25.5.04
a defesa-arte
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))) Prince e o toco do ano
Para quem está no sofá, é uma tortura. Quando o trilho dos playoffs une duas equipes de essência defensiva, as partidas costumam se arrastar a cada posse de bola. Antes de um simples arremesso, é preciso desatar meia dúzia de nós, numa interminável troca de passes, até que alguém se arrisque a furar o bloqueio, geralmente no limite do relógio.
Quando Pistons e Pacers se trombam, a tônica não pode ser diferente: para marcar pontos, os times têm de matar um leão por ataque. O jogo fica feio, truncado, repleto de chutes tortos e faltas a granel. O espetáculo passa longe da tela e a gente começa a torcer para chegar o dia seguinte, quando o Oeste entra em cena.
Até que um certo Tayshaun Prince aparece e joga toda essa teoria pelo ralo.
Em resumo, o que o ala do Detroit fez ontem foi provar que a defesa também pode se revestir de caráter artístico e fazer o pobre telespectador vibrar na poltrona. Apostando cegamente no clichê de que não há bola perdida, ele zarpou do meio da quadra e alcançou um inatingível Reggie Miller, que subia para igualar o placar com uma bandeja fácil. Fácil?
Em fração de segundo, o garoto se agigantou para cima do veterano e protagonizou um dos tocos mais fantásticos de todos os tempos.
A cesta de Miller seria o empate que o Indiana perseguia sem trégua. Faltavam 14.6 segundos e a torcida já estava de pé, com o grito atravessando a garganta. Prince tinha outra idéia: voou e deu um lindo tapa na bola. Arte pura.
O impulso foi tamanho que o jogador só conseguiu aterrissar lá pela quinta fila de cadeiras à beira da quadra. Afundado entre fotógrafos e torcedores, levou quase um minuto para se levantar, a tempo de ver Richard Hamilton, frio dentro daquela máscara, convertendo dois lances-livres que abriram os fatais quatro pontos de vantagem.
O bravo Rip, por sinal, foi o segundo herói da noite. Quem atentou para a movimentação fora da bola percebeu que ele não desgrudou de Miller um instante sequer no quarto período. Não havia corta-luz que desse jeito. Quando o veterano surgia para receber o passe na linha de três, lá estava Hamilton se debruçando em cima dele. Defensivamente brilhante, como manda o figurino da séria.
No ataque, ele marcou 13 dos últimos 15 pontos dos Pistons. Saiu de quadra como cestinha, com 23, peça fundamental na vitória que igualou o confronto.
Ao fim do jogo, o Detroit desceu para o vestiário com incríveis 19 tocos. Sem espaço, os Pacers acertaram apenas 27% dos chutes, e ainda tiveram 10 bolas roubadas no calor opressivo do adversário. O jeito foi forçar os arremessos de três, mas o aproveitamento continuou pífio: 3-20.
Com o mando de quadra devidamente roubado, Prince, Rip e os Wallaces voltam para Auburn Hill com uma novidade na bagagem: a defesa que encanta.
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foto . cbs/sportsline
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