13.7.03



TIME DOS SONHOS




Se tivesse uma bola de cristal,
Malone veria dias animadores




Após três anos de dinastia, o Los Angeles Lakers trombou com Tim Duncan e sentiu gosto amargo do fracasso. Pelo visto, o sabor não agradou nem um pouco. Decidida a recolocar a franquia no caminho das glórias, a diretoria resolveu jogar pesado. Em meio aos dólares escassos, o anel de campeão tornou-se uma isca infalível para seduzir uma dupla de All-Stars que chega para formar, ao lado de outro par de craques, um time titular sem paralelos na NBA. A receita é parecida com a do Real Madrid: preencher os uniformes com talento de primeiro nível e deixar o resto nas mãos do técnico.

Karl Malone, Gary Payton, Kobe Bryant e Shaquille O’Neal formam o Dream Team que Phil Jackson pediu a Buda.

Se vai dar certo, só o tempo dirá, até porque o banco de reservas é ruim de doer. Mas o mestre-zen é o único treinador que pode encher a boca para dizer que tem quatro atletas fora-de-série à sua disposição. Na beira da quadra, sua missão primordial vai ser administrar os egos inflados. Encaixar um ala de ligação ali no meio chega a ser uma tarefa irrelevante. Coitado de Devean George, mal vai pegar na bola.

Sinceramente, não creio que haverá uma batalha para ver quem atrai mais holofotes. Payton e Malone, ambos na curva final da carreira, sacrificaram o bolso pelo sonho de conquistar um título. O armador desprezou uma oferta mais gorda do Milwaukee e o ala se contentou com pífios honorários. Se a dupla afrouxou a ganância financeira para almejar o belo troféu dourado, não vale a pena estragar tudo no terreno da vaidade. Ficamos combinados assim: Kobe e Shaq comandam o show; e os recém-chegados fornecem a ajuda que faltou na última temporada.

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Todo mundo sabe que Karl Malone não tem exatamente o perfil do sujeito boa praça. Em dezoito temporadas, o ala desandou a falar besteiras por aí e criou um punhado de antipatias. Mas acusá-lo de traidor e egoísta por ter deixado Salt Lake City soa como choro de torcedor saudoso. É até compreensível que os fãs do Utah Jazz fiquem chateados com seu ídolo, assim como a turma de Chicago não gostou nem um pouco de ver Michael Jordan envergando um uniforme azul por duas temporadas. Partir em busca de uma realização pessoal, no entanto, não significa jogar por terra uma história de quase duas décadas.

O que Malone fez pelo Jazz jamais será apagado. O público de Utah viu, ao vivo, durante anos a fio, a construção da carreira de um dos maiores alas-de-força de todos os tempos, se não o maior. Foram 14 seleções para o All-Star Game, dois títulos de MVP, duas medalhas de ouro olímpicas e uma dobradinha memorável com John Stockton. O anel só não veio porque Jordan apareceu duas vezes no caminho.

Se vier agora, com os Lakers, poderemos até discutir a divisão percentual da conquista, dependendo das atuações de cada estrela. Mas não há mal algum em perseguir o sucesso. Malone não está pisando em ninguém, não está passando colegas para trás, não está manchando em nada sua bela carreira. Ao contrário, está enfrentando um baita desafio. Ele sabe que, caso o troféu não venha, os críticos vão babar de felicidade.

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IRONIA - Um dos pontos mais curiosos de toda essa discussão é saber que Malone usa o número 32, que em Los Angeles foi aposentado em homenagem a Magic Johnson, um dos maiores gênios do basquete, discriminado pelo próprio Malone quando se anunciou portador do vírus HIV.

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SOZINHO - Triste é a situação de Jerry Sloan, que renovou seu contrato com o Jazz e ficou a ver navios, sem suas grandes estrelas. Que ninguém se iluda: contratar Andre Miller e um punhado de atletas medianos não vai fazer do Utah um grande time. Se a folga salarial não for bem empregada, o torcedor terá de se contentar com um elenco medíocre, que tem tudo para repetir o trágico destino dos Bulls na era pós-Jordan.

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NOVA FORÇA - Ao levar seus músculos para New Jersey, Alonzo Mourning põe mais lenha na fogueira de expectativas para a próxima temporada. Como ninguém manda nos caprichos do organismo, convém manter uma certa dose de cautela. Mas se os problemas de saúde não atrapalharem, os Nets terão em 2003-2004 um time tão bom quanto os afamados medalhões do Oeste. Mourning é um daqueles jogadores que equilibram magistralmente habilidade e força física. Na elite dos pivôs da NBA, não há mais ninguém com essa característica. Além da qualidade garantida embaixo da cesta, vale festejar a permanência do All-Star Jason Kidd, que decidiu renovar por seis anos. Somando-se a isso a evolução natural de Kenyon Martin e Richard Jefferson, além da vontade engasgada de rasgar o rótulo de vice-campeão, vai ser duro segurar a turma de Byron Scott.

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VAMOS DEVAGAR - Com a renovação de Jermaine O’Neal, a imprensa americana já lista o Indiana Pacers como um dos favoritos no Leste. Discordo. Ainda há muitas perguntas em aberto. Os Millers (Brad e Reggie) vão permanecer? Ron Artest vai tomar jeito? Al Harrington vai desabrochar? Jamaal Tinsley vai aprender a jogar basquete?

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DECEPÇÃO - San Antonio e Dallas, as duas maiores forças do Texas, têm se dado muito mal neste período de negociações. Os Spurs vêem seus pretendentes tomando rumos distintos: Malone e Mourning acertaram com outras equipes, enquanto Kidd, O’Neal e PJ Brown concordaram em renovar seus contratos. E agora? O que fazer com todo aquele dinheiro? Gastar com Michael Olowokandi ou Brad Miller? Sinceramente, acho que vale mais a pena guardar para o ano que vem. Os Mavs de Mark Cuban, por sua vez, fizeram muito alarde e acabaram comendo mosca. Terão de se contentar com o segundo escalão.

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(Foto – Jed Jacobsohn/NBAE)

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