4.3.03
DEIXEM O GAROTO CRESCER EM PAZ
Pode parecer loucura, mas quem tem
Tony Parker pode esnobar Jason Kidd
Confortavelmente instalado na terceira posição do Oeste, o San Antonio Spurs navega em águas calmas. Das últimas 14 partidas, venceu 13. O problema é que, apesar da ótima fase, o papo naquelas bandas sempre acaba recaindo sobre um jogador que está a centenas de quilômetros dali. É inevitável. Todo mundo quer saber se Jason Kidd vai mesmo se mudar para o Texas no ano que vem.
Não cabe aqui discutir a possível química endiabrada entre Kidd e Tim Duncan; ou esmiuçar os detalhes salariais da transação; muito menos lamentar o buraco negro que se abriria em New Jersey. Por trás disso tudo, a diretoria dos Spurs deveria se ater a uma questão mais pertinente: será que vale a pena?
Antes que as pedras me atinjam em cheio, permitam que eu justifique minha desconfiança. Ao desprezar o melhor armador do planeta, dou motivos de sobra para vocês questionarem minhas faculdades mentais. Sei também que, se existe algum resquício de razão no meu argumento, ele só vai aparecer daqui a alguns anos. Em todo caso, vamos em frente.
Há em San Antonio um francês de 20 anos chamado Tony Parker. Com 1.88m, 81 quilos e sobrancelhas enormes, ele atravessa sua segunda temporada dando sinais cristalinos de que, muito em breve, vai passear à vontade no salão nobre dos armadores da NBA. Hoje, suas médias são de 15.6 pontos e 5.4 assistências por noite. Vá lá, os números não dizem muito. Mas quem acompanha esse rapaz de perto garante que sua visão de jogo é digna de gente grande.
Nos últimos meses, ele passou a desempenhar um papel mais agressivo no comando de sua equipe. Contra o Sacramento Kings, semana passada, anotou 32 pontos, arrancando elogios entusiasmados de Chris Webber: “O sujeito é muito rápido. Suas infiltrações quebraram nossa defesa”.
O fato é que os Spurs têm dólares de sobra. Dependendo do acordo com Kidd, Parker não precisaria sair (os dois seriam titulares, assim como Payton e Cassell em Milwaukee). Ainda sobraria dinheiro para fazer uma proposta meia-boca a Michael Olowokandi. Talvez o pivô não se importe em ganhar menos no Texas diante da chance de faturar títulos em série.
Mas Kandi ainda está devendo basquete na liga, não é o cão de guarda dos sonhos para nenhum técnico. Sem David Robinson, a força no garrafão ficaria toda nas costas de Duncan, o que pode não ser bom negócio. Por isso, talvez seja melhor esquecer Kidd, manter Parker e investir num grandalhão realmente bom, como Jermaine O’Neal, ou num finalizador habilidoso, como Lamar Odom (ambos terão passe livre). Com um pouco de sorte, ainda daria para manter uma certa flexibilidade na folha de pagamento, de olho em mais reforços no ano seguinte. Assim se constrói uma dinastia.
Resumindo a ópera: se eu fosse o presidente, não torraria meus milhões com Jason Kidd. Tudo bem, podem mandar trazer a camisa-de-força e o chapéu de Napoleão. Não me importo, desde que o hospício tenha um aparelho de TV que me permita testemunhar a inevitável ascensão de Tony Parker.
(Foto - Nathaniel S. Butler/NBAE)
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