31.5.03
:::: BLOCO DE NOTAS ::::
Todo sábado, um passeio rápido pela liga
Rip Hamilton não terá mais Carlisle ao seu lado
PELAS COSTAS - Impossível não estranhar a atitude da diretoria dos Pistons, que demitiu o competente técnico Rick Carlisle com o objetivo claro de pescar o desempregado Larry Brown. Após o belo trabalho que fez em Detroit nos dois últimos anos, levando um elenco limitado ao bicampeonato da divisão Central, Carlisle não merecia um tratamento tão baixo, principalmente agora que o time promete ficar mais competitivo com a chegada do iugoslavo Darko Milicic.
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PRANCHETAS - A dança dos treinadores continua. A expectativa é que Larry Brown bata seu martelo até segunda-feira. Valorizado, o ex-comandante do Philadelphia está em dúvida entre Pistons e Rockets. A exemplo do novato Carlisle, o experiente Doug Collins também perdeu seu emprego no Washington, o que abre mais uma possível vaga para Brown. Don Nelson, por sua vez, recebeu um voto de confiança do proprietário do Dallas Mavericks, Mark Cuban. Só perde o posto se quiser.
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DEVOLUÇÃO - O dono dos Wizards, Abe Pollin, mandou uma carta aos torcedores que compraram o carnê de ingressos para a próxima temporada, prometendo devolver o dinheiro a quem estiver contrariado com as demissões de Michael Jordan e Doug Collins. “Se você não está satisfeito com os rumos de nossa equipe neste verão, eu vou reembolsá-lo pelo carnê”, diz o simpático texto.
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DEVER DE CASA - Enquanto esquenta as baterias para a final, Tim Duncan assistiu às gravações dos dois encontros entre San Antonio e New Jersey na temporada regular. E ficou preocupado com a marcação de Kenyon Martin. “Ele tem pés rápidos e suas mãos são ativas”, revelou o MVP, que não dorme no ponto e estuda a melhor maneira de vencer a forte defesa dos Nets. O duelo no garrafão promete.
:::::::: :::::::: Z O N A . M O R T A :::::::: ::::::::
Leandrinho treinou com o Golden State Warriors na semana passada. Para compensar a provável saída de Gilbert Arenas, a equipe deve escolher um armador no draft, e o brasileiro aparece com boas chances.
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Arvydas Sabonis tem mais dois anos de contrato com o Portland. Ainda assim, a central de boatos informa que o grandalhão lituano deseja voltar ao seu país. A diretoria dos Blazers nega a debandada.
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O Los Angeles Lakers precisa de um ala-de-força, mas a opção número 1 do time não é Karl Malone, Juwan Howard ou PJ Brown. A menina dos olhos dos tricampeões é mesmo o baixinho Gary Payton.
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Por enquanto, quem está realmente próximo do Staples Center é outro armador, já conhecido na casa e bem menos badalado: Tyronn Lue, que deve deixar o Washington em breve.
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(Foto – CNNSI)
30.5.03
QUE SÍNDROME? QUE PÂNICO?
Com a cabeça em dia, o San Antonio de Manu Ginobili
despachou o Dallas e se classificou para a grande final
Que o basquete não é uma ciência exata, todo mundo já sabe. Mas essa turma que ingressou nos playoffs da NBA parece disposta a subverter a lógica compulsivamente, tomando emprestado do futebol o surrado clichê da caixinha de surpresas. Quando o rumo natural das coisas apontava para uma vitória do Dallas, o San Antonio surpreendeu um vasto naipe de analistas fazendo justamente aquilo que menos sabe fazer: atingir o auge no último quarto.
Colapso? Pânico? Descontrole? Desta vez, tudo isso ficou reservado aos Mavericks. Do baixinho Nick Van Exel ao grandalhão Raef LaFrentz, o time inteiro se desplugou da tomada. Resultado: a liderança, que chegou a 15 pontos, evaporou. Os Spurs fizeram 34-9 nos últimos 12 minutos e carimbaram o passaporte para a grande final contra o New Jersey.
Tony Parker, que saudável já vinha rateando, sucumbiu às dores no estômago. Plano B, por favor. Speedy Claxton fez jus ao nome, imprimiu correria, mas não conseguiu ordenar o ataque, que penava com a apatia de Tim Duncan. Plano C, por favor. Steve Kerr esqueceu que a carteira de identidade lhe confere 37 anos e entrou em quadra com o vigor de um calouro. Disparou quatro rajadas letais da linha de três e enfiou o jogo no bolso. Não foi preciso plano D.
Parece mentira, mas o San Antonio marcou 23 pontos seguidos no período final. Foi nessa reta decisiva que Manu Ginobili anotou 9 de seus 11. Bem antes dos golpes derradeiros, diga-se a bem da verdade, Stephen Jackson já havia feito o trabalho sujo, acertando bolas importantes e evitando que o Dallas fechasse a tampa do caixão.
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Em noite infeliz, Michael Finley marcou 13 pontos. Steve Nash acrescentou 6. Eduardo Najera ficou com míseros 2. Por conta disso, Dirk Nowitzki terá tempo de sobra para curar o joelho doente.
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(Foto – Ronald Martinez/NBAE)
29.5.03
SÍNDROME DO PÂNICO
O San Antonio precisa recuperar o controle
A final da conferência Oeste chega hoje à sexta partida cercada de aspectos curiosos. Em Dallas, Don Nelson faz mistério sobre o retorno de Dirk Nowitzki. Mesmo que o joelho não permita a volta do alemão, os torcedores não devem se desesperar. Afinal, Michael Finley assumiu com maestria o papel de liderança, enquanto Steve Nash e Nick Van Exel continuam acertando os arremessos decisivos. O fator mais intrigante, no entanto, está do outro lado da quadra.
Sabe-se lá o que se passa no cérebro dos soldados de Gregg Popovich. A conclusão é empírica, comprovada em várias ocasiões: para o San Antonio, não existe jogo ganho. Quando menos se espera, o time entra em colapso e deixa evaporar qualquer vantagem, seja ela de dois, dez ou vinte pontos.
A síndrome do quarto período tem martelado a cabeça de Duncan, Rose, Bowen, Parker e qualquer outro atleta dos Spurs. De uma hora para a outra, os arremessos saem tortos, a bola quica como se fosse quadrada e a defesa fica esburacada como um queijo suíço. Excesso de autoconfiança? Inexperiência da garotada? Talvez Freud explique.
O fato é que o San Antonio precisa fazer, logo mais, um esforço heróico para roubar a vitória final no American Airlines Center. Se permitir o jogo 7, o trauma psicológico pode aflorar e o Dallas, aproveitando-se disso, vai partir feroz com a faca entre os dentes. As conseqüências seriam imprevisíveis.
A supresa maior, no entanto, pode acontecer ainda hoje. Enquanto Nelson esconde o jogo sobre as reais condições de Nowitzki, o proprietário dos Mavs, Mark Cuban, deu uma pista ao comentar rapidamente sobre as chances de o alemão entrar em quadra nesta quinta-feira. “São muito boas”, limitou-se a dizer o cartola. A conferir.
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Enquanto isso, o New Jersey só descansa. Será que isso é bom ou ruim?
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(Foto - Jed Jacobsohn/NBAE)
28.5.03
SOPA PARA O AZAR
O Dallas de Nash escorregou mas se levantou na série
O resumo é claro. Até o intervalo, o Dallas parecia disposto a entregar os pontos. Dali em diante, o ímpeto suicida passou para o San Antonio. E assim o confronto se embolou de forma inesperada. Uma vitória amanhã, no America Airlines Center, põe os Mavs na briga outra vez, forçando um imprevisível jogo 7. A possibilidade da volta de Dirk Nowitzki incendeia ainda mais o futuro da série. Os Spurs, que tinham na mão o título do Oeste, deixaram a sorte escorrer entre os dedos.
Michael Finley, Steve Nash, Nick Van Exel, Eduardo Najera, cada um teve sua parcela de mérito na noite de ontem. Mas quem viu o jogo inteiro sabe que o resultado teve muito mais a ver com os erros do San Antonio do que com os acertos do Dallas. No quarto período, a equipe comandada por Gregg Popovich simplesmente pifou. O que vimos foi uma seqüência de erros bisonhos. David Robinson arremessa sozinho, da linha de lance-livre, e a bola sequer bate no aro. Stephen Jackson desperdiça um contra-ataque com um passe perfeito para as mãos do oponente. Pensando na morte da bezerra, Tony Parker, em sua própria quadra, deixa Van Exel lhe bater a carteira numa falha infantil.
De tropeço em tropeço, os Spurs acabaram derrotados de forma vergonhosa. E os Mavs, que não têm nada a ver com a incompetência alheia, mostraram um sistema defensivo consistente, acertaram no ataque e aproveitaram para roubar a vitória, garantindo a sobrevivência nos playoffs.
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Seria exagero dizer que a atuação dos juízes influenciou o placar, mas a arbitragem esteve péssima ontem. Primeiro, foi marcada uma falta de Parker quando a mão dele passou muito longe do adversário. Depois, Finley empurrou Jackson na linha lateral e o árbitro inverteu a marcação. Por fim, um dos erros mais grosseiros que eu já vi em toda a minha vida. Restavam quase três minutos para o fim e o Dallas vencia por oito pontos. Van Exel subiu para um arremesso e o juiz viu uma falta que não existiu. Até aí tudo bem, mas ele concedeu três lances-livres, quando na verdade os dois pés do jogador estavam quase um metro para dentro da linha de três. Grosseiro. Van Exel converteu todos, abriu 11 pontos e fechou o caixão.
