11.2.04



faxina em dose dupla
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))) Shareef e Rasheed trocam de uniforme


Quando Stephon Marbury e Penny Hardaway tomaram o rumo de Nova York, abrindo vaga para Antonio McDyess e Howard Eisley no Arizona, o horizonte ficou nítido: a NBA vive uma nova era dentro dos escritórios. Foi-se o tempo em que os cartolas trocavam atletas de mesmo nível, com o inocente objetivo de reforçar posições ou apenas incendiar a franquia. Cada vez mais, entram em jogo limites salariais, contratos na reta final, problemas disciplinares, escolhas no draft. São tantos elementos que, em vez de um raio-X preciso com meia dúzia de parágrafos, algumas negociações da liga renderiam complexas teses de mestrado.

A troca entre Blazers e Hawks, anunciada na segunda-feira, poderia se estender em cadernos e mais cadernos de análises detalhadas. Neste caso, entretanto, convém saltar direto para o capítulo da conclusão: o negócio foi excelente para os dois lados.

Em Portland, caiu o último pilar da delinqüência. A saída de Wallace é fruto de um esforço elogiável da diretoria, que gastou pulsos e mais pulsos em ligações telefônicas nos últimos anos. Foi o mesmo tipo de teimosia que deu certo em Nova York com Latrell Sprewell (com uma diferença: agora o caminho de volta foi bem melhor que o dos Knicks). Shareef Abdur-Rahim e Theo Ratliff têm capacidade de sobra para devolver os Blazers ao trilho do playoff. Além do mais, trata-se de dois cidadãos inofensivos do ponto de vista moral, e isso é o que conta atualmente naquelas bandas.

Dito isso, vamos ao ponto que renderia a dissertação acadêmica. Sem Reef e Ratliff, o Atlanta perde força no garrafão. Vai ter de usar cabeças-de-bagre como Nazr Mohammed e Alan Henderson. Tudo bem, se pensarmos que este é o único ponto negativo da história. O resto é festa.

Para começar, o entediado torcedor da Geórgia passa a ter um motivo para ir ao ginásio. Ver Wallace em quadra é algo curioso, nem que seja com olhar antropológico. Com sorte, o sujeito volta para casa com uma boa história de briga para contar. Após um longo inverno, o time finalmente tem um daqueles atletas que despertam a emoção da torcida, para o bem ou para o mal. Agora, a melhor parte do enredo: aconteça o que acontecer, este misto de herói e vilão só fica até o fim da temporada.

Rasheed e Wesley Person (outro envolvido na jogada) atravessam o último ano de seus polpudos contratos. O primeiro embolsa US$ 17 milhões e o segundo, US$ 7.4 milhões. Ao apagar das luzes, os dois estarão livres para trocar idéias com outras franquias, e os Hawks estarão livres de uma enorme pedra no sapato. Sem a dupla, a folha de pagamento cai para US$ 15 milhões abaixo do limite salarial.

O que isso significa?

Kobe Bryant na mira, claro.

O craque do Los Angeles Lakers (que também está nos planos dos vizinhos Clippers) é o nome preferido dos novos proprietários do Atlanta. Sabe-se que Kobe dificilmente permanecerá ao lado de Shaquille O’Neal e, diante da situação financeira da liga, um vôo solo só seria possível em equipes pequenas. Reerguer uma delas é um desafio pra lá de razoável.

Digamos, no entanto, que o tiro em Bryant saia pela culatra. O plano B parece definido, e recai sobre outro craque em busca de novos ares: Allen Iverson. A tese é defendida por parte da imprensa americana e confirmada por fontes da liga, mas, cá entre nós, não vejo muito sentido nela.

Primeiro porque Iverson ainda tem contrato em vigor. Ou seja, Wallace teria de ser usado como moeda de troca. Como a turma do Philadelphia não é boba, jamais abriria mão do astro pelo colega marginal. A solução? Um terceiro time no circuito. A ESPN.com aposta em Steve Francis para os Sixers, Iverson para os Hawks e Sheed para os Rockets.

Sei não.

Em todo caso, a simples possibilidade de ter um craque de verdade no elenco abre novos caminhos para o Atlanta. À beira da quadra, por exemplo. Em tempos de dança das cadeiras, Terry Stotts carrega uma corda no pescoço há um bocado de tempo. Talvez até segure o emprego até o fim do campeonato, que não vale mais nada mesmo. No ano que vem, contudo, a mudança é certa. E o candidato número 1 é Doc Rivers, cotado para o posto desde que deixou o Orlando Magic.

Com a perspectiva da chegada de um franchise player [odeio essas expressões em inglês, mas aqui fica difícil traduzir], Rivers seria um homem feliz sob o teto da Philips Arena. Para convencer o treinador, a diretoria pode lançar mão de dois outros atrativos: um calouro explosivo pescado no draft e, acreditem, uma arquibancada cheia.

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Em meio a toda essa confusão, só um ponto me levanta dúvidas: o comportamento de Wallace até o fim do ano. Vai se conformar com o papel de peso morto, à espera da guilhotina, num time fadado às derrotas? Pago para ver.

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foto . nbae

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