4.2.04



mundo dos injustos
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))) Quem tem mais pinta de All-Star?


Chutando meandros técnicos para a lateral e reduzindo os conceitos à essência mais pura, de que trata um All-Star Game? Qualquer iniciante na arte do basquete é capaz de dizer que a função básica do jogo das estrelas é reunir... estrelas. Pois pergunte por aí, numa pesquisa livre, quem é mais estrela:

LeBron James ou Jamaal Magloire?

Nem o mais rabugento dos seres fugiria do consenso. Com pleito unânime, a eleição apontaria justamente para o infeliz que ficou fora da convocação.

Por mais grotesco que isso possa parecer, LeBron vai passar a noite do dia 15 de fevereiro em casa, afundado no sofá, controle remoto e pipoca ao alcance da mão. Na melhor das hipóteses, estará acomodado em uma das confortáveis poltronas do Staples Center, batendo palmas enquanto Magloire sua o belo uniforme em quadra.

Triste.

Tal cena surreal é produto dos curiosos miolos que preenchem os crânios da cartolagem na NBA. São organizados? Sim. Competentes? Honestos? Bons administradores? Não resta dúvida. O que falta nessa turma engravatada é exatamente o que transborda em exagero ao sul do Equador nos dirigentes de futebol: jeitinho (seja brasileiro, argentino ou de qualquer outra procedência latina).

Enquanto nossos cartolas abusam da quebra de regras, fazendo disso um instrumento nefasto para deturpar regulamentos e legislar em benefício próprio, os coronéis do basquete americano fecham qualquer brecha para o improviso. Gostam de tudo certinho, asseado, impecável. Até aí, tudo bem. O problema é quando tal disciplina resvala para o engessado, o inócuo, o quadrado.

É assim no All-Star Game. Por conta de um formulário minuciosamente planejado, os técnicos da liga são obrigados a escolher, pelo menos, um pivô reserva para cada conferência. Pivô, diga-se de passagem, de acordo com o critério adotado pela direção, o que soa estranho num campeonato em que as posições se confundem cada vez mais.

E se o treinador achar que All-Star Game não é lugar para pivôs desajeitados, mas para armadores e alas habilidosos? E se não houver nenhum pivô que preste, mas diversos alas e armadores prontos para dar o espetáculo que a torcida tanto espera num evento festivo? Não interessa.

Elimina-se o artista, convoca-se o brucutu.

Nessa filosofia, Magloire ocupou uma vaga que poderia ser de LeBron. Ou de Lamar Odom. Ou de Shareef Abdur-Rahim. Ou de Stephon Marbury. Ou de Chauncey Billups. Ou de qualquer outro. O que o amigo gostaria de ver na noite do dia 15? Uma infiltração abusada de algum desses excluídos? Ou um rebote burocrático de Magloire?

Não vamos aqui, por favor, jogar pedras no pivô do New Orleans Hornets. Com 11.7 pontos e 9.4 rebotes por partida, ele atravessa ótima temporada. É uma peça importante no esquema montado por Tim Floyd.

Feita a ressalva, convenhamos que não é bem isso que o povo quer ver na festa. E ainda que fosse, vá lá, os números de Zydrunas Ilgauskas me chamariam mais a atenção na hora da escolha. O fato é que nenhum dos dois tem calibre para adentrar o Staples Center ao lado de gente como Tim Duncan, Kevin Garnett, Jermaine O’Neal e Tracy McGrady. Diante da nítida ausência de bons pivôs, não custaria nada abrir mão da exigência, afrouxar o gesso e liberar os técnicos para selecionar quem bem quisessem.

Ah, o jogo ficaria desarrumado sem um grandalhão reserva? Ora, sr. David Stern, tente usar este argumento com Don Nelson, por exemplo. O treinador do Dallas aboliu esse negócio de pivô há um bocado de tempo, e nem por isso o sistema ofensivo parece prejudicado. Se funciona no Texas, imagine num All-Star Game, onde os sistemas valem (ou deveriam valer) muito menos que o brilho individual.

A esperança é que o comandante do Leste, Rick Carlisle, dê a Magloire seus cinco minutos de fama e nada além disso. E que o garoto LeBron James possa bater palmas para quem de fato merece.

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No frigir dos ovos, os bancos se alinham assim:

LESTE
Jamaal Magloire
Kenyon Martin
Ron Artest
Paul Pierce
Baron Davis
Jason Kidd
Michael Redd

OESTE
Shaquille O’Neal
Brad Miller
Peja Stojakovic
Andrei Kirilenko
Dirk Nowitzki
Ray Allen
Sam Cassell

Das 14 previsões, errei cinco (LeBron, Ilgauskas, Odom, Randolph e Bibby). Continuo discordando das escolhas de Pierce, Magloire e Allen, mas fico feliz por Martin e Kirilenko. Ambos merecem essa estréia no terreno dos astros.

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fotos . nbae

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