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(Foto – Ronald Martinez/NBAE)
27.5.03
QUANTO VALE UM JOELHO?
Mesmo sem as dores, Dirk Nowitzki continua inseguro
“Tenho apenas 24 anos, com muito basquete pela frente. Se eu tivesse 33, 34, 35, provavelmente teria jogado no domingo. Mas este é apenas o começo da minha carreira.”
Dirk Nowitzki garante que não sente dor alguma no joelho esquerdo, mas a insegurança o impede de entrar em quadra na final da Conferência Oeste. “Foi uma decisão inteligente”, diz o atleta sobre ele mesmo. “Quem sabe o que poderia acontecer? O risco é muito alto. Enquanto eu tiver esses pensamentos na minha cabeça, não vou jogar.”
Frieza de alemão é dose. A esta altura do campeonato, muita gente daria tudo para entrar em quadra até de muletas. Nowitzki prefere guardar o coração na gaveta e acionar os serviços do cérebro. Do ponto de vista médico, está inflado de razão. Do ponto de vista esportivo, há quem possa torcer o nariz para sua cautela.
Com uma lesão semelhante, também no joelho esquerdo, Chauncey Billups mandou a dor para escanteio e vestiu o uniforme do Detroit Pistons contra o Philadelphia 76ers. Deu resultado. O armador foi vital para os rumos da série e classificou sua equipe para a final do Leste.
Ok, cada caso é um caso.
Sabe-se lá o que se passa no sossego dos ligamentos de um e de outro. Em princípio, todo atleta conhece os limites do seu corpo. A diferença se estabelece na hora de decidir em que momento é possível ultrapassar esses limites. Billups fez uma opção, Nowitzki fez outra. Nessa história, não há certo ou errado.
O alemão não deve ter enfrentado muitos conflitos psicológicos para definir sua situação na partida de logo mais. Afinal, seu time perde por 3-1 e está na beira do precipício. Mesmo que consiga uma vitória heróica em San Antonio, será preciso arrancar outras duas para seguir em frente. Diante desse quadro, vale a pena arriscar um joelho que pode ser muito útil nos próximos anos? Não sei.
Em todo caso, pelo desânimo geral que atingiu o técnico Don Nelson e os demais jogadores, sinto que no fundo, bem no fundo, os Mavs entregaram os pontos. Portanto, vamos preservar a perna de nosso maior craque.
Obviamente, convém aos Spurs não bobear. Finley, Nash e Van Exel sempre podem aprontar alguma surpresa. Vai que a zebra dá as caras no SBC Center e o bendito joelho de Nowitzki se recupera para o jogo 6, em Dallas. Imaginem a confusão. Para evitar sustos, o San Antonio precisa encerrar o assunto hoje mesmo. Perder em casa é dar sopa para o azar.
(Foto – Ronald Martinez/NBAE)
26.5.03
TENSÃO NA BEIRA DA QUADRA
Brown vai se separar de Iverson. Ele é apenas
um dos técnicos que têm vivido dias agitados
Nesta segunda-feira morna, sem basquete, abre-se uma boa oportunidade para dar uma olhada na roda-viva dos técnicos da NBA. O caldeirão está fervendo, os nomes andam pipocando por todo lado. Não é difícil se perder em meio a propostas, demissões, cavadas, entrevistas e todo tipo de especulação. Prontos para um mergulho rápido no mundo das pranchetas? Então vamos nessa.
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Começando pela notícia mais fresquinha, que ainda nem foi anunciada oficialmente: após seis anos, Larry Brown está deixando o Philadelphia 76ers. A diretoria marcou uma entrevista coletiva para o fim da tarde de hoje, mas o assunto já vinha sendo cantado aos quatro ventos nas últimas semanas. A decisão foi do próprio treinador, que ainda tinha dois anos de contrato a cumprir mas preferiu pedir o boné. O motivo seria o cansaço, aliado ao olho grande nas vagas abertas em Cleveland e Houston. O garoto LeBron James já meteu a colher na discussão, dizendo que ficaria muito feliz se Brown passasse a comandar os Cavs.
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O problema é que os cartolas de Cleveland também estão de olho em outro nome, talvez o mais assediado nesse período de entressafra. Jeff Van Gundy teria confidenciado a amigos que sua opção pelo time de LeBron deve ser declarada oficialmente na próxima semana. Pesou, claro, o desafio de lapidar o fenômeno colegial em sua primeira temporada e liderar um grupo que precisa de sangue novo. Em todo caso, os Cavaliers mantêm na manga as cartas de Paul Silas (recém-demitido do New Orleans) e Keith Smart.
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Foi justamente para os Hornets que Van Gundy deu o primeiro “não” deste período de caça. O técnico, que recusou o convite para substituir Silas, deve estar com a cabeça a mil: de uma hora para outra, passou a ser a vedete da NBA e também foi chamado para uma conversa com os Rockets, preocupados em preencher o espaço deixado por Rudy Tomjanovich. Caso não consiga fechar com Van Gundy ou Brown, o Houston vai apostar suas fichas em Milke Dunleavy (que ainda tem propostas de Hawks e Clippers).
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Está difícil acompanhar? Pois é melhor apertar o cinto, o disse-me-disse ainda não terminou. Se não fechar com os Cavs, Paul Silas pode embarcar num projeto de longo prazo: a nova equipe de Charlotte, que ingressa na liga a partir de 2004-2005. Seria uma chance de trabalhar ao lado de Michael Jordan, que pode assumir um posto na diretoria.
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Outra alternativa para Silas é o Dallas Mavericks, que deve reavaliar o trabalho de Don Nelson após os playoffs. Nelson pretende sentar com o dono da franquia, Mark Cuban, para conversar sobre seu papel como técnico, e adiantou que entenderia se a decisão fosse por uma mudança.
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O Los Angeles Clippers, por sua vez, parece urubu de olho em carniça. Além de negociar com Lenny Wilkens e Dennis Johnson, o time torce pelas demissões de Isiah Thomas e Doug Collins. O problema é que Thomas parece gozar de certo prestígio em Indianápolis. O astro da companhia, Jermaine O’Neal, deu ao comandante um voto de confiança, dizendo que não gostaria de ser treinado por mais ninguém.
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Hornets e Raptors continuam a todo vapor conversando com um bocado de gente. Em New Orleans, Brian Hill, Tim Floyd e Mike Fratello estão na lista. Até o veterano armador Avery Johnson foi cotado, mas preferiu não falar nada agora por conta de seu contrato com o San Antonio Spurs. O Toronto paquera Kevin O’Neill, Mike Woodson, Brian James, Dwane Casey e Craig Neal.
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Enfim, a confusão é grande. Espero que tenha sido possível entender alguma coisa.
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(Foto – CNN/SI)
25.5.03
CAMINHO ABERTO
O MVP Tim Duncan percebeu que entre Raef LaFrentz
e Dirk Nowitzki há uma enorme diferença de qualidade
Um computador pifado, um grande evento no fim de noite, um atraso por conta do incêndio na cozinha do ginásio. Diante dessa equação, chegamos ao estranho fato de publicar uma crônica de domingo nas primeiras horas da segunda-feira. Paciência. Cá estamos para falar de Spurs e Mavs, jogo 4.
Antes de iniciar os comentários, cabe ressaltar que Dirk Nowitzki sequer vestiu seu uniforme. Aqui se repete o mesmíssimo drama do Sacramento Kings, com roteiro idêntico: um grande elenco que perde seu principal jogador. Apesar das boas peças de reposição, nenhuma equipe passa incólume pela perda de um astro do quilate de Nowitzki, ou Webber, ou Duncan, ou Garnett, ou qualquer outro.
O Dallas entrou em quadra com Walt Williams e Raef LaFrentz. Não é preciso ser um sábio para perceber a diferença gritante entre o alemão lesionado e esses dois coadjuvantes. Nos primeiros minutos, cada um já tinha duas faltas. Mesmo com uma formação baixa e sofrendo com o jogo limitado de Eduardo Najera, o time da casa segurou o adversário e encerrou o período inicial em vantagem.
No segundo quarto, o San Antonio pouco aproveitou o fato de Najera estar marcando Tim Duncan. Insistiu nas bolas de fora e errou bastante. Os Mavs adotaram a mesma tática, com índice de acerto bem melhor. Foi ali que Michael Finley e Steve Nash começaram a aparecer, convertendo bolas vitais para o andamento da partida.
Com cinco pontos de desvantagem, os Spurs voltaram do intervalo decididos a tomar as rédeas da situação. Tony Parker esteve fantástico e empurrou seus companheiros. Agressivos na defesa e calculistas no ataque, os visitantes fecharam o período em 77-70, após um tapinha milagroso de Manu Ginobili.
O armador portenho, por sinal, foi um gigante. Sempre no lugar certo, na hora certa, pegando rebotes ofensivos, roubando bolas importantes, encomendando cestas de três, rasgando a quadra nos contra-ataques.
O grande trunfo do San Antonio foi ter conseguido manter o ritmo no quarto período, o que não vinha acontecendo na série. Méritos para Parker, Ginobili e Duncan (todos com mais de 20 pontos). O guerreiro Malik Rose quase estragou tudo nos minutos finais, ao empurrar um juiz quando recebeu uma cotovelada violenta de LaFrentz. Na confusão, David Robinson saiu do banco de reservas, atitude que geralmente faz a NBA torcer o nariz. Caso a liga mantenha sua política de tolerância zero, não será surpresa se os envolvidos forem punidos.
