16.6.03



O CAMPEÃO ABSOLUTO



Uma temporada que começou de forma tão emblemática, com uma vitória sobre o Los Angeles Lakers em pleno Staples Center, só poderia terminar com uma noite especial. Foi um domingo memorável, perfeito para coroar a brilhante trajetória de um time vencedor. Não foram poucos os percalços: a desconfiança de quem apostava em oponentes mais badalados, a tabela ingrata que reservou para o último mês uma longa turnê na estrada, os tradicionais colapsos no quarto período. Tudo isso foi superado. E ninguém há de negar que o troféu cai como uma luva numa equipe que reúne o MVP, o técnico do ano, reservas que jogam como titulares e um calouro que joga como veterano.

Salve o San Antonio Spurs, campeão com sobras de justiça, batendo seus adversários nos playoffs, um após o outro, sempre com vitórias fora de casa, sempre com o placar de 4-2. Pois o destino reservou um belo ponto de exclamação para a platéia do SBC Center. O jogo de ontem não nenhuma maravilha estética, mas a disposição de ambos os lados fez valer cada minuto em frente à TV. A virada sensacional no último quarto, com uma corrida de 19-0, criou um mosaico de belas imagens que ficarão na história.

Foi emocionante a explosão de David Robinson, que se despediu da NBA de maneira gloriosa, contente por ter feito da última noite da sua carreira a melhor noite da sua carreira. Coberto de glórias, o almirante deixa o comando do navio e parte rumo à merecida aposentadoria.

Foram fantásticas as roubadas de Manu Ginobili, sempre em momentos cruciais, mostrando uma raça que encontra raríssimos paralelos em toda a NBA. Mergulhada em crise, a Argentina se enche de orgulho pelo filho ilustre.

Foi curioso notar no baixinho Speedy Claxton a fisionomia sóbria de quem tem a consciência do seu lugar. O rosto fechado escondia a felicidade por ter conquistado, nos últimos minutos da temporada, a cobiçada vaga de titular na equipe.

Foi um alívio ver Stephen Jackson sem medo do erro, cravando os tiros de três pontos na hora certa e fazendo vibrar uma torcida apaixonada.

Foi elogiável, mais uma vez, a ousadia de Malik Rose, uma espécie de pivô-anão, catando rebotes ofensivos no meio dos gigantes e transformando a angústia de um arremesso perdido na esperança de uma nova tentativa.

Foi muito justo o tributo de Gregg Popovich a Kevin Willis, Steve Smith e Danny Ferry, lançando-os à quadra nos momentos finais para que eles pudessem sentir melhor o gosto do primeiro título.

Foi exemplar a postura de um time que manteve a seriedade até os últimos segundos, quando a taça já reluzia e as arquibancadas já comemoravam.

Foi tímido o beijo de Tony Parker no troféu, estampando no rosto um sorriso constrangedor marcado pelo fracasso na final, mas carregado de promessas para o futuro.

E o que dizer de Tim Duncan? O que dizer de um sujeito que, na última partida do campeonato, fica a dois tocos de um quadruple-double? 21 pontos, 20 rebotes, 10 assistências e 8 bloqueios. Diante desses números, não resta nada a dizer.

Desta vez, os arquivos da NBA não vão registrar nenhum asterisco como aquele de 1999, revelando que a temporada foi mais curta. Em 2003, o San Antonio é o campeão completo. Incontestável. Absoluto. Que venham os próximos anos.

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