido no gatilho e pescou o veterano Charlie Ward, chutado pelo Phoenix antes mesmo de vestir a camisa do time. É mais um armador para disputar vaga com o brasileiro, que acaba de ser devolvido à lista de lesionados. Alex tem de rezar para não perder a simpatia de Gregg Popovich. Se conseguir ao menos não ser dispensado até o fim da temporada, já será um grande lucro.

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a p o t e o s e

Enquanto Alex sofre, Nenê teve sua noite de glória na sexta-feira, contra o Utah Jazz. Anotou 25 pontos, a melhor marca em dois anos de carreira, tornando-se peça fundamental na vitória do Denver Nuggets. Outro que brilhou foi o companheiro de garrafão, Marcus Camby, autor de uma proeza alcançada apenas cinco vezes em toda a história da NBA: algo que poderia ser chamado de 5x5, ou seja, atingir grau cinco nas principais estatísticas do basquete. O pivô registrou oito pontos, 11 rebotes, cinco assistências, oito tocos e cinco roubadas. E ainda saiu de quadra com seis faltas! Serviço completo é isso aí. Detalhe: das outras quatro vezes em que isso aconteceu, duas foram no mês passado, com Andrei Kirilenko.

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d i s t r a í d o s

Voltando aos campeões: no sábado, o San Antonio mostrou que no Oeste o buraco é mais embaixo e interrompeu a seqüência de sete vitórias do Indiana Pacers. Ao que parece, foi uma bela partida, disputada até os últimos instantes da prorrogação, com um desfecho pra lá de curioso. Já perto da campainha no período extra, Hedo Turkoglu errou um arremesso e Ron Artest pegou o rebote. Faltavam três segundos e os Spurs venciam por um ponto. Em vez de pedir tempo, Artest saiu quicando a bola tranqüilamente, gastando os últimos segundos. À beira da quadra, o técnico Rick Carlisle era a imagem do desespero. Parecia não acreditar que nenhum de seus atletas teve a óbvia iniciativa de parar o jogo.

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m o d e l o

Falta menos de uma semana para a estréia de Dennis Rodman no campeonato da American Basketball Association (ABA). Se não aprontar nada até sexta-feira, o encrenqueiro vestirá o uniforme do Long Beach Jam contra o Fresno Heat Wave. A propósito, garante que está sóbrio há três meses. “E isso não tem nada a ver com meu retorno ao basquete”, avisa. “Tive que me cuidar por causa dos meus filhos. Tenho quatro crianças lindas e elas precisam de um pai que mantenha o controle.” Pobre garotada...


((((( z o n a ))))) ((((( m o r t a )))))

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* O sábado foi especial para o técnico Jerry Sloan, que voltou ao banco de reservas após uma ausência de duas partidas por causa da mulher, diagnosticada com câncer no pâncreas. O retorno ao ofício, contra os Hawks, deu a Sloan a vitória de número 800 à frente do Utah Jazz.

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* Stephon Mabrury deve a Kurt Thomas seu primeiro triunfo com a camisa dos Knicks. O ala-pivô chutou a crise para escanteio e sapecou 28 pontos, 16 rebotes e três tocos contra o Milwaukee Bucks.

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* Com uma lesão no abdômen, Gilbert Arenas vai ficar algumas semanas no estaleiro. Ciente disso, Larry Hughes resolveu acordar e enfiou 43 pontos no Philadelphia 76ers, selando uma rara vitória do Washington Wizards.

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* As recentes derrotas ligaram o alerta nos escritórios de Los Angeles. Talvez seja melhor trocar Kobe Bryant antes da data-limite de 19 de fevereiro. Ao fim da temporada, ele ganha passe livre e pode ir embora sem dar nada em troca à franquia.

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:) APLAUSOS para Leandrinho, a grande figura da semana. Com a saída de Marbury, o brasileiro finalmente vai ter oportunidades de sobra para mostrar serviço. Sorte para ele. E um pouquinho de azar para Howard Eisley, claro.