Pouco tempo depois, LaFrentz deixou a quadra com seis faltas, sete pontos e seis rebotes. É pouco, muito pouco, para quem tem a missão de suprir a ausência de Nowitzki no garrafão. Sem pivô nos momentos decisivos (o contundido Shawn Bradley também ficou fora), o Dallas pouco pôde fazer diante da forte atuação do adversário embaixo da cesta. Dessa forma, desenhou-se a segunda vitória seguida dos Spurs em pleno American Airlines Center.
Com 3-1 na bagagem, Gregg Popovich leva seus meninos de volta para casa, confiando na possibilidade de conquistar o título do Oeste na terça-feira, nas barbas da própria torcida. Não há nada decidido, mas a julgar pelo que se viu nas duas últimas partidas, o New Jersey já pode ir pensando numa maneira de parar Tim Duncan na final.
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Na sexta-feira, o alemão se machucou no choque com um argentino. Em boa parte do jogo de ontem, foi substituído por um mexicano, que não conseguiu marcar o nativo das Ilhas Virgens. O canadense fez sua parte, mas não foi o bastante para superar o francês. Na reta final do campeonato americano, o basquete global mostra sua cara.
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Alguém precisa lembrar à ESPN que a série entre Nets e Pistons já acabou. A emissora continua anunciando "o emocionante jogo 5" para a noite de segunda-feira. Eu, hein.
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(Foto – Ronald Martinez/NBAE)
24.5.03
:::: BLOCO DE NOTAS ::::
Todo sábado, um passeio rápido pela liga
O New Jersey de Jason Kidd retorna às finais da NBA
SEGUNDA CHANCE - Após dez vitórias consecutivas e duas varridas incontestáveis, o New Jersey Nets volta à final da NBA com total merecimento. Foi, de longe, o melhor time da conferência. Sólido nas duas extremidades da quadra, o grupo comandado pelo brilhante Jason Kidd terá 11 dias para descansar antes de encarar o bicho-papão do Texas (seja ele qual for). Mas uma coisa parece clara: as chances de título este ano são bem maiores que as de 2002, quando os Nets foram atropelados pelo Los Angeles Lakers. Os deuses do basquete, quase sempre justos, classificaram para a final a única equipe do Leste capaz de proporcionar uma grande batalha. Aguardamos ansiosos.
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BRUXA SOLTA - A torção no joelho esquerdo de Dirk Nowitzki é mais uma baixa lamentável nos playoffs. O Dallas, que se beneficiou da contusão alheia contra o Sacramento, agora sente o veneno na própria pele. Se o alemão realmente for vetado para o restante da série, as coisas se complicam diante do San Antonio Spurs. Por melhor que seja o elenco, ninguém perde uma estrela impunemente. Don Nelson já disse que seu craque só volta se estiver 100%. Discordo dele. Mais vale um Nowitzki capenga do que qualquer reserva tinindo.
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CASTIGO - Diga-se de passagem que a lesão não influenciou o destino do jogo 3 na sexta-feira. Quando Nowitzki foi ao chão, a parada já estava praticamente decidida. Aliás, o resultado foi mais do que justo. Primeiro, pela atuação sublime de Tim Duncan. Segundo, pela eficiência de Tony Parker. E terceiro, pela vergonhosa estratégia dos Mavs de fazer faltas fora do lance em Bruce Bowen. Coisa de timinho.
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CLIMA NUBLADO - Estranha, muito estranha, a saída de Rudy Tomjanovich da comissão técnica do Houston Rockets. Após ter diagnosticado um câncer de bexiga na reta final do campeonato, o treinador vinha se recuperando bem, dando sinais de que cumpriria seu contrato até 2004. O anúncio feito esta semana pode carregar motivos que vão além de preocupações com a saúde. O proprietário do Houston, Les Alexander, estava bastante contrariado com as últimas campanhas da equipe, que não vai aos playoffs há quatro anos. Ao que tudo indica, houve uma negociação para dar a Rudy-T um cargo qualquer na diretoria, liberando um espaço no banco de reservas para a contratação de... adivinhem... Jeff Van Gundy.
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DECISÕES - A boa fase do calouro Tayshaun Prince fez o Detroit esquecer Carmelo Anthony. Darko Milicic já treinou com os Pistons na quinta-feira e parece não haver mais dúvidas sobre sua escolha no draft de 26 de junho. A decisão agrada a gregos e troianos. Carmelo cairá como uma luva no Denver Nuggets, que sofre com a falta de um ala habilidoso e ainda deve perder Juwan Howard. De quebra, o jovem ídolo não vai interferir no tempo de jogo de Nenê Hilário.
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O Toronto Raptors, dono da quarta posição no draft, deu a entender que vai optar pelo ala-de-força Chris Bosh. Sinal de que Antonio Davis anda em baixa.
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Jermaine O’Neal declarou que pretende renovar com Indiana Pacers. Mas não vai dispensar as conversas com San Antonio, Portland e Orlando.
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Scottie Pippen estuda seriamente a possibilidade de se aposentar. O ala, que atuou como armador na última temporada, só volta se tiver boas condições físicas.
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PJ Brown não vai tomar nenhuma decisão sobre o seu futuro antes de saber quem será o novo técnico do New Orleans Hornets.
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(Foto – Ezra Shaw/NBAE)
23.5.03
LAR, DOCE LAR
O Cleveland venceu a loteria
e deixou LeBron feliz da vida
A imprensa se acotovelava no refeitório do hotel Radisson City Center, na cidade de Akron, em Ohio, à espera de um futuro astro. Quem saiu da suíte no 19º andar foi, na verdade, um adolescente humilde, bem-humorado e bastante maduro para os seus 18 anos. Cercado pelos colegas de escola, LeBron James pegou o elevador e foi ao encontro dos repórteres famintos. Na jaqueta preta que vestia e na faixa branca que trazia na cabeça, o logotipo da Nike deixava bem claro: estava ali um moleque milionário, pronto para ingressar no circo da NBA.
Quando as bolinhas de pingue-pongue deram aos Cavaliers o direito à primeira escolha no draft de 26 de junho, sorriram todos: a diretoria, o elenco ansioso por mais talento, o próprio LeBron e todos os seus amigos, que não precisarão rodar o país para ver em quadra aquele rapaz com quem até pouco tempo dividiam o lanche no recreio. De Akron para Cleveland é um pulo. Os bilheteiros da Gund Arena agradecem.
Diante dos microfones, o jovem fenômeno mostrou desenvoltura e falou como se já tivesse assinado o contrato. “Estamos procurando um técnico, como Jeff Van Gundy, Paul Silas ou Keith Smart. Assim que encontrarmos, mal poderei esperar para estar com ele e com meus colegas de time”, disse o jogador, sem enfiar os pés pelas mãos diante dos jornalistas mais afoitos: “Não posso prometer um título.”
A formatura no colégio St. Vincent/St. Mary está marcada para 7 de junho. Com o diploma de segundo grau na mão, LeBron vai pular a universidade para cair direto no seu primeiro emprego, com fama e salário de gente grande. Muito grande.
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Foi triste ver a expressão de Jerry West no fim do sorteio. Ao ficar com a segunda posição, o Memphis não apenas perdeu LeBron como também Carmelo Anthony, Darko Milicic e qualquer outro nome de ponta. A tragédia nasceu em 1997, quando os Grizzlies ainda estavam em Vancouver e fizeram com os Pistons uma daquelas inofensivas trocas que incluem “uma futura escolha de primeiro round no draft”. O detalhe é que o acordo não valeria caso West tivesse a sorte de ficar em primeiro. Pois não ficou. Os Pistons ganharam de bandeja a perspectiva de uma melhora sensível para o próximo ano. Basta somar a este time virtualmente eliminado pelo New Jersey o talento de Anthony ou Milicic.
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Tony Mejia, comentarista da CBS, caprichou no chutômetro e listou a previsão completa da primeira rodada. Leandrinho, elogiado como um dos armadores mais atléticos do draft, cairia no Boston (20º). Anderson Varejão, com a ressalva de que pode nem entrar, ficaria no Memphis (27º).
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(Foto - AP)
22.5.03
DEDOS CRUZADOS
Uma breve pausa nos playoffs: LeBron James
rouba a cena hoje à noite, na loteria do draft
Enfim, chegou o grande dia. Hoje à noite, durante meia hora, o mundo do basquete vai esquecer a bola laranja. Todas as atenções estarão voltadas para outras bolinhas, pequenas, de pingue-pongue. Ao sortear a ordem das equipes para o draft de 26 de junho, a NBA revela uma resposta que vem sendo aguarda há vários meses: quem ficará com LeBron James?
Especulações à parte, seria muita ingenuidade supor que o dono da primeira escolha vai optar por Carmelo Anthony ou Darko Milicic. A badalação sem precedentes em torno do fenômeno colegial criou um panorama curioso, tornando praticamente obrigatória a sua seleção imediata. LeBron vai precisar de algum tempo para se adaptar, e pode até fracassar entre os profissionais, mas ninguém vai correr o risco de pescar outro nome.
É uma espécie de "síndrome de 1984". Naquele ano, o Houston Rockets escolheu Hakeem Olajuwon e o Portland Trail Blazers deixou passar o jovem Michael Jordan para ficar com o inexpressivo Sam Bowie. Só de pensar em repetir um infortúnio desses, a cartolagem entra em pânico.
Por essas e outras, a noite de ontem deve ter sido de orações, simpatias, amuletos da sorte e outras mandingas. Se a NBA fosse National Bahia Association, com sede em Salvador, os terreiros certamente estariam repletos de gente engravatada. Numa hora dessas, vale tudo para incluir no elenco um futuro astro.
Nenhum diretor está mais desesperado que Jim Paxson, do Cleveland Cavaliers. Até porque LeBron mora ali, a poucos quilômetros de distância, na cidade de Akron. Com a pior campanha do Leste na temporada regular, os Cavs precisam de sangue novo se quiserem preencher as poltronas da Gund Arena em 2004. A mudança já começou pelo uniforme, agora em tons de vermelho e dourado. Falta o mais difícil: ajustar o time em quadra. O garoto-prodígio seria a tão sonhada pedra fundamental.
O Denver Nuggets, que teoricamente tem as mesmas chances no sorteio, já conta com uma turma jovem e promissora. Jeff Bzdelik deve estar roendo as unhas. Em Toronto, a primeira escolha pode ser a salvação de um grupo em decadência. Entre uma e outra sessão de fisioterapia, Vince Carter abriria um sorriso de orelha a orelha.
Sei que as possibilidades são remotas, mas não custa fazer um exercício de imaginação e prever o salto de qualidade que LeBron proporcionaria ao Miami Heat. Além de uma boa dose de sorte logo mais, Pat Riley precisaria manter o elenco intacto, com Eddie Jones, Caron Butler, Brian Grant e o recuperado Alonzo Mourning. Assim nasceria mais uma força na conferência Leste. De quebra, Riley teria em mãos o melhor armador que já passou pelo seu crivo desde Magic Johnson.
Daí em diante, começamos a deslizar para o terreno do milagre. Para Clippers, Grizzlies, Bull, Hawks, Knicks, Wizards, Warriors e Sonics (o Houston está fora, vai ceder sua escolha para o Memphis), o mais indicado é estudar nomes como TJ Ford, Charile Villanueva, Dwyane Wade, Travis Outlaw, Leandrinho e Varejão.
Vale lembrar que o draft costuma aprontar suas surpresas. Basta consultar uma breve lista de atletas selecionados da nona posição para baixo nos últimos anos: Kobe Bryant, Tracy McGrady, Paul Pierce, Amare Stoudemire, Latrell Sprewell, Shawn Marion, Michael Finley e Sam Cassell.
A esta altura, não há muito o que fazer, a não ser esperar a dança das bolinhas e torcer para que o destino escreva a história do jeito certo.
(Foto - Tom Pidgeon/CNN/SI)
21.5.03
O TRATOR KENYON
O New Jersey encontrou em Martin um jogador capaz
de finalizar os lances bem desenhados por Jason Kidd
Já se vão três anos desde que Kenyon Martin deixou a universidade de Cincinnati e ingressou na NBA como o primeiro escolhido no draft de 2000. Demorou um bocado, mas o New Jersey já percebe que o investimento valeu a pena. Após duas temporadas medianas, o ala ganhou massa muscular, aprimorou suas habilidades e se tornou um dos atletas mais agressivos da liga. A dobradinha afiada com Jason Kidd tem sido um trunfo invejável para uma equipe que se orgulha de manter a melhor campanha dos playoffs até agora.
Na noite de ontem, Martin anotou 16 de seus 25 pontos no quarto período e comandou a bela reação dos Nets em Detroit. Foi a oitava vitória seguida no mata-mata. Com duas derrotas em casa, os Pistons caminham a passos rápidos rumo à eliminação.
"Ir para casa com a vantagem de 2-0 e a chance de vencer os dois próximos jogos diante de nossa torcida nos faz sentir muito bem", resumiu o técnico Byron Scott, que aliás tem falado bastante desde a série contra o Boston Celtics. A declaração, que a princípio pode ser encarada como excesso de autoconfiança, na verdade retrata um quadro cristalino: de fato, o New Jersey repousa numa situação extremamente confortável. Só uma catástrofe pode impedir a classificação para a final.
Além de Martin e Kidd, Richard Jefferson também deu sua contribuição ontem, o que não é nenhuma novidade. Ao que parece, os Nets se mostraram abusados o bastante para revelar seu próprio trio, como manda o figurino da outra conferência, o Oeste. Se o Dallas tem Nash, Finley e Nowitzki, ora bolas, o New Jersey tem Kidd, Jefferson e Martin.
Antes que comece a chuva de comentários furiosos, deixo bem claro que respeito as devidas diferenças de qualidade (até porque os Mavs têm um quarto elemento chamado Nick Van Exel), mas a comparação não deixa de ser válida. Byron Scott conseguiu plantar, em pleno Leste, uma pequena semente de Oeste.
Caso o time corresponda às expectativas e conclua bem o embate com o Detroit, restará apenas um objetivo: provar que é possível bater um primo rico na grande final.
(Foto - Nathaniel S. Butler/NBAE)
20.5.03
PARA O CHÃO TREMER
Garnett investe contra Chandler: eles
podem trocar de uniforme em breve
Quem garante é Sam Smith, colunista do jornal Chicago Tribune: os Bulls vão esperar até quinta-feira para ver se a sorte bate à porta. Caso não fique com uma das três primeiras posições do draft, o novo gerente John Paxson pode ceder seu direito de escolha para os Timberwolves. Na mesma barca rumo a Minnesota, iriam Tyson Chandler, Jay Williams, Jalen Rose e Eddie Robinson. Em troca, o cartola estreante receberia apenas um jogador.
Sim, ele mesmo.
Kevin Garnett seria o responsável por reconstruir a combalida franquia de Chicago, ao lado de Eddy Curry, Jamal Crawford, Donyell Marshall e Marcus Fizer. Para ajudá-los, Paxson pretende gastar um pouco mais de seu rico dinheirinho explorando o mercado de passe livre em meio a quatro opções: Corey Maggette, James Posey, Antonio Daniels e Jason Terry.
Com a escolha do draft (certamente um Top 10), a experiência de Rose e os outros três jovens talentos, os Wolves podem dar início a um processo de médio prazo, interrompendo um trabalho que não rendeu nada além de eliminações seguidas na primeira rodada dos playoffs. Vale lembrar que continuariam por lá atletas como Wally Szczerbiak, Troy Hudson e Rasho Nesterovic. Todos sob o comando do competente Flip Saunders.
Ainda assim, a negociação parece absurda à primeira vista, já que Garnett acaba de atravessar sua temporada mais produtiva. Nesta semana, porém, o dono do Minnesota, Glen Taylor, admitiu pela primeira vez que pode se desfazer do melhor jogador a vestir o uniforme de sua equipe em todos tempos: “A única chance de troca é se ele próprio julgar que esta é a melhor opção. Nós não queremos, ele também não, mas é uma possibilidade.” O comentário fortaleceu os boatos que vinham surgindo na imprensa local.
A chegada de Paxson pode ajudar na transação, já que Garnett não era grande fã de Jerry Krause. Certa vez, o atleta culpou o ex-dirigente dos Bulls pelo declínio da equipe após a saída de Michael Jordan. O dinheiro também pode pesar a favor. O astro tem pela frente mais um ano de contrato e pode assinar uma renovação antecipada que começaria com US$ 29.4 milhões por ano. Os Wolves, no entanto, não têm bala na agulha para desembolsar essa pequena fortuna, até porque existe a forte intenção de manter Nesterovic, o que mandaria pelos ares os limites da folha de pagamento.
O Chicago, sim, tem um cofre razoavelmente abastecido à disposição de Garnett. O teto salarial certamente estouraria, mas o time confia na receita da torcida fiel para assumir a temida luxury-tax (espécie de multa que a NBA cobra de quem ultrapassa o limite).
Em breve vamos saber se tudo isso é apenas bravata de Paxson. Se o novo cartola estiver realmente disposto a enfiar o pé na porta e sacudir os alicerces com uma troca dessa grandeza, ao menos terá mostrado uma virtude ausente em Chicago desde que Jordan se foi: a coragem de pensar grande.
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A defesa do Detroit, que até agora se concentrava em peças isoladas como Tracy McGrady e Allen Iverson, precisa se desmembrar em vários tentáculos para anular Jason Kidd, Kenyon Martin e Richard Jefferson. Uma derrota logo mais é quase um adeus aos playoffs.
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San Antonio e Dallas fizeram ontem um grande jogo. Quando faltavam 20 segundos, os Spurs venciam por um ponto e Tony Parker pegou uma bola na linha de três. Desesperado, zanzou com ela sem saber o que fazer. Acabou soltando um arremesso desequilibrado, num erro que rendeu a virada dos Mavericks. No último lance, precisando de três pontos, o técnico Gregg Popovich tirou de quadra Manu Ginobili e Bruce Bowen. Vai entender. Prefácio de uma série cheia de emoções.
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(Foto - David Sherman/NBAE)
19.5.03
FERIDAS EXPOSTAS
Desacostumado com a derrota, o Los Angeles Lakers
olha para o futuro com uma boa dose de apreensão
Um título da NBA funciona, entre outras coisas, como um poderoso antídoto contra crises. Não há briga ou desavença que resista a um belo troféu. Uma equipe que se mantém no topo pode até se estapear internamente, mas, aos olhos do torcedor, navega sempre em mar de rosas. Quando a glória chega ao fim, a cortina de fumaça se abre e revela os problemas. Muitos deles.
Pois o Los Angeles Lakers acaba de interromper sua dinastia e já está em plena ebulição. O clima ferve em meio às conversas sobre quem fica e quem sai. As declarações já carregam um certo rancor que não se via há muito tempo. É como se, de uma hora para outra, não houvesse mais motivos para esconder as insatisfações.
