4.1.03
TEMPERO BRASILEIRO NA AMÉRICA
Nenê Hilario vai conquistando os americanos
Revigorado pelas festas de fim de ano e pelas mensagens de apoio que recebeu nos últimos dias, o Rebote volta à sua religiosa freqüência diária. Para abrir a temporada 2003, uma crônica especial substitui o Bloco de Notas, que volta no próximo sábado.
Na madrugada de sexta para sábado, a ESPN transmitiu ao vivo a partida entre Denver Nuggets e Seattle Supersonics, dando aos brasileiros a primeira oportunidade de ver Nenê Hilario em ação. Quem ficou acordado até as 4h da manhã teve a insônia recompensada: o pivô teve ótima atuação e ajudou o Denver a interromper uma seqüência de dez derrotas (leia mais sobre o jogo na segunda parte deste texto).
Apesar do otimismo instantâneo, resta aguardar outras transmissões para analisar com mais clareza a evolução de Nenê. Somente quem acompanha suas atuações de perto pode emitir um parecer realmente sólido. Por isso o Rebote foi direto à fonte e pediu a opinião de três nomes de peso da imprensa esportiva americana. Eis o que eles pensam:
MARC STEIN
Jornalista veterano e principal comentarista do site da ESPN International
“Eu amo o Nenê. Tenho grandes expectativas desde que ele foi draftado. Ele só precisa de mais experiência. Tem corpo de adulto e um ótimo faro para a bola. Na noite do draft, eu escrevi que o New York Knicks poderia se arrepender por não segurar este jogador. Agora, nos resta esperar e ver como ele se desenvolve.”
MARC J. SPEARS
Principal colunista de basquete do jornal diário Denver Post
“Agora, Nenê é uma criança. Fico pensando como vai ser quando se tornar um adulto. Ele tem um futuro de super-astro na liga, e quando aprender a falar inglês vai usar sua personalidade para ganhar ainda mais dinheiro fora das quadras. Foi um presente de Deus para o Denver. No futuro, os brasileiros vão se gabar de ter sua própria estrela na NBA. Neste momento, o maior desafio de Nenê é se livrar dos problemas com faltas. Se conseguir, passará a jogar mais de 30 minutos por partida e terá números equivalentes aos dos melhores calouros. A comissão técnica precisa ajudá-lo, mostrando fitas com gravações de suas faltas. Fora isso, ele tem mostrado um bom jogo ofensivo dentro do garrafão e já provou ser forte na defesa, capaz de marcar qualquer jogador, de Tim Duncan a Dirk Nowitzki, devido à sua força física e à sua rapidez. Há uma diferença clara no time quando Nenê está em quadra. O problema é que ele tem de arrumar um jeito de ficar mais tempo por lá.”
AARON LOPEZ
Repórter esportivo do jornal Rocky Mountain News, de Denver, cobre exclusivamente o dia-a-dia dos Nuggets
“Nenê está se ajustando muito rapidamente à vida na NBA. Ainda precisa entender melhor o comportamento dos árbitros e os tipos de falta que eles costumam marcar, mas está certamente entre os cinco ou seis melhores calouros da liga. Além disso, ele é um sujeito muito bacana e aprende as coisas com facilidade. Seu inglês está evoluindo, mas ainda é preciso usar um intérprete para falar com a imprensa. Acho que, pelos próximos dez anos, Nenê estará na elite dos grandalhões do basquete americano.”
:::::::: :::::::: ::::::::
O JOGO
A julgar pela atuação de Nenê na partida transmitida ontem pela ESPN, faz sentido a empolgação dos colegas da imprensa americana. Com apenas três faltas cometidas, o brasileiro conseguiu jogar 39 minutos e se saiu muito bem: marcou 17 pontos, acertou seis de sete arremessos tentados, pegou 13 rebotes, fez cinco assistências, deu um toco, roubou uma bola e errou apenas um passe. Foi fundamental na vitória por 94-82, em Seattle.
No primeiro quarto, Nenê parecia nervoso. Meio atabalhoado, não soube tirar proveito da lentidão de seu marcador, o iugoslavo Predrag Drobnjak. Ganhou confiança ao marcar seus quatro primeiros pontos com uma enterrada e um tapinha. Ao fim do período, os Sonics davam um passeio, vencendo por 28-20, com excelente performance de Desmond Mason.
Dali em diante, as coisas foram mudando. A segunda enterrada de Nenê veio num lance insólito, quando o juiz deixou de marcar uma falta de ataque do brasileiro. Com o adversário esparramado no chão, o caminho para a cesta ficou aberto. Nos últimos minutos do terceiro quarto, o Denver cortou a diferença para apenas três pontos, mas quase pôs tudo a perder. Ridículo como sempre, o ala Mark Bryant (um senhor de 37 anos, envolvido na troca com o talentoso James Posey) errou um passe de forma tão bisonha que o Seattle se animou e retomou as rédeas da partida. Para completar, Gary Payton encerrou o período acertando um impressionante arremesso do meio da rua e abrindo 67-62.
Foi aí que Nenê resolveu reaparecer. No período derradeiro, ele fez de tudo um pouco. A começar por um lance em que mostrou certa malícia, fingindo que subiria para o arremesso e enganando dois adversários, para em seguida fazer a cesta livre de marcação. Pouco tempo depois, deu uma bela assistência para Rodney White (ótimo jogador, por sinal) e ainda teve tempo de ensaiar um bate-boca com Vitaly Potapenko. A três minutos do fim, arrancou um rebote ofensivo na raça, sofreu a falta e marcou os pontos. A esta altura, os Sonics já tinham se rendido. Noite de festa para Nenê e de esperança para os brasileiros que amam o basquete. Que a TV nos brinde com mais jogos.
(Foto - Michael Martin/NBAE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário