9.11.02
O TRISTE REFLEXO DO TEMPO
Bryant deixou claro que a idade já maltrata Jordan
O último quarto já entrava em sua metade final quando Rick Fox recebeu uma bola entre a linha dos três pontos e a cabeça do garrafão.
Para quem não conhece, Fox é um dos coadjuvantes de Shaquille O'Neal e Kobe Bryant no Los Angeles Lakers. Experiente, bom arremessador, sofre, no entanto, com a falta de mobilidade. É lento, pesado, pouco ágil.
Pois foi ele quem recebeu aquela bola, num momento crucial do jogo de sexta-feira, em Washington, quando os Lakers armavam uma reação espetacular para cima dos Wizards. Na frente dele, braços abertos, Michael Jordan aguardava.
Fox não se intimidou. Em vez de procurar um companheiro em melhor posição, encarou a marcação e partiu em direção à cesta. Lento, sem ginga, como sempre. Ainda assim, Jordan parecia grudado no chão e não teve fôlego para acompanhá-lo. Dois pontos fundamentais. E ridiculamente fáceis.
O que deveria ser apenas mais um lance da partida na verdade foi um doloroso recado dos novos tempos para o melhor jogador da história. A facilidade encontrada por Fox permite se ter uma idéia de quão injusto foi o embate entre Jordan e Bryant.
O mestre à beira da aposentadoria e seu mais provável sucessor duelaram na maior parte do jogo. Quase sempre, o jovem craque de Los Angeles levou vantagem, deixando claro que a explosão física, mais do que nunca, dá as cartas na NBA. A diferença só não foi mais gritante porque Jordan ainda guarda no bolso um potinho com a fórmula da genialidade (que Bryant ainda está desenvolvendo).
Nos anos que não voltam mais, foram inúmeras as ocasiões em que o Chicago Bulls precisou de seu camisa 23 para a jogada decisiva. Marcado por dois ou três adversários, ele raramente decepcionava. Na sexta-feira, teve duas oportunidades (em lances livres, portanto sem marcação) para garantir a vitória do Washington. Falhou. Permitiu que, a partir de um lance que começou com Bryant, os Lakers virassem o jogo a dois segundos do fim.
E quem poderia imaginar que, faltando dois míseros segundos, com Jordan em quadra, a bola não iria para ele? Pois não foi. Jerry Stackhouse, cestinha da noite, corrigiu tudo e ganhou o jogo numa enterrada que teve como trilha sonora a campainha anunciando o cronômetro zerado.
Washington 100 x 99 Los Angeles. Se dependesse de Jordan, infelizmente, o resultado seria outro. A sobrevida de sua carreira, até o fim desta temporada, ainda vai nos brindar com lances geniais, podem apostar. Mas estejam certos também de que a relutância em se aposentar está trazendo à tona uma certeza cruel.
Michael Jordan é humano. E envelhece.
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