“Estou contrariado. Foi uma falta de respeito com nosso grupo.” Dessa forma, o técnico-zen Phil Jackson reagiu ao saber que Shaquille O’Neal faltou ao último encontro dos tricampeões na temporada, sábado à tarde. Jackson disse ainda que a condição física do pivô será decisiva para a recuperação dos Lakers: “Trata-se de disciplina e dedicação. Sempre soubemos que o time vai bem quando Shaq vai bem”. Trocando em miúdos, foi um singelo “te cuida, grandalhão”.
Sabe-se lá que tipo de efeito uma fala dessas pode ter, por exemplo, em Kobe Bryant. Ao que parece, Jackson acha que o Los Angeles ainda gira em torno de O’Neal. Atravessando a melhor fase de sua carreira, como Kobe reagiria a isso? Vale lembrar que os astros não cruzam seus egos e adotam uma política de tolerância mútua em prol dos anéis que conquistaram juntos.
Jackson garantiu que não vai abandonar o barco, o que já é alguma coisa. Mas o treinador ainda não faz idéia do elenco que terá em mãos. O gerente Mitch Kupchak prometeu: “Teremos mais mudanças para o próximo ano. Faremos tudo o que pudermos para melhorar a equipe.” A intenção primordial do cartola é fortalecer o garrafão com um bom ala-de-força. Karl Malone, Juwan Howard e PJ Brown encabeçam a lista.
O elenco atual espera a ventania que vem por aí. Os veteranos Brian Shaw e Robert Horry dificilmente voltarão em 2003-2004. Shaw ganha passe livre e deve tomar outros rumos. Quanto a Horry, a diretoria tem até o mês que vem para estender seu contrato. Se isso não acontecer, o ala deve colocar sua experiência de cinco títulos à disposição do mercado. Ele próprio lamenta que seu futuro esteja longe da Califórnia: “Com certeza eu gostaria de continuar. Admiro esse sistema e estou muito velho para me adaptar a outro. Mas provavelmente não estarei aqui no próximo ano.” Mark Madsen, Tracy Murray e Samaki Walker também estarão livres para negociar com outras vizinhanças.
Shaq, Kobe, Fox, George, Fisher, Pargo, Rush e Medvedenko. É em torno desse grupo que o Los Angeles vai reconstruir sua vida. Como disse o próprio O’Neal ao comentar o fim da dinastia, “nada dura para sempre”. É hora de espanar a poeira e começar de novo.
(Foto - CBS)
18.5.03
DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ
Kidd, Wallace, Duncan e Nowitzki: entre todos os times
que iniciaram o campeonato, restaram apenas quatro
Sob a luz fria dos números, podemos dizer que a justiça está feita. Análises passionais e minúcias técnicas à parte, classificaram-se para as finais de conferência as equipes de melhor campanha na temporada regular. No Leste, Detroit e New Jersey. No Oeste, San Antonio e Dallas. O árduo caminho dos playoffs derrubou azarões como Orlando e Phoenix, guerreiros como Philadelphia e Los Angeles, timaços como Portland e Sacramento. Restou a nata. Para o Rebote, é hora de pisar em ovos novamente, sem medo de espatifá-los. No terreno das previsões, minha performance até agora registra nove acertos e três erros. Não chega a ser vergonhoso. Portanto, vamos em frente.
POR QUE O NEW JERSEY VAI BATER O DETROIT?
Ao contrário do que muitos pensam, me recuso a apostar num passeio dos Nets. No auge de sua campanha, com a defesa tinindo e o ataque se esforçando para não decepcionar, os Pistons podem complicar a batalha. Sem falar no mando de quadra, que pertence aos asseclas de Rick Carlisle. Ainda assim, o New Jersey é melhor, mais completo, mais consciente, mais capacitado. Por isso, deve passar. Jason Kidd, varrido ano passado pelos Lakers, merece uma segunda chance contra um adversário diferente. O armador tem passeado à vontade no mata-mata, apresentando um basquete de altíssimo nível. Será um desafio e tanto para Chauncey Billups, que ainda se recupera da lesão no tornozelo. A diferença é que Kidd (além de ser mais habilidoso) tem ao seu lado atletas versáteis como Kenyon Martin e Richard Jefferson, enquanto Billups vislumbra opções mais escassas na hora de distribuir a bola.
POR QUE O SAN ANTONIO VAI BATER O DALLAS?
Sei que já está ficando repetitivo, mas volto a dizer que o San Antonio vai passar por cima de qualquer intruso que atravessar seu caminho rumo ao título. Não será diferente agora. Os Mavs têm um ótimo elenco e devem endurecer a série, mas superar os Spurs quatro vezes é um pouco demais para a trupe de Don Nelson. Tim Duncan está jogando como MVP e os coadjuvantes acompanham a toada. No garrafão a coisa vai ficar difícil para o Dallas. A saída é apostar nos tiros de fora, na ajuda monstruosa de Nick Van Exel e num possível massacre de Steve Nash sobre o vaga-lume Tony Parker, que ora acende, ora apaga. Por incrível que pareça, tudo isso é pouco, muito pouco, para bater um time que, a cada noite, adquire mais pinta de campeão.
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Engana-se redondamente quem pensa que o Sacramento saiu dos playoffs pela porta dos fundos. Mesmo com o desfalque do maior craque, os Kings provaram a força de seu elenco e arrastaram a série contra o Dallas até o jogo 7. A batalha final, em pleno American Airlines Center, permaneceu equilibrada até a metade do quarto período, quando, num espaço de três minutos, os Mavs esticaram a vantagem e definiram a merecida classificação. Posso estar enganado, mas me pareceu claro que o destino seria outro se Chris Webber não estivesse de terno no banco.
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(Fotos – Noren Trotman e Glenn James/NBAE)
17.5.03
:::: BLOCO DE NOTAS ::::
Todo sábado, um passeio rápido pela liga
Rip Hamilton tirou Iverson do playoff
FATOR SURPRESA - Pouca gente levava fé, mas aí está Chauncey Billups provando que é um grande armador. Pouca gente levava fé, mas aí está o Detroit Pistons na final da conferência Leste. Mesmo com o tornozelo capenga, Billups foi o herói do jogo 6 contra o Philadelphia 76ers. Em pleno First Union Center, ele marcou 28 pontos (9 na prorrogação), incluindo o arremesso de três que selou a vitória. É uma pena ver Allen Iverson fora dos playoffs, mas não dá para dizer que o resultado foi injusto. O Detroit vem mostrando que não é apenas defesa. Rip Hamilton tem feito seu papel no ataque, ajudando a equilibrar as ações nos dois extremos da quadra.
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UFA - Primeiro foi o técnico do New Jersey, Byron Scott, dizendo que a eliminação do Los Angeles Lakers é saudável para o basquete, já que a NBA terá um novo campeão. Depois, o presidente dos Nets, Rod Thorn, chegou mais perto da realidade: “Quem ainda está na briga ficou aliviado por não ter de encontrar Shaquille O’Neal. Se pudessem, os times diriam que se sentem melhor agora que os Lakers estão fora.” Sinceridade é isso aí. O fato é que, se tivesse passado pelo San Antonio, dificilmente Shaq e Kobe perderiam o tetracampeonato. Os Spurs seguem como favoritos, mas enfrentar Tim Duncan & Cia. não parece mexer tanto com o psicológico dos adversários.
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IMPLICÂNCIA - Na falta de algo mais útil para fazer, todo mundo resolveu pegar no pé de Joumana, a mulher de Jason Kidd. A alegação é que a moça carrega o filho do casal para os ginásios com o objetivo de atrair para ela as câmeras de TV. Pura tempestade em copo d’água. Bob Ryan, veterano colunista do jornal Boston Globe, chegou a dizer que tem vontade de dar uns tapas na “aproveitadora”. Em tempos de violência doméstica, a declaração infeliz lhe rendeu uma merecida suspensão. A polêmica em torno de Joumana ganhou matérias e artigos em toda a imprensa americana. Vai ver era isso mesmo que ela queria. O melhor a fazer é deixá-la em paz, à beira da quadra, com o moleque no colo. Desde que o pequeno T.J. não interrompa o jogo para pedir ao pai um aumento de mesada, não vejo motivo para tanto alarde.
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NOVA GERAÇÃO - A NBA divulgou ontem os pré-candidatos ao draft 2003, marcado para 26 de junho. Além dos badalados LeBron James, Carmelo Anthony e Darko Milicic, vale prestar atenção em nomes como TJ Ford, Travis Outlaw, Charlie Villanueva, Dwyane Wade e James Lang. Dos 73 inscritos, 31 são estrangeiros. Entre eles, os brasileiros Leandrinho (em alta) e Anderson Varejão (em baixa). A ordem dos times será definida no sorteio da próxima quinta-feira.
:::::::: :::::::: Z O N A . M O R T A :::::::: ::::::::
O New Orleans fez uma grande besteira ao demitir o técnico Paul Silas. Após ter sido esnobada por Jeff Van Gundy, a diretoria agora cogita assinar com Tim Floyd, desempregado desde que saiu do Chicago Bulls com 49 vitórias e 190 derrotas no currículo. Mike Fratello e Brian Hill são as outras duas opções para os Hornets.
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Karl Malone, Gary Payton, Alonzo Mourning, Juwan Howard, Scottie Pippen, PJ Brown. Não pára de crescer a lista dos possíveis reforços para o Los Angeles de Phil Jackson.
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Na série contra os Pistons, convém ao New Jersey resolver as partidas no tempo normal. Nesta temporada, o Detroit foi à prorrogação dez vezes. E saiu vitorioso em todas.