:( VAIAS para o New Jersey Nets, que oficializou esta semana o contrato com Eddie Griffin. Marginal que bate em mulher não merece vaga em nenhum time da NBA.

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foto . cnn/sports illustrated

8.1.04



folhas de outono
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))) Baker foi vencido. De novo


Novembro de 2003 foi um mês de águas calmas. Todo mundo viu. No outono americano, a vida estendeu aos pés de Vin Baker um tapete vermelho que ninguém mais concebia a esta altura dos acontecimentos. Peitando a correnteza, o atleta ensaiou uma reviravolta pessoal ilustrada em pontos, rebotes e tocos. O problema é que, em se tratando de alcoolismo, tem sempre alguém disposto a puxar o tapete. E esse alguém é o próprio doente.

Veio dezembro e Baker tropeçou nas próprias limitações. Ninguém viu. Alguns desconfiaram, caso do técnico do Boston Celtics, Jim O’Brien. Mas a expectativa de renovar a confiança falou mais alto que o rendimento limitado em quadra, e o episódio foi cozido em banho-maria.

Passou o Natal. Chegou o ano novo.

E a bomba explodiu.

Multado e suspenso por três jogos, Baker optou pelo silêncio. O time também se calou. O’Brien só falava nas entrelinhas. Coube então à imprensa local desvendar o mistério. Boston Globe e Boston Herald, os dois maiores jornais da cidade, foram atrás da notícia e confirmaram o que todo mundo já sabia: deu positivo o teste de álcool no sangue do jogador.

A recaída veio mergulhada em sabor amargo não apenas para Baker, mas para os crédulos que confiavam na volta por cima (este Rebote incluído). De O’Brien a Paul Pierce, do presidente ao torcedor, todos se esforçavam para acreditar que a recuperação era para valer.

Pois raramente é. A guerra contra a bebida é tão terrível como qualquer outra, e carrega um agravante: há sempre o risco de se entregar ao inimigo por iniciativa própria, por mera fraqueza. Em dezembro, Baker se entregou. O efeito na quadra foi imediato, o técnico percebeu, a diretoria investigou, os médicos confirmaram e a verdade veio à tona.

Mesmo sem admitir textualmente que voltou a beber, o pivô, envergonhado, pediu desculpas à torcida em nota redigida após a suspensão: “Continuo na estrada da recuperação, mas sofri uma recaída no processo. Estou muito decepcionado comigo mesmo. No entanto, sinto-me decidido a direcionar meus esforços para retomar o caminho.”

Aprovado no dia 31 de julho, o tratamento de Baker é acompanhado por uma junta médica que inclui o diretor de medicina da NBA, Lloyd Boskins. Assim, ficou combinado que ele poderia continuar jogando, desde que se esforçasse para se livrar do vício. A primeira recaída renderia uma suspensão. Foi o que aconteceu na terça-feira, quando a diretoria dos Celtics recebeu a notícia do teste positivo. Fontes do time informaram que o valor da multa gira em torno de US$ 75 mil.

A punição deixa o atleta fora das partidas contra Magic, Cavs e Rockets, com retorno estimado para a outra terça, em Milwaukee. O acordo prevê que, no caso de um segundo tropeço, a suspensão valerá para a temporada inteira.

O curioso é que o resultado do teste saiu um dia depois de uma declaração otimista de Baker ao Boston Herald: “Tenho sido muito cobrado. Às vezes é difícil, mas a recuperação vai muito bem”, declarou, contando que sua rotina virou do avesso com as longas sessões de terapia, sempre à noite, após o dia inteiro de trabalho.

É natural que o processo tenha altos e baixos. Resta saber se é possível resistir ao primeiro baque. O outono se foi, o inverno deu as caras, mas apoio não vai faltar. Diretoria, comissão técnica, companheiros de equipe, torcida e família vão dar suas cotas de solidariedade. Ou seja: voltar ao tapete vermelho depende essencialmente de Baker. É justamente isso que torna o futuro ainda mais nebuloso.

