6.11.04
sixers, suns e os japoneses
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))) Amare Stoudemire fez a festa ontem à noite
* Da Filadélfia
Enfim, o sol deu as caras na Pensilvânia. O frio continua devastador, mas pelo menos dá para circular pelas ruas. O hotel fica grudado no Museu Rodin, mas um pouco longe do Wachovia Center, onde os Sixers receberam o Phoenix Suns na noite de ontem. No caminho para o ginásio, o taxista gente fina deu várias dicas sobre a cidade, mas o tempo é curto e o turismo vai ficar para a próxima.
A NBA sempre foi símbolo de organização, certo? Bem, comigo não. Ou eles têm alguma pinimba com brasileiros ou andam meio enrolados com as credenciais. Após gastar um bocado de sapato até achar o obscuro departamento de imprensa, fui informado por uma mocinha de que não havia credenciais para mim, e tampouco meu nome estava na lista dos jornalistas internacionais escalados para sexta-feira. Em cima da hora, vejam só, fui salvo por Yuta Tabuse.
Explico: depois de várias ligações, a funcionária da NBA resolveu me colocar numa parte do ginásio que nunca foi aberta para a imprensa, mas estava disponível ontem para acomodar a horda de repórteres japoneses que acompanha o calouro do Phoenix. Lá fui eu para o topo da arena, mas a distância da quadra não chegou a atrapalhar. O assento permitia que eu visse bem os jogadores e ainda dava uma noção ampla da partida. Ao meu lado, dezenas de japas sisudos e uma polonesa simpática, bem mais velha, incumbida de seguir o compatriota Maciej Lampe onde quer que ele esteja.
Devidamente acomodado, abri o laptop cheio de esperanças, mas... nada de conexão. Paciência. Fechei a engenhoca, saquei a câmera fotográfica e fiquei, lá de cima, disparando flashes e fazendo anotações num bloquinho do Minnesota Timberwolves.
De cara, nota-se uma diferença gritante entre a torcida da Filadélfia e a de Nova Jersey. Os fãs dos Sixers se manifestam desde o aquecimento, incentivando os atletas da casa e vaiando os adversários. Quando Allen Iverson passou a mão no microfone para fazer a tradicional saudação do início da temporada, o prédio quase veio abaixo.
Chegou a arrepiar.
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))) O jogo
))) Marion anotou 24 pontos
Com a bola em movimento, a arquibancada parece viva. É uma gritaria a cada rebote, a cada cesta, a cada toco. O problema é que a animação não contagiou os jogadores. Bem armado por Mike D’Antoni, o Phoenix logo sufocou o Philadelphia e abriu vantagem no placar. O técnico optou por começar com o pivô Jackson Vroman, mas logo se tocou da besteira que estava fazendo e lançou o ala-armador Quentin Richardson em seu lugar. Formou-se, então, o tal quinteto atlético e veloz com Rich, Nash, Johnson, Marion e Stoudemire.
Não sei se foi sorte minha, mas os Suns jogaram muito ontem. A equipe consegue combinar uma boa briga dentro do garrafão (os atletas se matam por cada posse de bola) e uma velocidade mortal nos contra-ataques. Com um elenco frágil, os Sixers foram facilmente envolvidos.
Iverson carregava todas as bolas para o ataque e tentava conduzir a movimentação, mas parecia desconfortável na nova função. Jim O`Brien começou com Aaron McKie ao lado do craque, mas teve de mudar de opção várias vezes, alternando com Willie Green e até com Kyle Korver. Kenny Thomas e o novato Andre Iguodala tiveram atuações consistentes, mas o cestinha foi mesmo Iverson (25 pontos), que voltou a ser o velho chutador desesperado no quarto período. Errou muito e não conseguiu cortar a vantagem do oponente, que venceu por 108-98.
Leandrinho entrou sempre no fim de cada período. Movimentou-se bem e pareceu desenvolto no ataque, apesar de um pouco inseguro na defesa. Em dois ataques quase seguidos, levou dribles desconcertantes de Iverson, no estilo crossover. Nos últimos segundos do primeiro quarto, o craque dos 76ers chamou o brasileiro para um 1x1. A torcida se levantou, mas viu seu ídolo perder a bola, que acabou nas mãos de Joe Johnson para uma cesta espetacular do meio da quadra, enquanto soava a campainha.
É impressionante como Iverson tentou, algumas vezes, aplicar o mesmo crossover em Steve Nash, que permanecia firme na marcação. É esse tipo de coisa que Leandrinho precisa aprender com o titular. O resto é experiência, que só o tempo traz.
Nos minutos finais, placar praticamente definido, os técnicos começaram a lançar os reservas menos cotados. Para decepção dos jornalisras ao meu lado, Tabuse e Lampe continuaram sentadinhos no banco e nem chegaram a tirar o agasalho. Azar o deles, sorte minha. Foi bom presenciar uma vitória maiúscula do time de Leandrinho. O brasileiro só marcou dois pontos (numa infiltração arrojada), mas atuou durante 11 minutos e fez um trabalho honesto na defesa contra Iverson. Os donos da noite foram Stoudemire (29 pontos) e Marion (24).
