1.6.04
los angeles, hora do rush
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))) Com a mão calibrada, o jovem Kareem apontou
para o passado e conduziu os Lakers à grande final
Corriam meados de 1980 quando um certo Kareem alcançou a glória. Após meia década de batalha incansável sem ter chegado a uma final de NBA, o gigante Abdul-Jabbar finalmente conseguiu ser campeão com a camisa 33 do Los Angeles Lakers. O sabor do título ele já havia experimentado com o Milwaukee Bucks, mas aquele era o primeiro de uma série de cinco troféus que o pivô ergueria ao lado do inigualável Magic Johnson, marcando um período de euforia sem precedentes na Califórnia.
Naquele mesmo ano, vejam vocês, nascia em Kansas City um outro Kareem. Franzino e bem mais baixo que o homônimo famoso, o garoto penou um bocado nas quadras da escola de Pembroke e só ganhou alguma evidência quando já cursava a universidade de Missouri. Insistente, foi selecionado pelo Toronto Raptors na 20ª posição do draft de 2002, inscrevendo o sobrenome Rush nas fileiras da NBA. O destino, sempre atento, tratou de mandá-lo logo para Los Angeles, trocado pelo também novato Chris Jefferies.
Ontem, a história de dois Kareems, tão díspares dentro do mesmo uniforme amarelo, encontrou um breve ponto de interseção. Assim como Abdul-Jabbar em 1980, Rush conseguiu carimbar seu passaporte para a final da NBA. Ainda que por uma noite, saiu de quadra festejado como herói.
Como se estivesse possuído, o jovem Kareem pulou do banco e fez de seu anonimato um trunfo. Enquanto o adversário se desdobrava para marcar os famosos Kobe, Shaq, Payton e Malone, o rapaz de 23 anos desandou a cravar arremessos de três pontos, um atrás do outro, matando lentamente o bravo Minnesota Timberwolves.
Foram seis tiros em seqüência, sem um erro sequer, seguidos de um chute torto que só serviu para quebrar a estatística perfeita. Perfeição, claro, é coisa para Abdul-Jabbar, não para Rush. Sua glória pode ter se resumido a apenas um jogo, mas time com pinta de campeão é assim mesmo: sempre tem um coadjuvante abusado para roubar a cena.
Saiu das mãos calibradas de Rush o arremesso que deu à equipe a vantagem de 71-68, enquanto corria o quarto período. Dali para frente, os Wolves só comeram poeira. Na reta final da partida, vieram mais duas estocadas de três para decretar a singela diferença entre um time de gente grande e um time de garotos: no Los Angeles Lakers, até os garotos jogam como gente grande.
Kareem Abdul-Jabbar deve ter aplaudido com entusiasmo, provavelmente sem perceber que iniciou sua dinastia à frente dos Lakers no mesmo ano em que nascia aquele moleque.
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No Staples Center, a cena é sempre a mesma. Até o fim do terceiro quarto, tudo parece possível. Quando a bola quica para o último período, o ginásio se transforma e passa a conspirar a favor do time da casa. Kobe Bryant e Shaquille O’Neal se embolaram com o excesso de faltas, mas e daí? Foi no momento mais crítico que o quinteto de Los Angeles jogou com bravura de campeão, sem medo de partir para cima do adversário, convertendo os lances mais improváveis, como manda o figurino de quem caminha nos trilhos do título.
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Garnett, Sprewell, Hassell, Szczerbiak, Hoiberg, Johnson, Madsen, todos estão de parabéns. Na hora da verdade, o Minnesota teve o azar de não poder contar com o endiabrado Sam Cassell, tampouco com seu reserva natural, Troy Hudson. A dupla fez muita falta, mas a franquia deixa a temporada de cabeça erguida e conformada, com a sensação de que não conseguiria mesmo derrotar os Lakers, com ou sem o elenco completo.
Cá entre nós, parece que ninguém consegue.
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Encontrar semelhanças entre Rush e Abdul-Jabbar custou uma madrugada de pesquisa, mas valeu para mostrar como o basquete é capaz de produzir coincidências saborosas através dos tempos.
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foto . cbs/sportsline
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