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foto . nbae

7.1.04



novo figurino
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))) Em noite de Marbury, LeBron faturou


Contrariando as expectativas, Stephon Marbury e Penny Hardaway apressaram o exame médico e estrearam pelo New York Knicks ontem mesmo, em Cleveland. O check-up físico foi feito pela manhã, enquanto os outros atletas participavam do treinamento, e a decisão de jogar foi tomada em cima da hora, nas barbas da viagem. O resultado, naturalmente, não foi dos mais empolgantes.

No esforço de não parecer fominha, Marbury marcou apenas oito pontos e deu oito assistências. Desde já resignado na reserva de Allan Houston, Penny acrescentou seis pontos e três rebotes. O cestinha do time foi o criticado Keith Van Horn, com 20.

E quem comandou o show na Gund Arena?

LeBron James, claro.

O calouro anotou 14 pontos, 10 passes e quatro rebotes na vitória dos Cavaliers por 107-96. De quebra, ganhou da estrela da noite um elogio para guardar no currículo: “Ele é o melhor calouro da história”, exagerou Marbury, que vestiu bem o novo uniforme (os curiosos podem clicar aqui).

Como a crônica de ontem foi gigante e o assunto pode estar começando a cansar, saco do bolso o desconfiômetro e vou parando por aqui.

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Logo mais, em Milwaukee, Leandrinho tem nova chance para mostrar serviço. O que aconteceu na segunda-feira foi ótimo e revelou seu potencial, mas o garoto ainda tem muito feijão com arroz para comer. Jogar o carro na frente dos bois só vai tornar o caminho mais tortuoso. Cabe aqui o provérbio surrado: devagar se vai ao longe.

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foto . cnn/sports illustrated

6.1.04



e quando a gente menos espera...
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))) Adeus, Phoenix: tem craque mudando de camisa


Era para ser uma segunda-feira tranqüila. Programada com rara antecedência, a crônica sobre o primeiro duelo de brasileiros na NBA corria tímida, ali pelo terceiro parágrafo, quando a cautela buzinou no meu ouvido que canja de galinha e uma visita rápida à internet não fazem mal a ninguém.

Lá fui eu.

Do editor de texto ao navegador, meia dúzia de cliques depois, tropecei na notícia que desmontou meu planejamento e me deixou diante de uma página em branco para destrinchar um assunto novo, bombástico. Não se falava de Nenê, muito menos de Alex. Parem as máquinas:

Stephon Marbury é do New York Knicks.

Este é o tipo de notícia que nos força a ler duas vezes para assegurar que o cérebro não nos traiu. Pois então vamos repetir o serviço completo. O Phoenix Suns mandou para Nova York, embrulhado em papel de presente, um pacote que inclui Marbury, Penny Hardaway e Cezary Trybanski. Recebeu em troca um mega-embrulho com Antonio McDyess e um punhado de bugigangas: Howard Eisley, Charlie Ward, Maciej Lampe, Milos Vujanic, uma escolha no draft de 2004 e outra no de 2006.

Refeito do susto, me pus a pensar sobre o que havia acontecido. As impressões ainda são superficiais, mas extensas o bastante para dividir este texto em tópicos, vasculhando os ganhadores e os perdedores da negociação. A princípio, a monstruosa vantagem da turma nova-iorquina encobre qualquer análise. Um olhar mais apurado, contudo, revela que nem tudo é flor no reino de Spike Lee e nem tudo é tragédia no deserto do Arizona. Vamos por partes:

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O que foi bom para o New York?
Esta é a parte mais óbvia. O time precisava de um All-Star de peso para reacender a esperança nas arquibancadas do Madison Square Garden. De imediato, a chegada de Marbury resolve o problema, e justamente na posição 1, a mais fraca do elenco. Marbury e Allan Houston formam, de cara, uma das três melhores duplas de armadores de toda a NBA (respeitemos Kobe/Payton e Nash/Finley). A tiracolo, Hardaway aparece como um reserva de luxo (mesma função que exercia em Phoenix). A curto prazo, só uma catástrofe pode fazer a troca dar errado.

