14.12.03



licença para remar contra
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))) Nenê ainda não merece o All-Star


Segue acirrada a disputa por uma vaga no All-Star Game. Os votos se acumulam e todo mundo quer ver seu ídolo em Los Angeles quando fevereiro chegar. Além da aceitação dentro dos Estados Unidos, os estrangeiros contam com torcidas fiéis nos países de origem. Às vezes dá certo, às vezes não.

Listado na cédula virtual entre os 12 candidatos a pivô da conferência Oeste, nosso bravo Nenê, ex-Hilário, tem arrastado um bocado de brasileiros na campanha (ainda que informal) para angariar votos. Aqui mesmo, nas caixas de comentários, muita gente vem batendo nessa tecla, em busca de novos eleitores.

Se é para fazer número, tudo bem.

Mas não contem comigo.

Sei que nadar contra a correnteza não é o comportamento mais adequado para alguém que se expõe diariamente à opinião alheia. Ainda assim, me sinto na obrigação de dizer com todas as letras que não vou votar em Nenê. Aliás, não vou votar em ninguém, mas se fosse, não seria em Nenê. Antes do apedrejamento, leiam ao menos os motivos que me levam a tal abstinência antipatriótica.

São apenas dois:

1) As chances de Nenê faturar a votação e ser titular no Oeste são as mesmas de Earl Boykins ganhar uma bola ao alto contra Shawn Bradley. Para se ter uma noção do quadro, a primeira parcial aponta cinco jogadores, e o brasileiro sequer aparece entre eles. Os líderes até agora são Shaquille O’Neal (534 mil votos), Yao Ming (414 mil), Vlade Divac (62 mil), Brad Miller (51 mil) e Rasho Nesterovic (37 mil). Como vocês sabem, pivô é que nem mãe: só tem um. Por maior que seja nossa campanha, é impossível superar Shaq e Yao. Impossível e absolutamente injusto, diga-se de passagem.

2) Vamos supor que, num rasgo ufanista, o Brasil esqueça o futebol por um instante e se dedique a votar compulsivamente em Nenê. Com 170 milhões de eleitores, ele consegue atingir o primeiro lugar. E daí? Ficaríamos todos satisfeitos com uma vitória na base do esforço verde-amarelo? Eu não, cara-pálida. De forma alguma eu gostaria de ver nosso jogador em situação idêntica à de Yao Ming, que superou Shaq ano passado graças aos votos chineses e foi criticado sem piedade (inclusive aqui, por mim e pelos comentaristas de plantão). Ganhar no grito significa virar motivo de chacota no mundo inteiro. Felizmente, aqui não é a China e não há risco de isso acontecer.

E nem adianta rezar para Nenê ser chamado pelo técnico do Oeste para compor o banco. Sei que ele joga nas posições de pivô e ala, mas a conferência já tem Shaq, Yao, Miller, Duncan, Garnett, Nowitzki, Webber, Malone, Gasol e Stoudemire, só para citar os bem cotados. Tem lugar para o brasileiro aí? Nem com a ajuda de todos os santos.

Aqui do meu canto, prefiro torcer por uma evolução gradual e equilibrada. No jogo transmitido outro dia na televisão, deu para ver que Nenê tem potencial. Um dia, quem sabe, ele pode entrar na disputa com os medalhões, sem arroubos nacionalistas. Aí sim o voto será útil, pertinente e justo. Nesse caso, podem contar comigo.

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Aproveitando a crônica recente sobre Vince Carter, fiz duas seleções com o que há de melhor, na minha opinião, em termos de arte e estética. Se fosse para escolher dois times num jogo que dê gosto de assistir, seriam estas as minhas escalações, respeitando a cédula oficial:

No Oeste, Yao Ming, Kevin Garnett, Carmelo Anthony, Jason Richardson e Kobe Bryant.

No Leste, Theo Ratliff, Shareef Abdur-Rahim, Vince Carter, LeBron James e Jason Kidd.


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foto . nbae

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