14.5.04



a arte do impossível
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))) Em menos de um segundo, Derek Fisher
conseguiu entrar para a história da NBA



Diante de Shaquille O’Neal, Tim Duncan executou o melhor arremesso de sua carreira. Do meio da rua, cravou a cereja no bolo de numa reação heróica do San Antonio Spurs, que conseguiu apagar os 16 pontos de vantagem do Los Angeles Lakers para tomar a liderança no emblemático jogo 5 de ontem. Em êxtase, o SBC Center lotado explodiu em euforia.

Quando o cronômetro voltou a girar, bastaram quatro décimos de segundo para o atarracado Derek Fisher transformar tudo em silêncio. As arquibancadas emudeceram, incrédulas. Uns poucos homens de púrpura saltavam enlouquecidos enquanto outros milhares mal conseguiam esboçar reação.

Foi o desfecho de uma quinta-feira épica no Texas.

Não importa se o Los Angeles tinha em quadra cinco futuros integrantes do Hall da Fama. Se, por acaso, Kobe, Shaq, Malone e Payton levantarem um troféu daqui a um mês, terão o dever de olhar para trás e registrar, neste histórico 13 de maio, o devido crédito ao coadjuvante. O que Fisher fez ontem entrou direto para a galeria dos melhores momentos dos playoffs em todos os tempos.

Caso você esteja distraído e ainda não saiba o que aconteceu, tome nota. Duncan cravou um chute fantástico e virou o jogo para os Spurs quando faltavam quatro décimos de segundo para o fim da partida. A torcida, claro, se pôs a celebrar, com toda razão. Nem o maior entusiasta do basquete acreditava no que viria a seguir.

Com este tempo pífio no relógio, Payton viu Shaq e Kobe bem marcados e não teve outra saída a não ser entregar a bola na mão do seu próprio reserva. Ironia do destino é isso: o medalhão estava na linha lateral, à procura de uma alma bem colocada. O primo pobre corria de um lado para o outro da quadra, em busca de um bom posicionamento.

Quando o passe chegou, Fisher só teve tempo de girar o corpo e arremessar, com Manu Ginobili crescendo à sua frente. Se ele jogasse no Memphis, no Denver, no Orlando, no Atlanta, o chute talvez nem chegasse perto do aro.

Mas o homem enverga um uniforme do Los Angeles Lakers, fazer o quê?

Se você não acredita nessas coisas de mística, por favor me dê uma explicação racional para o que eu vi na televisão ontem à noite. Aqui deste canto, continuo tentando entender...

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Enquanto não surge um diagnóstico científico, nos resta a arte da contemplação. Um lance como este vai ser reprisado em vídeo até enjoar, mas seria injusto não valorizar uma boa seqüência de fotos.

A visão ampla do instante crucial.

Foco centrado em Fisher e Ginobili.

Fora da tela, a bola está a caminho.

O início da celebração.

Festa em terreno inimigo.

Para o time da casa, um quadro desolador.

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O resultado de ontem significa que o San Antonio é incapaz de buscar um novo empate em Los Angeles? Claro que não. Nesta série, tudo pode acontecer. Agora, cá entre nós, que este jogo 5 teve um certo cheiro de título, ah isso teve.

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foto de abertura. cnn/sports illustrated

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