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))) O pós-jogo
))) Tabuse não saiu do banco
Ao contrário da partida em Nova Jersey, na qual entrei com ingresso de torcedor, ontem a credencial me dava a acesso aos vestiários. Assim que a sirene tocou, jogo encerrado, peguei o elevador. Como estava no último andar, demorei um pouco a achar o lugar certo e, quando cheguei, vi dezenas de jornalistas cercando um jogador no corredor. Iverson? Stoudemire? Que nada. Eram os japas entrevistando Tabuse. O tímido oriental ainda estava de uniforme. Provavelmente, nem tomou banho depois do jogo, já que ficou o tempo inteiro comportadamente sentado no banco.
Como eu não entendia uma palavra do que estava sendo dito ali, passei batido e cheguei à porta do vestiário do Phoenix. Do lado de fora, o técnico Mike D’Antoni, extremamente simpático, conversava com meia dúzia de jornalistas. Explicava a estratégia adotada para conter o ímpeto de Iverson: “Nosso objetivo era que ele ficasse na média de um ponto para cada arremesso. No fim, ele teve 25 pontos em 20 arremessos. Chegamos muito perto da perfeição e conseguimos vencer”.
A repórter polonesa perguntou por que Maciej Lampe não tem sido usado. “Porque ele só tem 19 anos”, respondeu D’Antoni, abrindo um sorriso. “Vai ser um grande jogador, mas ainda é muito jovem. Já conversei com ele sobre isso”.
Aproveitei o gancho e indaguei sobre o aproveitamento de Leandrinho. O técnico parecia ainda mais bem-humorado: “Ele está muito bem. Tem trabalhado duro, mas sabe que ocupa um lugar à sombra de um grande jogador (Nash). Tenho certeza de que Leandro ainda vai evoluir muito”. Elogio feito, agradeci a atenção e cruzei a porta do vestiário.
Cinco ou seis atletas, já de banho tomado, conversavam com a imprensa enquanto se vestiam. Leandrinho, pelo visto, ainda estava lá dentro, no chuveiro, então me aproximei para bater um papo com Steve Nash. O assunto, claro, era a presença do brasileiro no time.
“I love Leandro”, sorriu o armador do Phoenix quando eu pedi que avaliasse o companheiro. Com a voz baixa, toalhinha quase indecente amarrada na cintura, Nash engrenou nos elogios: “Ele é absurdamente veloz, arremessa muito bem da linha de três e tem garra de sobra. Essa é uma combinação excelente para um jogador de basquete. Por isso não tenho a menor dúvida: Barbosa vai ser um grande nome na NBA.”
Peguei toda essa seda rasgada e levei para o próprio Leandrinho, que àquela altura já estava de calça jeans e camiseta branca. Quando me apresentei, ele pareceu feliz ao ver que poderia falar português. Destacou a energia do time e a presença em quadra mais forte que no ano passado.
“O conjunto é muito bom e a equipe é muito rápida. Estou confiante. Este ano, nada vai impedir que a gente chegue ao playoff, mesmo sabendo que é difícil brigar no Oeste”, previu o armador, que acabara de travar um confronto direto com um dos melhores jogadores do planeta. “Eu já tinha marcado Iverson antes, tanto na seleção como na NBA. É muito difícil, mas não impossível. Tento fazer o melhor.”
Parte dos frutos pode ser creditada ao aprendizado recente com Nash. Os ensinamentos de Stephon Marbury, que estava no Phoenix até metade da temporada passada, parecem não ter sido tão importantes assim. Quando sugeri a comparação, o brasileiro não ficou em cima do muro e soltou o verbo:
“São duas experiências totalmente diferentes. O Marbury não gosta de armar jogadas para o time. Prefere marcar pontos, gosta de aparecer. O Nash cria situações para os companheiros. Nossa, ele me ensina muito!”, explicou Leandrinho, que já aponta o canadense como um grande amigo fora das quadras. “É a pessoa com quem mais me dou bem no time. Ele tem uma namorada paraguaia e quer muito aprender a falar espanhol. Então eu ajudo com meu português. Nash está sempre na minha casa, ou eu na casa dele”.
Conquistar a simpatia de um dos armadores mais criativos da liga significa um grande passo para qualquer jovem atleta. Bom sinal para o nosso Barbosa, que segue asfaltando sua estrada no meio dos cachorros grandes.
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Sábado é dia de Madison Square Garden. Os Knicks do fominha Marbury fazem sua primeira exibição em casa diante dos Celtics do igualmente fominha Paul Pierce. Não sei se o laptop vai pegar no ginásio. Se possível, dou notícias antes.
Mais uma vez, o texto ficou enorme, espero que não se importem. Até.
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fotos. nbae e cbs sportsline
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