26.6.04
o trabalho sujo
______________________________
))) Baby chega a Toronto como carregador de piano
Quando o brasileiro Rafael Araújo foi anunciado no draft de Nova York, a reação foi imediata, bem longe dali, no Canadá. Atentos ao telão, torcedores se reuniram no ginásio do Toronto Raptors para avaliar a chegada dos calouros. Uns, desconfiados, tentavam manter o otimismo. Outros, mais radicais, vaiavam Baby sem piedade.
Cá entre nós, a reação é mais do que natural. A escolha do cartola Rob Babcock talvez tenha sido a mais surpreendente de toda a primeira rodada, o que mergulha a torcida em clima de desconfiança. Ainda mais quando o contemplado é um brasileiro, grandalhão e branco.
A expectativa do Toronto no draft se equilibrava entre um pivô e um armador. Como Ben Gordon, Shaun Livingston e Devin Harris já haviam sido escolhidos, a opção se voltou para um pivô com experiência universitária, capaz de entrar direto no time titular sem comprometer. É claro que o ideal seria ter bala na agulha para correr atrás de um Shaquille O’Neal, mas sabemos que os Raptors não conseguiriam nem um Erik Dampier.
Pois agora o único garrafão canadense da NBA pertence a um brasileiro.
Aos 23 anos, com 2.11m e 131kg, Araújo mal acreditou. A noite do draft resgatou lembranças de outra noite, a primeira nos Estados Unidos, quando o jovem forasteiro chorou copiosamente na solidão de um pequeno quarto na Universidade do Arizona. Trocar o cinza frenético de São Paulo por um deserto americano foi um movimento arriscado e rendeu momentos de dúvida intensa sobre o futuro.
Agora, o futuro chegou.
Com a camisa 55 dos Raptors, Baby engrossa a colônia de brasileiros na NBA. Com Ânderson Varejão aportando no Orlando Magic, somos cinco cabeças no melhor basquete do mundo.
Ufanismo à parte, é preciso cautela. Não dá para esperar do esforçado Rafael um papel de liderança no Canadá. Dividindo a quadra com Vince Carter, Jalen Rose e Chris Bosh, ele não vai brilhar como cestinha e raramente terá os holofotes no seu encalço. Isso ficou claro nas declarações de Babcock, logo após a seleção universitária.
“Ele vai fazer o trabalho sujo”, sentenciou o cartola. E o que isso significa? Ora, significa que Bosh terá um peão para trombar embaixo da cesta, liberando-o para a posição 4, sua favorita. Significa que o time ganhou um poste para fazer corta-luz a torto e a direito. Significa que cada disputa de rebote será travada como se fosse de vida ou morte.
Em resumo, significa que Baby entra na equipe como válvula de escape, com a missão de fazer o elenco principal render melhor.
Ainda assim, será uma bela escola para o brasileiro, que agora espera resolver suas pendências com a seleção e sonha um dia ser chamado para o All-Star Game na liga americana.
É bem provável que já esteja lá em fevereiro próximo, defendendo o time dos calouros.
______________________________
Fica difícil prever o futuro de Varejão antes da definição sobre a saída do craque Tracy McGrady, que pode causar uma revoada no elenco. A princípio, vejo o ex-ala do Barcelona em maus lençóis, tendo de disputar vaga com os Howards (Dwight e Juwan), além do promissor Drew Gooden.
______________________________
foto . nbae
Nenhum comentário:
Postar um comentário