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O que foi ruim para o New York?
Em primeiro lugar, a folha salarial fica estrangulada. Queiram ou não, vai ser este o time dos Knicks por um bom tempo, porque qualquer negociação será dificultada pela tênue margem de manobra financeira do elenco. Na quadra, perde-se em dois pontos. 1) Sem Ward e Eisley, não existe um reserva para Marbury. Moochie Norris e Frank Johnson não seguram a onda. A saída seria devolver Penny à função original, mas isso abriria um vácuo na cobertura de Allan Houston. 2) Sem McDyess ou alguém para compensar sua habilidade, a força no garrafão fica reduzida.

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O que foi bom para o Phoenix?
No próximo verão americano, o time estará abaixo do teto salarial. Livre dos contratos milionários de Marbury e Hardaway, terá pelo menos US$ 8 milhões em caixa para fazer uma boa proposta a um dos medalhões de passe livre. O alvo é nítido e cristalino: Kobe Bryant, insatisfeito em Los Angeles e doido para mudar de ares, de preferência para uma vizinhança que já tenha bons nomes como Shawn Marion e Amare Stoudemire. Se Kobe não topar a empreitada, o plano B já está escolhido: Steve Nash.

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O que foi ruim para o Phoenix?
Falando da temporada 2003-2004, tudo é ruim. A não ser que aconteça um milagre, o time desiste oficialmente da luta pelos playoffs. Pior, torna-se candidato à lanterna definitiva da conferência Oeste, agora que sacos de pancadas como Nuggets e Clippers ficaram mais espertinhos. Marion e Stoudemire que abram o olho: o vexame é aposta quase certa.

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Q U E M * G A N H A :

))) Isiah Thomas
É o grande vencedor. O novo presidente chegou a Nova York enfiando o pé na porta. Dane-se o dinheiro, que venham as vitórias. Provavelmente, também é assim que pensa o torcedor dos Knicks, cansado de perder, perder e perder. Thomas ganha muitos pontos com essa jogada, mesmo que a folha inche e a bomba estoure daqui a alguns anos. Não importa, o orgulho local está recuperado.

))) Stephon Marbury
Em Phoenix, nada estava funcionando e os playoffs já eram caso perdido. De repente, pintou um desafio irrecusável, a proposta para jogar na Nova York natal. Com o carimbo de All-Star no currículo, o armador migra para o Leste, onde vai enfrentar adversários mais fracos e terá chances muito maiores de classificação. De quebra, tem o espírito necessário para vestir o novo uniforme.

))) Howard Eisley
O armador deixa um rastro maldito, de uma posição onde nunca se firmou, mas passa a respirar novos ares nos Suns, com a incumbência de substituir o astro que se foi. Se tudo correr bem, a responsabilidade deve aumentar o rendimento.

))) Leandrinho Barbosa
Como Ward parece fora dos planos, o brasileiro deve disputar com Eisley um espaço entre os titulares. Convenhamos que a briga ficou mais fácil. Perde-se a orientação preciosa de Marbury, mas ganha-se em minutos de jogo e possibilidade de se tornar o primeiro armador do time. Eisley larga na frente, mas convém abrir o olho. Vide a sensacional performance de Leandrinho na partida de ontem, contra o Chicago: sendo o único do elenco na posição 1, ele atuou por 39 minutos, marcou 27 pontos, deu quatro assistências, roubou duas bolas e converteu 11 de 18 arremessos. Deste canto, torcida não vai faltar.

))) Cezary Trybanski
Esquecido no Arizona, o pivô terá mais tempo de jogo no confuso garrafão dos Knicks.

))) Kurt Thomas
Insatisfeito por ter perdido a posição de titular para McDyess, o ala-pivô chegou a pedir para ser trocado. Agora, não tem mais do que reclamar. A vaga é dele e ninguém tasca.

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Q U E M * P E R D E :

))) Antonio McDyess
A não ser que recupere imediatamente a velha forma, vai amargar a reserva de Stoudemire. Isso pode até ser bom, se a intenção é recuperar o físico sem alarde. Mas a migração veio na hora errada para quem precisava ganha confiança como titular.