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Dallas e Sacramento têm tudo para fazer, hoje à noite, um dos melhores jogos do ano. Sorte nossa poder conferir cada lance pela TV. Imperdível.
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(Foto - Jesse D. Garrabrant/NBAE)
16.5.03
A CRUEZA DE VAH-RAY-ZHOWN
Anderson decepcionou os olheiros americanos
que caçam talentos para o draft 2003 da NBA
Que Nenê Hilario abriu as portas para os brasileiros na NBA, ninguém duvida. Em sua temporada de estréia, o ala-pivô do Denver Nuggets não chegou a ser brilhante, mas mostrou personalidade e impressionou técnicos e jornalistas. A questão agora é saber quanta gente vai conseguir cruzar essas portas. Ao que parece, não será nada fácil. Acaba de cair um balde de água fria sobre os cabelos rebeldes do primeiro candidato.
Cotado até pouco tempo atrás para ficar entre as dez primeiras escolhas do draft 2003, Anderson Varejão pode ver essa posição despencar de uma hora para a outra.
Pelo menos dez olheiros norte-americanos acabam de voltar da Espanha, onde acompanharam de perto o quadrangular final da Euroliga. A expectativa era confirmar o que se comentava sobre o brasileiro: um ala que une bom porte físico e habilidade embaixo da cesta. A decepção foi total.
Varejão marcou apenas um ponto na vitória do Barcelona sobre o Benetton Treviso, e nem o título foi capaz de aliviar as críticas. “Ele está tão cru que não dá nem para saber qual é sua posição em quadra”, disse um dos olheiros, considerando o brasileiro um péssimo arremessador com fraco posicionamento. “Será que não existem oito garotos na NCAA que consigam pegar rebotes e dar tocos tão bem quanto ele?”, perguntou outro observador.
A análise foi tema de uma reportagem publicada ontem pelo site da revista Sports Illustrated, com direito a foto e aula de pronúncia para o sobrenome: Vah-Ray-Zhown, recomendam os gringos. Talvez seja um exagero julgar o trabalho de um ano inteiro por apenas uma partida, mas a verdade é que Anderson já vinha perdendo prestígio nos últimos meses, enquanto o armador Leandrinho, do Bauru, subia na cotação americana.
A onda de pessimismo se estendeu a outros europeus, como o polonês Maciej Lampe, o francês Mickaël Pietrus e o grego Sofoklis Schortsianitis. À exceção do fenômeno sérvio Darko Milicic, os jogadores que disputam campeonatos no Velho Continente devem ficar longe das primeiras posições do draft.
Alguns deles (inclusive Varejão) podem ser escolhidos por equipes com planos de longo prazo. A saída seria selecionar o atleta e deixá-lo amadurecer na Europa por mais dois ou três anos, como o San Antonio Spurs fez com Manu Ginobili. Resta esperar para ver.
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Voltando aos playoffs, não deu outra. Fisher e George foram mal, o Los Angeles perdeu. Como Kobe também foi mal, o Los Angeles não só perdeu mas levou uma sova e se despediu do campeonato. Triste fim de uma dinastia. Podem mandar chamar o Karl Malone.
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Com apenas três jogadores no banco de reservas (sendo que um deles, Keon Clark, atuou apenas sete minutos), o Sacramento Kings confiou no trabalho de conjunto, bateu o Dallas e empatou a série. Que os deuses do basquete conspirem para que a ESPN transmita este bendito jogo 7 no sábado.
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(Foto - SI)
15.5.03
O APOIO QUE VEM DA COZINHA
Derek Fisher e os coadjuvantes do Los Angeles Lakers
assumem uma função vital no jogo 6 contra os Spurs
O Los Angeles Lakers entra em quadra logo mais com a missão maiúscula de manter viva uma dinastia. A derrota significa o adeus aos playoffs e a interrupção da seqüência de três títulos. Do outro lado, o San Antonio Spurs fará de tudo para evitar o lotérico jogo 7. Hoje é dia de briga feroz no Staples Center.
Espera-se que Shaquille O’Neal e Kobe Bryant façam o de sempre. O diferencial, portanto, vai pesar nos ombros de uma dupla menos cotada. Ficou provado nas cinco primeiras partidas: para bater o time de melhor campanha na temporada, os tricampeões precisam de Derek Fisher e Devean George. Como os números não mentem, vamos a eles.
Nas três vezes em que perdeu para o San Antonio, Fisher manteve a média de 7.6 pontos. Nas duas vitórias, a estatística aumentou para 15.5. George também produziu pouco nas derrotas (uma ausência por lesão e seis pontos somados em duas partidas), mas subiu de produção quando o Los Angeles venceu (média de 11).
Com a mira calibrada, Fisher vem acertando bolas de três em momentos importantes. Por isso, não é exagero dizer que a sobrevivência dos Lakers pode estar em suas mãos. Outros dois coadjuvantes, Robert Horry e Brian Shaw, atravessam a série com altos e baixos. Caso ambos funcionem a contento, os Spurs terão problemas. Isso se Kobe e Shaq fizerem o dever de casa, claro.
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No outro evento de hoje, o Dallas Mavericks deve partir furioso para cima do Sacramento Kings. Mas a turma de Rick Adelman não é de se entregar sem resistência, especialmente quando joga ao lado da torcida. Na Arco Arena, também há uma dupla com o peso da responsabilidade nas costas: Vlade Divac dentro do garrafão, Peja Stojakovic fora dele.
Dependendo do transcorrer dos fatos, a sexta-feira pode amanhecer com a final do Oeste definida. Ou completamente embaralhada.
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(Foto - D. Clarke Evans/NBAE)
14.5.03
NO LIMITE
Os Mavs de Nash empurraram o Sacramento de Divac
para a beira do abismo, onde a derrota significa o fim
Sentado no banco, em trajes de passeio, Chris Webber terá dificuldades para controlar a angústia na partida de amanhã. Cada um de seus companheiros vai entrar em quadra com uma incômoda corda no pescoço. Qualquer deslize leva ao enforcamento. Uma derrota abre férias coletivas para o Sacramento Kings.
Numa série nivelada por cima, nenhum time consegue escapar ileso após perder seu maior craque por causa de uma lesão ingrata. Resultado: após cinco embates, os Kings respiram com a ajuda de aparelhos. Mesmo que vençam na Arco Arena (o que é perfeitamente viável), terão de voltar ao Texas para um enervante e imprevisível jogo 7.
O Dallas Mavericks, que não tem nada a ver com as contusões alheias, vai fazendo sua parte de forma exemplar. Quando o trio Nowitzki-Finley-Nash está bem azeitado, é muito difícil parar essa turma. Ontem, o alemão foi a estrela maior, ficando a uma assistência do triple-double. Os outros dois combinaram 41 pontos. Acrescenta-se a essa química uma estupenda atuação defensiva, além do apoio providencial de coadjuvantes como Raja Bell, que comandou uma impressionante seqüência ofensiva no terceiro período.
Com um passo de cada vez, superando a desconfiança dia após dia, os Mavs já estão batendo à porta da final do Oeste. Que, na verdade, acaba sendo a final da NBA.
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Por falar em Texas, o San Antonio conseguiu ontem o que pode se chamar de uma derrota moral. O técnico Gregg Popovich deve levantar as mãos para o céu. Por pouco, muito pouco, pouquíssimo mesmo, seu time não entregou um jogo fácil para o Los Angeles. Novamente os Spurs deixaram evaporar uma boa diferença de pontos. Num piscar de olhos, sem maiores explicações, a equipe foi acometida por um blecaute e sumiu da quadra.
Abriu-se espaço, portanto, para um Kobe Bryant monstruoso, acertando arremessos de gente grande, como aliás lhe convém. Sabe-se lá que tipo de sabedoria budista o cardíaco Phil Jackson passou para seus reservas, mas o banco dos Lakers garantiu a retaguarda necessária para os astros. A reação só não se consumou porque a tradicional bomba de Robert Horry, que geralmente explode na hora certa, desta vez engasgou. A bola da vitória entrou e saiu da cesta, causando uma decepção tão grande que, mesmo com alguns segundos restando no cronômetro, o Los Angeles se esqueceu de fazer uma falta. O tempo correu até o zero e o San Antonio garantiu a vitória. O clima, no entanto, era de velório. Os atletas saíram para o vestiário com fisionomias derrotadas, diante de um ginásio atônito.
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(Foto - Ronald Martinez/NBAE)
13.5.03
RESPEITO É BOM E ELES GOSTAM
Os Nets de Kidd penaram um bocado com a torcida do
Boston, mas riram por último e varreram o oponente
Foi sofrido, suado, chorado. Mas só no jogo 4. Após a canseira de duas prorrogações, o New Jersey Nets fechou em 4-0 uma série razoavelmente tranqüila contra o Boston Celtics. Está aí a primeira varrida dos playoffs. E justamente de um time que se arrastou sem confiança na segunda metade da temporada. Já estava mesmo na hora de provar que o bicampeonato do Leste era possível. Missão cumprida.
A esta altura, ninguém mais duvida do potencial de Jason Kidd & Cia. Aliás, esse “Cia” é uma baita injustiça com uma rapaziada que merece citação individual: Kenyon Martin, Richard Jefferson, Kerry Kittles, Rodney Rogers, Jason Collins, cada um deles tem sua parcela de responsabilidade na excelente campanha que os Nets atravessam nos playoffs.
