4.11.04



à beira da quadra
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))) Alonzo e Shaq estavam ali, a dez metros


* De Nova Jersey

A quarta-feira começou com um “sinto muito”. Era a assessora da NBA, simpática no e-mail, me avisando que estava tudo ok para as partidas de sexta e sábado, mas para a estréia de Shaquille O’Neal... bem, “sinto muito”. Por uma falha de comunicação entre os departamentos, fiquei sem credencial ou ingresso para o embate entre Heat e Nets.

Àquela altura, eu tinha duas opções: esquecer East Rutherford (e passar a noite circulando em Nova York) ou tentar a sorte na mão de um cambista. Pois lá estava eu, duas horas antes do tapinha inicial, brigando com a máquina de venda de passagens no terminal de Port Authority. Fila chata, gente apressada, e até que a viagem foi rápida. Em 20 minutos, o ônibus chegou à Continental Airlines Arena, que não é tão isolada assim como dizem.

Já cheguei procurando os “vendedores alternativos” mas, por via das dúvidas, resolvi passar na bilheteria e tive uma surpresa: mesmo sendo o primeiro compromisso da temporada e coincidindo com a estréia de Shaq no Miami, ainda havia um monte de ingressos à venda, em todos os cantos do ginásio e com quase todos os preços disponíveis. De fato, a torcida dos Nets não gosta muito de basquete.

Uma vez lá dentro, impressiona a imensa praça de alimentação que cerca as arquibancadas. Tem de tudo para comer e beber. E como o americano come! Tudo muito organizado, centenas de jovens envergando os uniformes mais variados, da 21 de Brian Scalabrine à camisa que Kevin Garnett usava no segundo grau. Fui chegando devagar e logo estava na minha poltrona, bem perto da quadra.

Os atletas entraram para o aquecimento e eu me vi ali, a 10 metros de Shaq, Dwyane Wade, Eddie Jones, Richard Jefferson, Alonzo Mourning...

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))) O jogo

Com a bola quicando, ficou evidente a falta que Jason Kidd faz ao New Jersey. Com Jacque Vaughn comandando a armação, o time da casa parecia perdido no ataque. Todo mundo se apressava em passar a bola para Jefferson que, bem marcado, não conseguia produzir. Resultado: Miami 13-2 antes do primeiro pedido de tempo.

Quando faltavam cinco minutos para o fim do período inicial, o técnico Lawrence Frank lançou Mourning no lugar de Eric Williams. Tive a honra de levantar e bater palma (eu e todo o ginásio) para o retorno de um grande pivô. A torcida reconheceu a importância daquele momento e, a cada lance de Zo, derramava-se em aplausos. Contra Shaq, Michael Doleac ou Malik Allen, Alonzo mostrou que ainda pode ser muito útil ao basquete. Brigou pelos rebotes com disposição de garoto e encarou a marcação sem medo.

Com o veterano em quadra, Jason Collins passa a jogar na posição 4, numa formação que me agrada muito. Jefferson completa a ala e a armação fica a cargo de Vaughn e Ron Mercer. O primeiro decepcionou (a rotação funcionou melhor com Travis Best), mas o segundo levantou a arquibancada em vários momentos. Não foi o bastante para impedir que o Heat abrisse 20 pontos de vantagem.

Fica a impressão de que Jason Kidd vai fazer esses sujeitos evoluírem. Com a volta do armador, Mercer, Williams, Planinic e Buford devem crescer e o New Jersey pode até brigar por um lugar ao sol. Sem seu principal atleta, no entanto, o que se vê é um bando em quadra. Na poltrona ao lado da minha, um menino pedia, a cada ataque, que a bola chegasse a Jefferson. “Não passa, Rich, arremessa!”, gritava, ilustrando a limitação do time.

Do outro lado da quadra, os visitantes nem precisaram da força de Shaq para vencer. O gigante deu apenas uma amostra grátis do que pode fazer, marcando 16 pontos. Dwyane Wade comandou o show armando praticamente todas as jogadas e distribuindo dribles desconcertantes a torto e a direito. Até a torcida dos Nets se rendeu à habilidade do jovem de 22 anos. Ficou claro que, com o devido entrosamento (e sem contusões), o Miami pode se tornar uma das potências da liga. Rasual Butler se movimentou bem e Damon Jones surpreendeu com uma boa atuação. Se O’Neal se mantiver saudável, vai ser difícil segurar essa gente.

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))) O pós-jogo

Assim que terminou a partida, 100-77, o rapper Jay-Z se levantou da primeira fileira para ir embora. Pronto: todo mundo esqueceu o basquete. A garotada voou para cima dele, todos com seus celulares equipados com câmeras, implorando por uma foto com o ídolo. Eu bem que tentei prestar atenção na entrevista que Shaq dava a poucos metros de mim, mas o tumulto foi tamanho que não deu pra ouvir nada.

No ônibus de volta para Nova York, ninguém falava sobre Nets ou Heat. “Adivinha o que aconteceu! Acabei de ver o Jay-Z!”, a menina no banco da frente contava a novidade para alguém do outro lado da linha. Na parte de trás, a turma cantava uma música do rapper.

E eu, flutuando no banco, voltava para o hotel completamente realizado, após ter assistido meu primeiro jogo da NBA ao vivo.

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Amanhã tem mais. Se a assessoria da NBA não furar de novo (toc, toc, toc), estarei no Wachovia Center para ver os Sixers de Allen Iverson contra os Suns de Leandrinho. Vou tentar escrever algumas linhas ainda hoje, de algum lugar da Filadélfia. À noite, tem Nets x Bulls na TV, boa chance de conferir a molecada de Chicago.

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Texano, valeu pelas dicas. Por enquanto, o que me salva é o Kinko’s, com acesso baratinho para laptops. Por isso o texto tão grande. Desculpem se ficou cansativo, mas achei que valia a pena contar a aventura em detalhes. Repararam que os acentos estão de volta? Espero que continue assim. Até

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foto. cnn/sports illustrated

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