6.1.04



e quando a gente menos espera...
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))) Adeus, Phoenix: tem craque mudando de camisa


Era para ser uma segunda-feira tranqüila. Programada com rara antecedência, a crônica sobre o primeiro duelo de brasileiros na NBA corria tímida, ali pelo terceiro parágrafo, quando a cautela buzinou no meu ouvido que canja de galinha e uma visita rápida à internet não fazem mal a ninguém.

Lá fui eu.

Do editor de texto ao navegador, meia dúzia de cliques depois, tropecei na notícia que desmontou meu planejamento e me deixou diante de uma página em branco para destrinchar um assunto novo, bombástico. Não se falava de Nenê, muito menos de Alex. Parem as máquinas:

Stephon Marbury é do New York Knicks.

Este é o tipo de notícia que nos força a ler duas vezes para assegurar que o cérebro não nos traiu. Pois então vamos repetir o serviço completo. O Phoenix Suns mandou para Nova York, embrulhado em papel de presente, um pacote que inclui Marbury, Penny Hardaway e Cezary Trybanski. Recebeu em troca um mega-embrulho com Antonio McDyess e um punhado de bugigangas: Howard Eisley, Charlie Ward, Maciej Lampe, Milos Vujanic, uma escolha no draft de 2004 e outra no de 2006.

Refeito do susto, me pus a pensar sobre o que havia acontecido. As impressões ainda são superficiais, mas extensas o bastante para dividir este texto em tópicos, vasculhando os ganhadores e os perdedores da negociação. A princípio, a monstruosa vantagem da turma nova-iorquina encobre qualquer análise. Um olhar mais apurado, contudo, revela que nem tudo é flor no reino de Spike Lee e nem tudo é tragédia no deserto do Arizona. Vamos por partes:

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O que foi bom para o New York?
Esta é a parte mais óbvia. O time precisava de um All-Star de peso para reacender a esperança nas arquibancadas do Madison Square Garden. De imediato, a chegada de Marbury resolve o problema, e justamente na posição 1, a mais fraca do elenco. Marbury e Allan Houston formam, de cara, uma das três melhores duplas de armadores de toda a NBA (respeitemos Kobe/Payton e Nash/Finley). A tiracolo, Hardaway aparece como um reserva de luxo (mesma função que exercia em Phoenix). A curto prazo, só uma catástrofe pode fazer a troca dar errado.

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O que foi ruim para o New York?
Em primeiro lugar, a folha salarial fica estrangulada. Queiram ou não, vai ser este o time dos Knicks por um bom tempo, porque qualquer negociação será dificultada pela tênue margem de manobra financeira do elenco. Na quadra, perde-se em dois pontos. 1) Sem Ward e Eisley, não existe um reserva para Marbury. Moochie Norris e Frank Johnson não seguram a onda. A saída seria devolver Penny à função original, mas isso abriria um vácuo na cobertura de Allan Houston. 2) Sem McDyess ou alguém para compensar sua habilidade, a força no garrafão fica reduzida.

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O que foi bom para o Phoenix?
No próximo verão americano, o time estará abaixo do teto salarial. Livre dos contratos milionários de Marbury e Hardaway, terá pelo menos US$ 8 milhões em caixa para fazer uma boa proposta a um dos medalhões de passe livre. O alvo é nítido e cristalino: Kobe Bryant, insatisfeito em Los Angeles e doido para mudar de ares, de preferência para uma vizinhança que já tenha bons nomes como Shawn Marion e Amare Stoudemire. Se Kobe não topar a empreitada, o plano B já está escolhido: Steve Nash.

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O que foi ruim para o Phoenix?
Falando da temporada 2003-2004, tudo é ruim. A não ser que aconteça um milagre, o time desiste oficialmente da luta pelos playoffs. Pior, torna-se candidato à lanterna definitiva da conferência Oeste, agora que sacos de pancadas como Nuggets e Clippers ficaram mais espertinhos. Marion e Stoudemire que abram o olho: o vexame é aposta quase certa.

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Q U E M * G A N H A :

))) Isiah Thomas
É o grande vencedor. O novo presidente chegou a Nova York enfiando o pé na porta. Dane-se o dinheiro, que venham as vitórias. Provavelmente, também é assim que pensa o torcedor dos Knicks, cansado de perder, perder e perder. Thomas ganha muitos pontos com essa jogada, mesmo que a folha inche e a bomba estoure daqui a alguns anos. Não importa, o orgulho local está recuperado.

))) Stephon Marbury
Em Phoenix, nada estava funcionando e os playoffs já eram caso perdido. De repente, pintou um desafio irrecusável, a proposta para jogar na Nova York natal. Com o carimbo de All-Star no currículo, o armador migra para o Leste, onde vai enfrentar adversários mais fracos e terá chances muito maiores de classificação. De quebra, tem o espírito necessário para vestir o novo uniforme.

))) Howard Eisley
O armador deixa um rastro maldito, de uma posição onde nunca se firmou, mas passa a respirar novos ares nos Suns, com a incumbência de substituir o astro que se foi. Se tudo correr bem, a responsabilidade deve aumentar o rendimento.

))) Leandrinho Barbosa
Como Ward parece fora dos planos, o brasileiro deve disputar com Eisley um espaço entre os titulares. Convenhamos que a briga ficou mais fácil. Perde-se a orientação preciosa de Marbury, mas ganha-se em minutos de jogo e possibilidade de se tornar o primeiro armador do time. Eisley larga na frente, mas convém abrir o olho. Vide a sensacional performance de Leandrinho na partida de ontem, contra o Chicago: sendo o único do elenco na posição 1, ele atuou por 39 minutos, marcou 27 pontos, deu quatro assistências, roubou duas bolas e converteu 11 de 18 arremessos. Deste canto, torcida não vai faltar.

))) Cezary Trybanski
Esquecido no Arizona, o pivô terá mais tempo de jogo no confuso garrafão dos Knicks.

))) Kurt Thomas
Insatisfeito por ter perdido a posição de titular para McDyess, o ala-pivô chegou a pedir para ser trocado. Agora, não tem mais do que reclamar. A vaga é dele e ninguém tasca.

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Q U E M * P E R D E :

))) Antonio McDyess
A não ser que recupere imediatamente a velha forma, vai amargar a reserva de Stoudemire. Isso pode até ser bom, se a intenção é recuperar o físico sem alarde. Mas a migração veio na hora errada para quem precisava ganha confiança como titular.

))) Penny Hardaway
A mudança de ares era necessária, mas o ideal seria a transferência para uma equipe onde pudesse ser titular. Disputar a posição com Joe Johnson é uma coisa, dá para dividir os minutos. Com Allan Houston, a história é outra. Está condenado à reserva eterna.

))) Charlie Ward
O veterano foi usado como peso morto e deve ser dispensado pelo Phoenix até o fim da semana. Com sorte, pode acabar encontrando vaga numa franquia de baixo escalão.

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Logo mais, os Knicks estarão em Cleveland, mas os exames médicos provavelmente vão adiar a estréia dos reforços para quinta-feira, em casa, diante do Houston Rockets. Para completar o show, a partida marca o retorno de Jeff Van Gundy ao Madison.

Que tal?


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No fim das contas, o duelo de brasileiros foi uma decepção. Pelo San Antonio, Alex jogou sete minutos, roubou duas bolas, errou quatro arremessos e saiu de quadra sem marcar um pontinho sequer. Nenê anotou quatro míseros pontos e só pegou um rebote. Valeu pelo registro histórico, mas, duelo mesmo, fica para a próxima.

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foto . cnn/sports illustrated

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