10.3.03



UM JOGA, O RESTO BATE PALMAS




Jordan esteve no Madison pela última
vez e atuou sozinho contra os Knicks




Para Michael Jordan, o Madison Square Garden sempre foi um lar em plena estrada. Em cada uma das 43 visitas que o mestre fez ao ginásio do New York Knicks, alguma sintonia inexplicável pairava no ar e transformava uma simples partida num evento único. Não foi diferente na despedida. Na tarde de domingo, Jordan pisou o chão do Madison pela última vez. Marcou 39 pontos, pegou oito rebotes e comandou uma reação eletrizante no quarto período. Teve atuação fantástica, mas percebeu que os tempos são outros. O uniforme que ele vestia ontem não era vermelho e quem estava ao seu lado não era Scottie Pippen. Resultado: o Washington Wizards perdeu de novo.

Um reencontro futuro entre a torcida de Nova York e o melhor jogador de todos os tempos só seria possível por meio de duas chances remotas: um retorno inesperado na próxima temporada ou um embate entre as equipes nos playoffs, caso haja o milagre da dupla classificação. Difícil apontar qual das duas opções é mais improvável.

Em seu ato derradeiro no palco dos Knicks, Jordan saiu derrotado por culpa dos companheiros de time, como vem acontecendo seguidamente nas últimas semanas. Desde que completou 40 anos, o jogador decidiu mergulhar no passado e pescou no fundo do baú uma série de grandes performances, raramente acompanhadas pelo resto dos Wizards.

A paciência parece estar se esgotando. “É muito decepcionante quando um homem de 40 anos mostra mais vontade que garotos de 25, 24 ou 23”, lamentou o craque. “Eu me atiro em bolas perdidas e faço tudo para levar este grupo aos playoffs, mas não vejo isso nos outros caras. Até que eles comecem a mostrar a atitude necessária para se jogar basquete, não vamos a lugar nenhum”.

Jordan está cheio de razão ao abrir o verbo contra os colegas. A falta de empenho é o único motivo plausível para o fracasso do Washington, que ocupa a 9ª posição do Leste, bem atrás do Milwaukee e seguido de perto pelo New York. Uma análise pura e simples da escalação colocaria a equipe entre as favoritas da conferência. Com a bola quicando, entretanto, tudo dá errado.

Jerry Stackhouse é um dos melhores armadores da liga, mas já cansou de mostrar (desde os tempos de Detroit e Philadelphia) que não carrega time nas costas. Larry Hughes, contratado ao Golden State, chegou para organizar as jogadas e correspondeu, mas penou com as contusões. Kwame Brown teve um excelente início de campeonato. Começou a decepcionar quando surgiram os rumores de que seria despachado pelos Wizards antes da data-limite para trocas. Bryon Russell (ex-Utah) e Charles Oakley (ex-Chicago) prometiam boas doses de experiência para o banco de reservas, mas caíram de rendimento assustadoramente.

Seria no mínimo uma incoerência jogar a culpa numa comissão técnica formada, entre outros, por Doug Collins e Patrick Ewing. Material humano não falta. Mas para chegar à próxima fase, cada um precisa se esforçar além dos limites. Se Jordan, quarentão, está fazendo isso, é bom que garotada tome jeito. Vem mais bronca por aí.

(Foto - Nathaniel S. Butler/NBAE)

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