12.6.03
ATENTADO À ESTÉTICA
Muita luta e pouco basquete:
assim caminha a final da liga
É público e notório que os nervos se afloram quando a NBA atinge seu clímax anual. Na batalha decisiva em melhor de sete partidas, os dois times mais fortes da temporada sabem que qualquer tropeço pode ser um golpe fatal. Daí o excesso de cautela, pontuado pelo clima tenso que se instala em quadra. Sob pressão, o atleta precisa redobrar o esforço e o controle psicológico para atingir seu ritmo natural. Por isso, a gente até releva os trancos e os barrancos no início do confronto.
Mas o fato é que a série entre Nets e Spurs já avança rumo à curva derradeira e, até agora, não se viu sequer um vestígio do brilho que se espera de uma final. Voltando os olhos para a decadente seqüência dos placares desde o primeiro jogo (101-89, 87-85, 84-79, 77-76), a constatação é inevitável:
Estamos diante de um embate truncado, amarrado e, acima de tudo, feio. Muito feio.
Na contramão de todas as previsões, o New Jersey esqueceu aquele estilo vistoso de transições velozes, enquanto o San Antonio jogou para o alto seu basquete-total. Ambos se entregaram a uma tática de retranca, no pior sentido da palavra. Em vez de belos lances, temos visto dezenas e dezenas de faltas, que se arrastam pelos quatro períodos, mandam jogadores para o banco mais cedo e fazem a partida se decidir em lances-livres. Pode haver algo mais chato e enfadonho?
Ontem à noite, entre um e outro beijinho de Jason Kidd para o aro, me surpreendi lamentando o fato de a final não reunir, por exemplo, times como Philadelphia e Dallas, Boston e Sacramento, Orlando e Los Angeles. Foi apenas um instante de delírio, claro. Logo depois recobrei a razão e percebi que esta seria uma solução absolutamente injusta. Ainda assim, talvez fosse mais agradável para quem gasta seu valioso tempo diante de um aparelho de TV, pedindo um espetáculo eletrizante e recebendo apenas doses homeopáticas de tédio em estado bruto.
Que Spurs e Nets sabem jogar, ninguém duvida. Os dois lados têm talento individual de sobra para mudar o rumo destas finais. Restam ao menos duas chances, uma na sexta-feira e outra no domingo. Até a configuração atual, em 2-2, contribui para elevar o nível de adrenalina. Cabe aos artistas a simples tarefa de fazer arte.
Se não fizerem, correm o risco de carimbar nesta final um inesperado selo negativo. O tempo é curto. Mãos à obra e bola pra frente.
(Foto – CBS Sportsline)
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