De todas as equipes do Leste, talvez seja esta a que tem mais “jeito de Oeste”. A defesa sólida, o contra-ataque letal e o elenco balanceado deixam o time um degrau acima dos parceiros de conferência. E como não podia faltar um craque, Kidd tem provado a cada noite que é o rei absoluto da NBA na posição 1. O armador está sempre infernizando os adversários e beliscando o triple-double. Ontem não foi diferente: mesmo hostilizado pela torcida, ele riu por último e anotou 29 pontos, 10 rebotes e 8 assistências.
Seja qual for o próximo oponente, vem pedreira por aí. Por motivos distintos, tanto Detroit como Philadelphia podem fazer bonito. Mas eles que se preparem. O New Jersey já mostrou que não está no mata-mata a passeio.
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Na turma de verde, parece que enfim acabou a pilha dos astros. Paul Pierce não repetiu diante dos Nets as atuações decisivas da série contra o Indiana. A máquina de fazer arremessos parecia meio desregulada. No jogo 4, por exemplo, foram apenas sete acertos em 24 tentativas. Antoine Walker acompanhou o colega na queda de rendimento, e o pior é que alguns companheiros sumiram justamente quando não poderiam ter sumido. Foi o caso dos titulares Walter McCarty e Tony Battie, responsáveis por um vácuo no garrafão.
Apesar dos 4-0, os Celtics não deixam os playoffs sob humilhação. Ao contrário. Mesmo sem mando de quadra, o time foi buscar o um triunfo heróico contra os Pacers. Dali em diante, o que viesse seria lucro. Infelizmente, o lucro não veio. Fica para o ano que vem.
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(Foto - Nathaniel S. Butler/NBAE)
12.5.03
O CARTOLA DO ANO
Dumars devolveu o Detroit
à antiga rotina de vitórias
Em apenas três temporadas, Joe Dumars fez um trabalho de obreiro como presidente do Detroit Pistons. Sem muito estardalhaço, tomou atitudes cirúrgicas, mexeu em peças vitais e reconstruiu a equipe baseando-se numa política de cautela financeira, na qual cada dólar foi gasto com extrema inteligência. O reconhecimento enfim chegou. Na quarta-feira, antes do jogo 5 contra o Philadelphia, o ex-armador será anunciado como o melhor executivo da NBA em 2002-2003. Prêmio merecidíssimo.
Quando assumiu o cargo, Dumars tinha em mãos astros como Grant Hill e Jerry Stackhouse, além de uma penca de coadjuvantes razoáveis como Lindsey Hunter, Christian Laettner e Jud Buechler. Dentro da quadra, nada funcionava. O jeito foi promover uma verdadeira faxina no elenco. Aos poucos, cada atleta foi juntando suas trouxas e tomando seu rumo. À exceção de Michael Curry, todos foram embora ao longo desses três anos.
A reformulação exigiu habilidade nos bastidores. O primeiro passo foi dado no campeonato de 99-00, quando terminou o contrato de Hill. Antes de perdê-lo para o mercado de passes livres, Dumars envolveu o jogador numa troca com o Orlando Magic, considerada por muitos um tiro n’água. A contrapartida veio com Ben Wallace e Chucky Atkins. Hoje todos sabem que foi um negócio da China.
A segunda movimentação polêmica ocorreu recentemente, na última pré-temporada. O ídolo Jerry Stackhouse foi mandado para Washington em troca do jovem Rip Hamilton. Deu certo outra vez. O que parecia uma atitude suicida acabou motivando o time rumo aos playoffs. Rip assumiu o papel de cestinha e conseguiu desafogar um esquema que tem a defesa como prioridade absoluta.
Também neste ano, o desprezado Chauncey Billups encontrou abrigo em Detroit. Como forma de gratidão, tornou-se um dos melhores armadores da liga, resolvendo o problema da posição 1 (Atkins tem se mostrado uma excelente opção no banco de reservas). Outras contratações ajudaram a criar um grupo vencedor: Corliss Williamson, Cliff Robinson e Jon Barry não são craques, mas revelam-se fundamentais na rotação do técnico Rick Carlisle.
A aposta no treinador, por sinal, é outro mérito de Dumars. A experiência com os Pistons foi o primeiro degrau na carreira de Carlisle, que em pouco tempo provou ser um dos melhores estrategistas da liga. No draft, o presidente também não fez feio. Mesmo com posições ingratas, ele foi criterioso ao selecionar Mehmet Okur (38ª escolha) e Tayshaun Prince (23ª).
Os resultados estão aí. Bicampeão da divisão Central, o Detroit registrou a melhor campanha do Leste e, apesar de ter permitido o empate dos Sixers ontem, conserva plenas condições de brigar pelo título da conferência. Envergando o terno de empresário, Dumars mostrou o mesmo talento dos tempos em que vestia aquele velho uniforme número 4.
11.5.03
O FRANCÊS AUSENTE
Tony Parker anda caindo pelas tabelas no mata-mata
A reta final de uma partida, quando o relógio se aproxima do zero e a tensão corre na veia, é o momento perfeito para distinguir o craque do jogador medíocre. Nessa hora, só quem confia no próprio taco consegue evitar a tremedeira nos braços e o frio na barriga. O francês Tony Parker, ao que parece, ainda não pode ser incluído neste grupo. Tal constatação decepciona um bocado de gente (Rebote inclusive), mas torna-se inevitável a esta altura do campeonato.
Quando faltavam 14 segundos para o fim do jogo 4 contra o Los Angeles Lakers, o futuroso atleta do San Antonio Spurs tinha a bola em mãos na linha lateral. Seu time precisava de uma cesta de três para forçar uma prorrogação. Bruce Bowen, Stephen Jackson e Manu Ginobili, todos com a mão quente, começaram a se movimentar. Parker, então, deu um passe perfeito. Para Kobe Bryant.
O erro infantil é o ponto mais nebuloso da performance irregular que o armador vem apresentando nos playoffs. Já se vão três semanas e, no geral, ele ainda não disse a que veio. Se não disser em breve, os Spurs correm o risco de jogar na latrina o favoritismo conquistado com muito suor durante seis meses.
A pane mental não é novidade e já atingiu outros representantes da posição. Um bom exemplo é o habilidoso Jason Williams, que chegou a atrair comparações com Pete Maravich em seu ano de estréia, mas fracassou em partidas decisivas e só agora, após trocar o Sacramento pelo Memphis, começa a recuperar seu antigo basquete.
O mesmo destino resolveu bater à porta do jovem Parker. Além de comandar um elenco coeso dentro da quadra, ele ainda precisa provar à diretoria que não faz sentido gastar rios de dinheiro contratando Jason Kidd. Para convencer a cartolagem, é bom voltar aos trilhos o quanto antes. No terreno das palavras, tudo caminha bem. O site oficial tonyparker.net estampa frases antigas que revelam uma demonstração teórica (e até profética) de coragem: “Atuo na posição 1, na qual você é reponsável por tudo o que acontece. Ganhar ou perder depende muito do seu comportamento. É você que aciona os movimentos táticos, acelerando ou diminuindo o ritmo. A posse da bola é sempre sua. E eu adoro jogar sob pressão.”
Pois aí está a grande chance de provar que tudo isso não é apenas bravata. Na terça-feira, a equipe do Texas recebe no SBC Center um Los Angeles Lakers embalado por duas vitórias seguidas. Mais pressão, impossível. A derrota em casa pode equivaler a uma assinatura no atestado de eliminação.
Muita gente aposta que a série vai se estender a sete jogos. Se isso realmente acontecer, o último duelo será no sábado, justamente o dia do 21º aniversário de Parker. Não poderia haver momento mais apropriado para mostrar amadurecimento. O francês precisa voltar aos seus melhores dias. Com urgência.
(Foto - Lisa Blumenfeld/NBAE)
10.5.03
:::: BLOCO DE NOTAS ::::
Todo sábado, um passeio rápido pela liga
O menisco contundido tirou Chris Webber dos playoffs
DRAMA - Além de permitir uma possível mudança de rumos na série entre Dallas e Sacramento, a grave contusão no joelho esquerdo de Chris Webber mostra que nem sempre a vida é justa. Durante todo o campeonato, o ala foi um guerreiro, lutando contra lesões seguidas e compensando a dor física com impressionante vigor mental. Justamente agora, quando deveria estar colhendo os louros de seu esforço, se vê obrigado a encarar o desfecho melancólico numa mesa de cirurgia. O passado recente mostra que os Kings não costumam se abater em situações como esta. Mais do que nunca, vai ser preciso tirar leite de pedra.
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VIVOS - Devean George voltou. E o Los Angeles Lakers, também. No jogo 3, a bola circulou mais e todos os titulares pontuaram em dígitos duplos. É disso que Kobe e Shaq precisam. Mantendo o equilíbrio, o time ainda pode complicar a vida do San Antonio Spurs, que precisa se ajeitar. Com apenas dois pontos em 30 minutos, Tony Parker sumiu outra vez. Já começo a questionar minhas opiniões sobre o armador, que tem deixado o MVP Tim Duncan sozinho no ataque.
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PRECONCEITO? - Como se não bastasse a superioridade gritante do New Jersey, Byron Scott resolveu atacar o Boston também fora das quadras. O técnico afirmou, num programa de rádio, que os torcedores dos Celtics chegam bêbados ao ginásio e adotam uma postura “cruel e hostil” contra o adversário. As queixas se estenderam a insinuações de racismo, o que fez o lendário treinador Red Auerbach sair em defesa dos fãs. “O que Scott disse foi estúpido”, criticou. Exageros à parte, a verdade é que ex-jogadores do próprio Boston, como Bill Russell e Dee Brown, costumavam reclamar que a cidade não era das mais acolhedoras para os negros.
