8.1.04
folhas de outono
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))) Baker foi vencido. De novo
Novembro de 2003 foi um mês de águas calmas. Todo mundo viu. No outono americano, a vida estendeu aos pés de Vin Baker um tapete vermelho que ninguém mais concebia a esta altura dos acontecimentos. Peitando a correnteza, o atleta ensaiou uma reviravolta pessoal ilustrada em pontos, rebotes e tocos. O problema é que, em se tratando de alcoolismo, tem sempre alguém disposto a puxar o tapete. E esse alguém é o próprio doente.
Veio dezembro e Baker tropeçou nas próprias limitações. Ninguém viu. Alguns desconfiaram, caso do técnico do Boston Celtics, Jim O’Brien. Mas a expectativa de renovar a confiança falou mais alto que o rendimento limitado em quadra, e o episódio foi cozido em banho-maria.
Passou o Natal. Chegou o ano novo.
E a bomba explodiu.
Multado e suspenso por três jogos, Baker optou pelo silêncio. O time também se calou. O’Brien só falava nas entrelinhas. Coube então à imprensa local desvendar o mistério. Boston Globe e Boston Herald, os dois maiores jornais da cidade, foram atrás da notícia e confirmaram o que todo mundo já sabia: deu positivo o teste de álcool no sangue do jogador.
A recaída veio mergulhada em sabor amargo não apenas para Baker, mas para os crédulos que confiavam na volta por cima (este Rebote incluído). De O’Brien a Paul Pierce, do presidente ao torcedor, todos se esforçavam para acreditar que a recuperação era para valer.
Pois raramente é. A guerra contra a bebida é tão terrível como qualquer outra, e carrega um agravante: há sempre o risco de se entregar ao inimigo por iniciativa própria, por mera fraqueza. Em dezembro, Baker se entregou. O efeito na quadra foi imediato, o técnico percebeu, a diretoria investigou, os médicos confirmaram e a verdade veio à tona.
Mesmo sem admitir textualmente que voltou a beber, o pivô, envergonhado, pediu desculpas à torcida em nota redigida após a suspensão: “Continuo na estrada da recuperação, mas sofri uma recaída no processo. Estou muito decepcionado comigo mesmo. No entanto, sinto-me decidido a direcionar meus esforços para retomar o caminho.”
Aprovado no dia 31 de julho, o tratamento de Baker é acompanhado por uma junta médica que inclui o diretor de medicina da NBA, Lloyd Boskins. Assim, ficou combinado que ele poderia continuar jogando, desde que se esforçasse para se livrar do vício. A primeira recaída renderia uma suspensão. Foi o que aconteceu na terça-feira, quando a diretoria dos Celtics recebeu a notícia do teste positivo. Fontes do time informaram que o valor da multa gira em torno de US$ 75 mil.
A punição deixa o atleta fora das partidas contra Magic, Cavs e Rockets, com retorno estimado para a outra terça, em Milwaukee. O acordo prevê que, no caso de um segundo tropeço, a suspensão valerá para a temporada inteira.
O curioso é que o resultado do teste saiu um dia depois de uma declaração otimista de Baker ao Boston Herald: “Tenho sido muito cobrado. Às vezes é difícil, mas a recuperação vai muito bem”, declarou, contando que sua rotina virou do avesso com as longas sessões de terapia, sempre à noite, após o dia inteiro de trabalho.
É natural que o processo tenha altos e baixos. Resta saber se é possível resistir ao primeiro baque. O outono se foi, o inverno deu as caras, mas apoio não vai faltar. Diretoria, comissão técnica, companheiros de equipe, torcida e família vão dar suas cotas de solidariedade. Ou seja: voltar ao tapete vermelho depende essencialmente de Baker. É justamente isso que torna o futuro ainda mais nebuloso.
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foto . nbae
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