14.3.03



MARGINAIS NÃO, MERCENÁRIOS SIM




Iverson não é modelo de bom rapaz,
mas aceita jogar de graça em Atenas




Ainda falta mais de um ano para a Olimpíada de Atenas, mas o assunto já está mexendo com o basquete dos Estados Unidos, especialmente com a turma da NBA. Faz sentido. O fiasco no último Mundial ligou o sinal de alerta e a medalha de ouro na Grécia tornou-se uma questão de honra. Ray Allen, Tracy McGrady, Jason Kidd e Tim Duncan já foram oficialmente convocados. Karl Malone, Kobe Bryant e Mike Bibby receberam chamados informais e mostraram-se dispostos a aceitar.

Enquanto isso, há um sujeito desesperado por um convite. Allen Iverson torce diariamente para o telefone tocar. E nada acontece.

Na hora de pleitear uma vaga, o armador do Philadelphia 76ers joga a modéstia para o alto. “Se é uma questão apenas de basquete, todos sabem que eu sou um dos 12 melhores do planeta”, disse recentemente. O problema é que, no caso dele, a questão está longe de ser apenas de basquete.

Por causa de sua má reputação, Iverson deve assistir aos Jogos pela TV. Confusões na rua, envolvimento com drogas, fichas na polícia, tudo isso pode ser parte do passado, mas a imagem está feita. Na hora de escolher os heróis da pátria, os dirigentes preferem os bons moços.

O tal espírito olímpico, no entanto, parece ter escapado repentinamente a alguns modelos de boa conduta já convocados. Na útlima semana, Karl Malone e Ray Allen declararam que os selecionáveis deveriam ser pagos para jogar. Isso é que é fair play.

Nada contra o sistema capitalista e a relação trabalho-salário. Mas no caso desses astros, que tanto se disseram entusiasmados em defender o orgulho ferido da nação, cobrar pelo serviço é uma incoerência. Malone, que recebe a pequena fortuna de US$ 19 milhões por temporada, chegou a entrar na briga para convencer Shaquille O’Neal e Kevin Garnett a reforçar o grupo. Tudo em nome da imagem dos americanos, seriamente arranhada por iugoslavos e argentinos no Mundial. Ora, que entusiasmo patriótico é esse? Movido a dólares, qualquer um sua a camisa pelo país.

Pois Iverson quer jogar de graça. Pena que os dirigentes o considerem um marginal. Perde o atleta, perde a seleção, perdem os milhões de espectadores do evento. Entre a agressividade do bad boy e a competente sonolência de Ray Allen, quem você acha que o mundo gostaria de ver na Grécia?

(Foto - Jesse D. Garrabrant/NBAE)

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