))) Penny Hardaway
A mudança de ares era necessária, mas o ideal seria a transferência para uma equipe onde pudesse ser titular. Disputar a posição com Joe Johnson é uma coisa, dá para dividir os minutos. Com Allan Houston, a história é outra. Está condenado à reserva eterna.

))) Charlie Ward
O veterano foi usado como peso morto e deve ser dispensado pelo Phoenix até o fim da semana. Com sorte, pode acabar encontrando vaga numa franquia de baixo escalão.

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Logo mais, os Knicks estarão em Cleveland, mas os exames médicos provavelmente vão adiar a estréia dos reforços para quinta-feira, em casa, diante do Houston Rockets. Para completar o show, a partida marca o retorno de Jeff Van Gundy ao Madison.

Que tal?


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No fim das contas, o duelo de brasileiros foi uma decepção. Pelo San Antonio, Alex jogou sete minutos, roubou duas bolas, errou quatro arremessos e saiu de quadra sem marcar um pontinho sequer. Nenê anotou quatro míseros pontos e só pegou um rebote. Valeu pelo registro histórico, mas, duelo mesmo, fica para a próxima.

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foto . cnn/sports illustrated

5.1.04



a zebra que pastou no texas
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))) Contra Tim Duncan, Snow
não sentiu falta de Iverson



No sábado, enquanto a Rede TV exibia sua rodada dupla, os americanos viram uma das maiores zebras do campeonato. Em pleno SBC Center, o San Antonio Spurs recebeu um Philadelphia com quatro derrotas seguidas na estrada e desfalcado de Allen Iverson, ou seja, sem metade de sua força. Em jogo, a invencibilidade de 13 jogos dos atuais campeões.

Na calada da noite, deu Sixers.

O técnico Randy Ayers mal acreditou no triunfo, principalmente depois do treinamento de sexta-feira, quando os atletas quase se estapearam. O clima tenso foi transportado para a quadra, não em forma de briga, mas de garra e espírito coletivo.

Sem a ajuda de Iverson e Aaron McKie (ambos contundidos), os cinco titulares do Philadelphia pontuaram em dígitos duplos, sendo que Eric Snow e Derrick Coleman dividiram igualmente os 40 pontos que turbinaram a vitória. Méritos também para o esquema defensivo desenhado por Ayers. O MVP Tim Duncan terminou com apenas 11 pontos e não conseguiu fazer uma cesta sequer do segundo quarto em diante.

O resultado surpreendente quebra também um tabu histórico. A última vez que os Sixers venceram em San Antonio havia sido em 1986, com Julius Erving, Maurice Cheeks e Moses Malone no elenco. Quando soube do feito, ontem, a caminho do vestiário, Coleman ficou surpreso: “Sério? Bem, Feliz Ano Novo!”

O ano novo prossegue hoje para as duas equipes, e tudo indica que os campeões voltarão ao ritmo normal, enfrentando os Nuggets em Denver. Não que a parada seja fácil, afinal o time de Nenê é o sexto melhor do Oeste. Mas os Spurs provaram por A mais B, nesta seqüência de 13 vitórias, que têm calibre suficiente para permanecer no topo da conferência.

Aproveitando o episódio do fim de semana e tentando escapar da crise, o Philadelphia recebe o Milwaukee Bucks em busca de regularidade. Afinal, a equipe se pendura como pode no fio tênue da oitava colocação do Leste, aquele lugarzinho incômodo onde um simples escorregão significa ausência nos playoffs.

Pelo menos uma boa notícia é garantida: Iverson está confirmado para logo mais. Bom para ele, para os Sixers e para o basquete.

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foto . nbae

4.1.04



alívio na tela
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))) Dunleavy e Prince ajudaram
a RedeTV a estrear com sorte



Tinha gente apreensiva. O amadorismo da TV aberta, a falta de conhecimento, o fantasma da Band, tudo isso criou um manto de pessimismo antes mesmo de a primeira bola subir. NBA no canal da Luciana Gimenez? Tinha tudo para dar errado.

Mas deu certo.

A trasmissão na RedeTV preencheu cinco horas da passagem de sábado para domingo e, ao fim da jornada, ficou um misto de alívio e otimismo. A direção da casa está de parabéns. Investiu num esporte que foge da cultura brasileira e, o mais difícil, conseguiu apresentar ao espectador um produto de qualidade.

Falta ajustar uma série de detalhes, claro. Mas a surpresa foi grata para quem esperava uma noite de erros, imagem ruim e nomes trocados. O que vimos foi uma transmissão leve, bem humorada, e com um nível bastante razoável de conhecimento da liga, coisa que não temos visto ultimamente em certos jogos da ESPN.

Marco Túlio Reis não é o Ivan Zimmerman, mas reserva um estilo debochado que tira a narração do plano burocrático. Mesmo quando exagera nos bordões, garante boas doses de bom humor, elemento fundamental para quebrar o gelo com a turma de casa.

Tudo indica que o locutor vai formar uma boa dupla com Marcel, que passou bem no primeiro teste. O ex-jogador imprimiu um estilo de comentário que não costumamos ver por aí: a explicação didática, com ênfase nas regras e nos fundamentos. Marcel é técnico, sabe das coisas e terá um papel importante de informar o público heterogêneo da TV aberta. Ficará melhor ainda se trocar os infinitos termos em inglês pelos correspondentes na nossa língua.

Túlio e Marcel tiveram uma ajuda honesta, não apenas do estúdio bacana, mas também da apresentadora, cujo nome me foge agora, mas cuja desenvoltura me impressionou. Para atrair audiência, os programas de esporte vivem colocando na tela rostos bonitinhos com cérebros vazios. Não parece ser o caso da mocinha da Rede TV. Esperta, ela capricha na pronúncia e parece saber do que está falando.

Na estréia de ontem, narrador e comentarista engrenaram uma rodada dupla de cinco horas e seguraram a onda (vale lembrar que, na ESPN, as noites duplas são divididas por duas equipes). Pelo bom trabalho, ganharam como recompensa dois belos jogos, especialmente o primeiro, entre Pistons e Warriors.

O primeiro prêmio veio logo no fim do quarto inicial, quando Brian Cardinal acertou um arremesso do meio da rua, quase no garrafão de defesa. A partida foi cheia de atrativos: um espetacular toco de Tayshaun Prince com as duas mãos, confusões de arbitragem, belas jogadas de lado a lado e até a polêmica expulsão de Larry Brown.

Na verdade, o técnico do Detroit não foi expulso, e aí entrou uma das poucas lacunas da transmissão da Rede TV. No terceiro quarto, em meio a reclamações, o juiz deu uma falta técnica para Rip Hamilton e, dois segundos depois, puniu Brown da mesma forma. O técnico achou que a primeira infração também havia sido para ele e desceu para o vestiário. Os árbitros ainda tentaram trazê-lo de volta, mas o orgulho do treinador falou mais alto.

Na partida seguinte, entre Nuggets e Hawks, houve uma preocupação excessiva com cada passo de Nenê. Nada mais natural, afinal é o brasileiro que teoricamente puxa a audiência da emissora. Foi ele o principal personagem do interessante material que antecedeu a transmissão, com entrevistas, matérias e explicações sobre os times da NBA.

Em quadra, Nenê decepcionou. Seu Denver perdeu em casa para um dois piores times do campeonato. Mas aquela enterrada, repetida à exaustão, valeu a noite. A repetição dos lances vai ser outra marca da Rede TV. Como a transmissão não tem todos os anúncios que passam nos Estados Unidos (nos pedidos de tempo, por exemplo), o Brasil fica com o sinal aberto e precisa preencher a tela de alguma forma. A opção é tascar o replay. Por isso vimos o arremesso de Cardinal dezenas de vezes.

Sábado que vem, tem Minnesota e Miami. Sem brasileiros em quadra e sem o peso da estréia, será a primeira transmissão “normal”.

Boa sorte ao Túlio e ao Marcel. Pelo menos aqui deste canto, fica a torcida para que tudo dê certo.

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foto . nbae