23.5.04



amor e ódio
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))) Essas peças mexem até com nervos brasileiros


Com autoridade de campeão, o Los Angeles Lakers arrancou a primeira vitória em Minneapolis. Mais que roubar o mando de quadra do adversário, ampliou uma carga moral que vem se multiplicando de forma assustadora desde aquele milagroso arremesso de Derek Fisher no jogo 5 contra o San Antonio Spurs. Mordida pela descrença de alguns, a torcida angelina reagiu em fúria.

E não estamos falando da Califórnia.

Neste modesto espaço virtual, a discussão incendiou a caixa de comentários. Os argumentos inflamados carregam uma compreensível dose de ódio. Culpa, em certa escala, da previsão estampada aqui na sexta-feira. Quem mandou o cronista abusado apostar num 4-2 para os Wolves?

Em todo caso, o episódio me abre oportunidade para tecer considerações sobre um assunto que me chama a atenção há muito tempo: o fanatismo de brasileiros pela NBA. Para mim, chega a ser um enigma. Peço licença, portanto, para desviar o Rebote do tom original e, só por hoje, embarcar numa discussão de caráter quase confessional.

Com o site no ar há um ano e oito meses, aprendi um bocado sobre a paixão que o basquete americano desperta por aqui. Fiquei surpreso ao perceber que o nível de afeto às vezes se equipara ao que vemos no futebol. Não acho isso ruim, muito ao contrário, mas me impressiona a capacidade do ser humano de se atrelar sentimentalmente a uma equipe que atua em outro país, a ponto de alimentar discussões acaloradas como se estivéssemos numa mesa de bar avaliando um Fla x Flu ou um Corinthians x Palmeiras.

Tal constatação é a prova de que o esporte é mágico, imprevisível, inexplicável e um punhado de outros clichês desses que ouvimos por aí. Sei que tudo isso passa pelo fato de não termos um basquete de primeira linha no Brasil, o que facilita a identificação imediata com os melhores do planeta. Se o nosso futebol não fosse a nata mundial, talvez nos víssemos tremulando, daqui, bandeiras do Milan ou do Real Madri.

Ainda assim, confesso que o basquete gringo não consegue fazer no meu cérebro o estrago que o futebol nativo sempre fez. Quase toda semana posso ser visto aos berros no Maracanã, incentivando e xingando meu time até perder a voz. Com a NBA, minha relação é outra. Até nutro forte simpatia por uma das franquias, mas nunca me peguei exaltado na frente da TV, deprimido após uma derrota ou ofendido com algum comentário rival.

O que me hipnotiza é o jogo bem executado, o lance genial, a enterrada plástica, o toco furioso. E no mundo inteiro, ninguém faz isso melhor que os americanos, claro. Neste curto tempo de vida do Rebote, percebi que sou quase um estranho no ninho. Foi uma ótima surpresa, até porque a paixão (em níveis razoáveis) sempre alimenta o debate.

No caso específico dos Lakers, é espantoso verificar que existe até a turma do arco-íris, famosa por se unir contra equipes de massa. Aqui no Rio, há uma devastadora corrente anti-Flamengo. Em São Paulo, creio que aconteça o mesmo com o Corinthians. Trata-se de um hábito saudável, que garante o oxigênio das torcidas: a provocação bem humorada.

Há algum tempo aprendi que uma frase torta sobre a turma de Los Angeles é o bastante para reações enfurecidas. É natural que seja assim. À exceção do ano passado, Shaq e Kobe vêm atropelando a liga inteira desde a virada do século. O orgulho está tinindo. Por isso alertei para as pedradas que viriam após a previsão de 4-2 para o Minnesota.

Devo mudar o palpite? Ainda não, afinal a série está só começando. Vale lembrar que, contra o Sacramento, os Wolves também perderam o jogo 1 em casa. Os fanáticos logo dirão que os Lakers não são os Queens. Calma. Não estou torcendo contra ou pondo em dúvida a qualidade do time.

É só uma questão de cautela.

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Chega de escrever em primeira pessoa. Agora que falei tanto de mim, quero saber o que vocês pensam sobre o assunto. A caixa de comentários e a pesquisa aqui ao lado estão abertas. Soltem a voz.

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Confissões à parte, vamos às quadras.

O MVP Kevin Garnett tem uma missão urgente esta noite: superar Karl Malone. Na primeira partida, o veterano fez o que bem quis. Para mudar o rumo do confronto, a providência básica do Minnesota é fazer seu maior craque render mais que o marcador. Assim como os Lakers não podem permitir que Shaq e Kobe percam seus duelos contra Olowokandi e Hassell, os Wolves precisam se garantir em Garnett e Sprewell. Caso contrário, serão atropelados.


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Na série entre Indiana e Detroit, o quarto período chegou a ser angustiante. Especialistas em defesa, os times não sabiam o que fazer com a bola no ataque. Até que o velhinho Reggie Miller chamou a responsabilidade e interrompeu uma série de seis arremessos errados com um fantástico tiro de três, que selou a vitória dos Pacers.

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foto . nbae

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