27.2.03



CONTURBADAS VISITAS AO PASSADO




No último dia 20, o New Jersey exibiu
o uniforme da temporada 1975-1976




A NBA não costuma desprezar a história. Este ano, foi mais longe e transformou a memória em atitude, homenageando em quadra a rica herança das gerações passadas. Para isso, oito partidas da temporada regular foram reservadas ao que eles chamam de Hardwood Classic Nights. Na data marcada, uma das equipes joga com uniformes antigos, numa espécie de tributo às lendas de outros tempos. O problema é que algumas dessas lendas não estão nada satisfeitas com a brincadeira.

O que a princípio parece ingratidão tem uma explicação bem razoável.

Além do valor histórico, a iniciativa rende uns bons trocados. Em anos anteriores, algo parecido já havia sido feito, mas agora estamos diante de uma febre. Nas lojas oficiais da liga, camisas de times do passado tornaram-se campeãs de venda, levando a reboque outros itens de vestuário esportivo como calções, bonés, meias e tênis. Para vestir o uniforme de Oscar Robertson, por exemplo, o consumidor desembolsa um bocado de dólares, mas pelo menos tem a garantia de que o tecido foi produzido com os métodos mais avançados da indústria têxtil, longe do material jurássico usado nos anos 60. É o encontro do visual retrô com a alta tecnologia.

Em resumo: a novidade movimenta rios de dinheiro. E os jogadores quem têm o nome grafado no produto não recebem um tostão furado. Muitos deles resolveram reclamar. O primeiro foi Dominique Wilkins, que tem visto nas ruas uma legião de fãs envergando a camisa que ele usava no Atlanta Hawks. No começo, o orgulho falou mais alto. “Mas quando passei a encontrar, a cada dia, 20 ou 30 pessoas com meu nome nas costas, sem que eu ganhasse um centavo por isso, percebi que já não era tão legal assim.” O ex-craque contratou um advogado e saiu à procura de dados mais precisos sobre vendagem. Assim que reunir informação suficiente, pretende entrar com uma ação judicial para exigir sua fatia do bolo.

O alvo seria a Associação de Atletas Aposentados da NBA (NBARPA), cujo diretor executivo, Mel Davis, informou ontem ao site da ESPN que a verba é destinada a financiar bolsas de estudo, assistência médica gratuita e outras doações. Os jogadores, no entanto, alegam que não recebem detalhes sobre os gastos. Desde 1993, quando a NBARPA foi criada, cerca de 800 associados assinaram um documento liberando os direitos sobre nome e imagem. Alguns deles, porém, não sabiam que a liberação era para sempre. Agora, famosos como Alex English e Jerry West optaram por rescindir o acordo.

O assunto, repleto de minúcias jurídicas, ainda vai dar muito pano para manga. Ontem, na derrota para o Phoenix, o Milwaukee Gary Payton adotou o visual da temporada de 1968-69. (Por sinal, vejam que curioso, nas últimas cinco partidas Payton usou cinco uniformes diferentes: o verde dos Sonics no dia 15; o branco dos Sonics no dia 19; o lilás dos Bucks no sábado; o branco dos Bucks na segunda-feira; e o retrô ontem). Sacramento Kings e New Jersey Nets também já homenagearam seus antepassados. O próximos são Sixers, Suns, Nuggets, Rockets e Wizards. Enquanto as brigas se arrastam no tribunal, a festa continua nas quadras. E nas lojas, claro.

(Foto - Noren Trotman/NBAE)

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