27.1.04



a voz do manda-chuva
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))) David Stern comemora seus 20 anos de NBA


Corria o ano de 1978 e o então comissário da NBA, Lawrence O’Brien, convidou um amigo para uma missão simples: organizar o departamento jurídico da liga. O contrato previa apenas dois anos de emprego, mas o jovem executivo foi ficando e, em 1984, pulou para o comando da organização. Era David Stern, que completa, no próximo domingo, duas décadas à frente do maior campeonato de basquete do mundo. A jornada começou poucos meses antes do draft que viu o Chicago Bulls escolher Michael Jordan. Tanto tempo depois, o gênio da bola laranja tirou o time de campo, mas Stern se mantém firme no posto, acompanha de perto o surgimento do novo messias, o garoto LeBron James. Aos 61 anos, o comissário olha para trás e constata o óbvio: conseguiu a proeza de fazer da NBA um espetáculo inigualável. Celebrando os 20 anos de trabalho, Stern bateu um longo papo com o jornalista Marc Stein, da ESPN.com. Para que o assunto não fique restrito aos gringos, o Rebote escolheu e traduziu alguns trechos da entrevista. Com a palavra, o manda-chuva.

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Nestas duas décadas de NBA, quais foram os maiores orgulhos e as maiores tristezas do comissário?
Para mim, houve dois grandes momentos de orgulho. O primeiro foi ter sido representado por nossos atletas na conquista do ouro olímpico em Barcelona, em 1992. Naquele momento havia muitas críticas quanto a altos salários, problemas com drogas, mas a marcha de Barcelona foi uma importante afirmação do nosso lugar, mostrando que os Estados Unidos eram grandes. O quadro não era tão negro assim. O outro momento tem a ver com Magic Johnson e o fato de ele ser portador do vírus HIV. Magic alterou o debate sobre Aids neste país. As atitudes mudaram globalmente, e este impacto me deixou orgulhoso. Por outro lado, um dos pontos ruins foi ter de anunciar o fim da carreira de Michael Ray Richardson [uma das primeiras vítimas de drogas na NBA]. Também foi horrível cortar uma temporada pela metade em 1998, por causa de discussões salariais.

A implementação do limite salarial está na sua lista de motivos para se orgulhar?
O limite é essencial para o sucesso a longo prazo, para tornar viável qualquer liga esportiva. Assim, os times bem administrados conseguem competir.

Por que se recusa a usar a palavra “legado” quando fala sobre seu passado na NBA?
Porque estou muito focado no presente, no agora. Não vou escrever um livro. Aprendi há muitos anos que, se você perde tempo tirando fotografias, não aproveita a viagem. Tenho o melhor emprego do mundo e estou aproveitando. Não quero pensar no aspecto histórico do meu trabalho.

O que o prende à NBA? Nunca pensou em comandar outro tipo de organização?
Na verdade, o que me prende aqui é o fato de que aqui tudo está sempre mudando, e eu me divirto muito com isso.

Não há nenhuma aspiração política?
Nenhuma. Apóio determinados candidatos, mas nunca vou me envolver com política.

Como é seu contrato com a NBA? É um documento oficial?
Não. Tenho apenas um acordo anual. Isso foi uma reivindicação minha. Eu e os donos da liga sempre temos a opção mútua da separação.

Na sua avaliação, o que é mais provável: uma franquia da NBA em Las Vegas ou na Europa? [No meio da semana, os proprietários do Dallas, Mark Cuban, e do Sacramento, Gavin Maloof, apontaram Las Vegas como cidade perfeita para um possível 31º time no campeonato]
Na Europa. Bem, eu falei cedo demais, não sei a resposta. Francamente, tudo é hipotético. Não temos planos de expandir a liga no plano doméstico agora, tenho trabalhado duro para melhorar a qualidade de nossos clubes. Dito isso, sabemos que a Europa é diferente do nosso mercado. Este assunto vai ocupar nosso tempo até que possamos decidir entre fazer negócios lá ou não. Quanto a Las Vegas, sei que é uma bela cidade. Os cassinos são legalizados, incentivados pelo governo, mas não atraem nosso interesse.

Quando está sozinho com seus pensamentos, o que o preocupa hoje em dia? A situação de Kobe Bryant, por exemplo?
A reputação de um atleta é um ponto muito sério, mas as pessoas se esquecem de que os escândalos estão em toda parte: na política, na economia, no governo, na cultura. Seres humanos são imperfeitos.

Como advogado, é possível fazer alguma previsão para o julgamento de Kobe?
Bem, vamos ver o que acontece. Não quero avançar muito, mas espero que o caso se resolva logo, favoravelmente a Kobe.

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foto . ap

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