31.8.03



A BICADA DO PÁSSARO




O craque Larry Bird começou mal na cartolagem



Corria a tarde de quarta-feira na cidade de San Juan quando tocou o celular de Jermaine O’Neal. No outro lado da linha, Isiah Thomas anunciou em voz mansa que não era mais o técnico do Indiana Pacers. O’Neal desabou numa poltrona, soltou uma risada e perguntou se Thomas estava brincando. Não estava.

Consumava-se ali a primeira ação relevante de Larry Bird como presidente da franquia, uma espécie de estréia nefasta no cargo que ocupa desde o início de julho. Ao fim da ligação, o trio de personagens estava claramente definido: um cartola cheio de si, um técnico magoado e um All-Star enfurecido.

“Ele era mais que um técnico pra mim. Era como um pai”, O’Neal revelou à imprensa horas depois, numa entrevista coletiva. A notícia caiu para ele como uma bomba. Antes de renovar com os Pacers, o jovem pivô avisou o manda-chuva Donnie Walsh que só ficaria se Thomas continuasse no comando das pranchetas. Palavra empenhada, US$ 126 milhões extraídos do cofre, uma caneta para cada lado, contrato renovado.

Pouco tempo depois, Bird entrou na história.

O ex-craque do Boston Celtics avaliou o retrospecto recente do time e julgou indesculpável a queda abrupta de rendimento na reta final da última temporada regular. Vestindo a fantasia do chefe que precisa mostrar serviço, ele se empenhou em encontrar um culpado. E elegeu como vilão o homem que o enfrentou, há duas décadas, em batalhas históricas nos playoffs da NBA.

“Não sei com que time eu teria assinado, mas se soubesse que isso ia acontecer, não teria renovado com o Indiana. Ponto final.” Algo me diz que essas palavras de O’Neal são mais confiáveis que as de Donnie Walsh.

Além de causar a revolta do melhor jogador da equipe, a demissão de Thomas teve outro lado desagradável: o técnico sequer foi chamado por Bird para uma conversa. Não teve tempo de contar sua versão do fracasso no último campeonato. Não pôde nem explicar ao novo patrão que, no período da derrocada,

1) O padrasto de O’Neal tentou se suicidar.
2) A mãe de Jamaal Tinsley foi derrotada pelo câncer.
3) O sogro de Austin Croshere morreu repentinamente.
4) O temperamento de Ron Artest desandou.
5) A mão santa de Reggie Miller perdeu a calibragem de uma hora para outra.

Demissão sumária, nada de explicações. Assim, abriu-se o caminho para a contratação do amigo Rick Carlisle. O novo técnico terá em mãos o mesmo Artest enlouquecido, o mesmo Miller descalibrado, um Scot Pollard que não joga metade do que joga Brad Miller e (o mais grave de tudo) um Jermaine O’Neal pra lá de insatisfeito.

Boa sorte para a dupla Bird/Carlisle. E que Thomas encontre um chefe mais ético no próximo emprego.

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Na noite daquela quarta-feira, um atleta da seleção americana teve atuação apagada contra o México e foi eliminado com cinco faltas após ter jogado apenas 12 minutos. Adivinhe quem.

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POLÊMICA - Quem costuma passar por aqui com alguma freqüência já deve ter percebido minha simpatia pelo basquete de Allen Iverson. De fato, sua convocação para o Pré-Olímpico me agradou bastante, assim como vinham agradando suas atuações solidárias e esforçadas nas quadras de Porto Rico. Eis que, em plena semifinal, o baixinho invocado abandona o torneio por conta de uma lesão no polegar da mão direita. No calor da notícia, Renato Ribeiro, competente repórter do Sportv, informou que Iverson, na verdade, se envolveu numa pendenga disciplinar.

O atleta teria se esbaldado numa festa até alta madrugada e faltado a um evento beneficente, no qual bateria bola com crianças, irritando o técnico (e seu quase-desafeto) Larry Brown. Se realmente foi verdade (principalmente o bolo no evento), reprovo a atitude sem pestanejar. Até porque, na sexta-feira, Iverson gastou o dia de folga participando de um torneio de 3-contra-3 na região de Caguas. A brincadeira foi promovida pela Reebok, que tem com o jogador um contrato vitalício.

Em todo caso, continuo esperando dados mais concretos. É estranho que os grandes sites esportivos americanos (ESPN, CBS, Fox, Sports Illustrated) não tenham dado uma nota sequer sobre o fato. Mais estranho ainda é o episódio ter sido ignorado até agora pelos grandes jornais da Filadélfia (Inquirer, Daily News e New Observer), que adoram pegar no pé de Iverson. Prefiro não condenar ninguém antes da hora, e não acredito que a lesão no dedo seja apenas uma notícia de fachada, como insinuou o Sportv. O basquete americano nunca foi de encobrir atos de indisciplina. Ao contrário, sempre puniu publicamente os encrenqueiros.

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NERVOSINHOS - Justamente no dia em que o bad boy estava no banco, os americanos pareciam encapetados. Na semifinal de sábado contra Porto Rico, os ânimos esquentaram. Kenyon Martin, irritado, empurrou Daniel Santiago e gerou um tumulto desnecessário. Tracy McGrady, debochado, provocou Eddie Casiano antes de uma enterrada e quase armou uma confusão ainda maior. Não deu para entender.

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QUE FIQUE CLARO - Voltando ao Sportv: o narrador Luiz Carlos Júnior disse dezenas de vezes que Kobe Bryant não disputa o Pré-Olímpico por causa das acusações de estupro. Errado. Kobe foi cortado porque está se recuperando de cirurgias que fez no joelho e no ombro. Bem antes do escândalo sexual, já se sabia que ele não iria a Porto Rico.


:::::::: :::::::: Z O N A . M O R T A :::::::: ::::::::

Danny Ferry trocou os Spurs pelos Pacers, mas deve tomar o caminho de volta em breve. Nos próximos dias, o Indiana deve dispensar o jogador, que assumirá um cargo técnico em San Antonio.

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Após perder Gilbert Arenas e Antawn Jamison, o Golden State corre o risco de ficar sem Jason Richardson, que foi condenado esta semana por violência doméstica e pode pegar alguns meses de cadeia.

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Pat Riley vai ter trabalho para encaixar Lamar Odom, Caron Butler, Eddie Jones e Dwyane Wade no time titular. Se conseguir, acreditem, o Miami Heat pode se tornar uma gratíssima surpresa.

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Alô cartolagem, atenção para o fim de feira: Jason Terry, Jim Jackson, Raja Bell, Tyrone Hill, Voshon Lenard, Rod Strickland, Brian Shaw, Gary Trent, Jacque Vaughn e Walt Williams ainda estão dando sopa por aí.

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(Foto – CBS/Sportsline)

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