9.3.03
::: E S P E C I A L :::
O FUTURO DOS GIGANTES
A escola de pivôs da NBA, que produziu gênios
como Bill Russell, aposta suas fichas em Ming
Nos anos 60, os garrafões americanos eram freqüentados por atletas da estirpe de Wilt Chamberlain, Willis Reed e Bill Russell. A década seguinte revelou mestres como Kareem Abdul-Jabbar, Bill Walton e Wes Unseld. Depois vieram Moses Malone, Robert Parish, Hakeem Olajuwon, Patrick Ewing, David Robinson e vários outros. Chegamos à geração de Shaquille O’Neal com talento de sobra embaixo da cesta. Mas eis que o século 21 deu as caras, e com ele a fartura começou a virar escassez. A fábrica de pivôs da NBA entrou em crise.
Nas duas vezes em que Michael Jordan saiu de cena nos anos 90, Hakeem, Ewing, Robinson e Shaq tomaram conta das finais, sendo que este último aproveitou para iniciar sua própria dinastia. Comentou-se que o basquete estava migrando da arte para a força, da beleza estética para o culto ao músculo. Ao fim deste campeonato, Jordan deve abandonar a carreira em definitivo, mas a mudança de estilo não se repetirá. Com o material humano que passeia pelas quadras atualmente, vai ser difícil criar uma nova escola de gigantes.
Cabe ressaltar que estamos falando aqui de pivôs tradicionais. Num tempo em que a posição se confunde cada vez mais com a ala-de-força, prefiro tirar dessa discussão bons jogadores como Ben Wallace, Jermaine O’Neal, Brian Grant e Derrick Coleman. Originalmente, são todos alas. O que falta na liga hoje é o especialista na posição 5. Dentro de poucos anos, a carência será insuportável.
Robinson atravessa sua última temporada. O mesmo pode valer para Alonzo Mourning (saúde debilitada) e para os estrangeiros Vlade Divac e Arvydas Sabonis (idade avançada). Dikembe Mutombo, Shawn Bradley e o próprio Shaquille não têm muito tempo pela frente. Em breve, vão curtir o merecido descanso. Quem, portanto, vai herdar o garrafão?
A resposta soa melhor em mandarim. O candidato número 1 é o chinês Yao Ming, que parece reunir qualidade suficiente para se tornar o rei dos pivôs no futuro. Além da altura, ele conjuga força, leveza, agilidade, ótimo posicionamento e, de quebra, um respeitável apelo de marketing. Resta ao calouro provar que o otimismo é válido. Em seguida, desponta um trio esforçado, que mostra competência mas ainda está longe da esfera dos craques: Michael Olowokandi, Brad Miller e Zydrunas Ilgauskas.
É isso. A não ser que alguém tenha escapado à minha pesquisa, o resto é o resto.
Existe pelo menos uma explicação para a falta de talento nas safras recentes: o gargalo universitário tem dado preferência a armadores e alas. Juntos, os três últimos drafts revelaram apenas 13 pivôs tradicionais na primeira rodada, num total de 84 jogadores. O número vem diminuindo a cada ano (sete em 2000, quatro em 2001 e dois em 2002). Desses 13, um é realmente bom (Yao) e quatro são razoáveis (Brendan Haywood, Etan Thomas, Jamal Magloire e Jake Tsakalidis). Os outros são péssimos.
A julgar pelo que vem por aí, o céu tende a continuar nublado. Na bolsa de apostas para o draft de 2003, apenas três pivôs estão cotados entre os 20 primeiros: Chris Kaman (de Central Michigan), Kendrick Perkins (de Memphis) e James Lang (que ainda cursa o segundo grau). O fenômeno iugoslavo Darko Milicic, cotado para a segunda escolha, mede 2,13m mas atua como ala.
Definitivamente, o destino do basquete americano não está na posição 5. Sei que Kobe, T-Mac e Garnett darão conta do recado. Mas é impossível conter o saudosismo ao ver, por exemplo, a camisa 33 de Ewing no teto do Madison Square Garden, sabendo que o legado deixado por ela escoa lentamente pelo ralo.
(Foto - Bill Baptist/NBAE)
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