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TENSÃO - De fato, há um clima de violência na série. Ontem, a torcida perturbou Jason Kidd com o corinho “wife-beater”, referindo-se às acusações que o armador enfrentou em 2001 por ter agredido sua mulher. Quando a série estava em New Jersey, havia no meio do público um engraçadinho com um cartaz onde se lia “Alguém por favor dê uma facada em Paul Pierce” (há dois anos, numa casa noturna, o astro do Boston foi esfaqueado no rosto, no pescoço e nas costas). Lamentável.
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BILHETE AZUL - Não deixa de ser uma notícia estranha: Michael Jordan foi sumariamente demitido. A atitude, impensável para o Jordan atleta, não é tão absurda para o Jordan cartola. O proprietário do Washington Wizards, Abe Pollin, acha que o mestre não repete nos escritórios o talento das quadras. Se pensarmos bem, até que faz sentido. Além de ter fracassado em dois anos seguidos na tarefa de levar a equipe aos playoffs, Jordan apostou todas as fichas no garoto Kwame Brown, primeira escolha no draft de 2001. Provavelmente, foi o maior erro de toda a sua carreira.
:::::::: :::::::: Z O N A . M O R T A :::::::: ::::::::
Alonzo Mourning, enfim, está liberado pelos médicos. Com passe livre, ele garante que a intenção é renovar com o Miami Heat, mas o caminho pode ser outro. Knicks, Mavs, Blazers e Lakers estão de olho no pivô.
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Jeff Van Gundy recusou o convite para assumir a vaga de Paul Silas no New Orleans Hornets. Dispensado na semana passada, Silas vai conversar com Clippers e Cavaliers.
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O presidente do Portland Trail Blazers, Bob Whittsit, decidiu se aposentar. Muita gente acha que o time só não deu certo até agora por causa de suas trapalhadas. O dono da franquia, Paul Allen, anunciou que um pacote de mudanças vem aí, a começar por uma política financeira mais cautelosa.
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Derek Fisher vem acertando 64% de seus arremessos de três pontos nos playoffs. Está aí uma ajuda que o Los Angeles não pode dispensar.
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(Foto - Glenn James/NBAE)
9.5.03
UMA LIGEIRA ODE AO PRÍNCIPE
A atuação heróica de Tayshaun Prince e as contusões de Chris Webber e Bobby Jackson deram o tom da rodada dupla de quinta-feira. O calouro do Detroit Pistons só não fez chover na vitória sobre o Philadelphia, superando o trauma de ter se chocado acidentalmente com Ben Wallace no fim da temporada regular, causando uma lesão grave no pivô. Em Sacramento, o sinal de alerta está ligado. Se Webber e Jackson não voltarem para o jogo 3, o Dallas tem tudo para se agigantar na série. Pena que, por motivos de força maior, não possamos ter uma crônica completa hoje. O Rebote volta amanhã, a todo vapor, com o Bloco de Notas. Abraços a todos.
(Foto - Tom Pidgeon/NBAE)
8.5.03
FUTURO DESENHADO
Nos dois primeiros jogos, o San Antonio de Parker fez o
dever de casa e abriu o caminho para a final do Oeste
Até os torcedores de Mavs e Lakers vão compreender: qualquer combinação que não reúna Kings e Spurs na final do Oeste será pura injustiça. Pode até ser que, a partir de agora, os dois times entrem em colapso e entreguem suas séries de bandeja. Mas hoje é impossível vislumbrar esse Dallas sem brios ou esse Los Angeles desfigurado disputando o título da conferência. Os deuses do esporte estão vendo tudo.
Nesta semana, o público do Texas teve a oportunidade rara de conferir duas grandes aulas de basquete. Na terça-feira, o Sacramento deitou e rolou no ginásio do Dallas. Ontem, o San Antonio fez o mesmo no SBC Center, diante dos tricampeões.
A perda quase simultânea de Rick Fox e Devean George parece ter desmontado o esquema de Phil Jackson. Tal constatação, diga-se de passagem, é muito triste: uma equipe que depende tanto de atletas medianos como Fox e George realmente não pode se credenciar ao título da NBA. Resta aos Lakers a esperança de uma reação sobrenatural comandada por Kobe Bryant e Shaquille O'Neal. Se não for por esse caminho, o tetra vai ficar na gaveta.
Azar do Los Angeles ter esbarrado num time forte e coeso como os Spurs. O elenco é tão qualificado que, vira e mexe, um coadjuvante rouba a cena e ofusca o craque Tim Duncan. Ontem os holofotes se voltaram para Bruce Bowen, que além de marcar 27 pontos e acertar 7 de seus 8 arremessos de três (recorde nos playoffs), ainda se revelou um guerreiro na defesa, fazendo Kobe suar a camisa a cada tentativa de infiltração.
No dia em que foi injustamente preterido na seleção de calouros da temporada, o argentino Manu Ginobili anotou 17 pontos e terminou como segundo cestinha do time da casa. Sempre discreto, como quem não quer nada, Duncan beirou um triple-double com 12 pontos, 13 rebotes e 7 assistências. Outros três jogadores do San Antonio (Parker, Jackson e Claxton) marcaram em dígitos duplos, mostrando que a estrela tem sua importância mas, na hora da verdade, um grupo sólido pode fazer a diferença.
Do outro lado da quadra, O'Neal e Bryant se saíram bem, mas a decepção foi inevitável com a fraquíssima pontuação de Brian Shaw (6), Derek Fisher (5) e Robert Horry (2). Foi aí que os Lakers perderam a partida. E talvez a série.
(Foto - Brain Bahr/NBAE)
7.5.03
PEDAGOGIA AVANÇADA
Uma das lições ensinadas pelos Kings na aula de terça:
como enterrar sem medo em cima de Shawn Bradley
Curso rápido de basquete: explanação abrangendo todos os fundamentos, treino intensivo de arremessos, workshop de assistências, clínica de posicionamento defensivo. Previsão inicial de quatro aulas. Tratar com professor Rick Adelman. Inscrições abertas para americanos, alemães, canadenses e mexicanos.
Foi com um espírito quase didático que o Sacramento Kings abriu a série contra o Dallas Mavericks na noite de terça-feira. Atuando fora de casa, o time foi educado o bastante para oferecer ao oponente uma lição gratuita de como se comportar diante da bola cor-de-abóbora. Espero que Don Nelson tenha anotado em sua prancheta alguns tópicos para estudar no vestiário. Se repetir nas próximas três partidas a performance de ontem, corre o risco de levar uma vassourada histórica.
O resultado final (124-113) foi de uma enganação absurda. Afinal, os visitantes chegaram a vencer por quase 30 pontos e resolveram cozinhar o quarto período em fogo brando, permitindo que os titulares cochilassem no banco. Por isso a diferença encolheu. Só por isso. O placar moral do jogo 1 é uma sova maiúscula imposta pelos Kings.
Dificilmente os Mavs vão abrir a guarda outra vez na quinta-feira. Mas o estrago já está feito. O mando de quadra agora pertence ao melhor elenco de toda a NBA. Não há em Sacramento um só atleta que possa ser considerado “ruim”. Lawrence Funderburke? Ok, vá lá. Podemos adicionar a ele o razoável Gerald Wallace. Pronto. O resto é de “bom” para cima, sendo que pelo menos sete são excelentes (os cinco titulares mais Bobby Jackson e Keon Clark). Nenhuma outra equipe da NBA pode abrir a boca para dizer que tem um plantel tão forte.
Para se ter uma idéia, os bambas do Dallas nem estiveram tão mal. Michael Finley, Steve Nash e Nick Van Exel marcaram 20 pontos cada, enquanto Dirk Nowitzki acrescentou 18. Mesmo assim, o quarteto sequer sentiu o cheiro da partida. Que fique bem claro: o Sacramento não é o Portland e, após seis dias de descanso, voltou à ativa soltando faíscas. Don Nelson não pode nem pensar em bobear agora como fez no primeiro round. O remédio é encher seus garotos de vitamina e partir para a briga, porque não haverá tempo para respirar e recuperar o fôlego.
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O especialista em retrancas é o Detroit, mas a grande missão defensiva da série pertence ao Philadelphia: frear o ímpeto do endiabrado Chauncey Billups. Lá pela metade da temporada, escrevi aqui que o armador está ansioso para ingressar na elite da liga. Responsável pelo cérebro de seu time, ele tem mostrado nos playoffs que o objetivo continua de pé. Ontem, marcou 24 pontos e deixou a quadra com uma preocupante lesão no tornozelo. Escondido no canto do vestiário, o técnico dos Sixers, Larry Brown, deve estar espetando compulsivamente um bonequinho de vodu vestido com a camisa 1 dos Pistons.
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Alô Van Horn! Como é que é?
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(Foto - Ronald Martinez/NBAE)
6.5.03
NO CAMINHO CERTO
O New Jersey de Kidd bateu o Boston de Pierce ontem
Poucos times na NBA são tão velozes no contra-ataque como o New Jersey Nets. Diante disso, nada melhor que um adversário arremessando compulsivamente, errando bastante e pegando poucos rebotes. Foi esse o Boston Celtics que se aventurou na Continental Airlines Arena ontem à noite. A mira torta dos visitantes (em especial Antoine Walker e Tony Delk) deu à equipe da casa a chance de jogar como gosta: transição rápida, distribuição eficiente e cestas à vontade. Nets 1-0 numa série que começou de modo previsível.
Não que a partida tenha sido fácil. Afinal, com Paul Pierce do outro lado da quadra, tudo fica mais complicado. O armador marcou 34 pontos, roubou quatro bolas e deu oito assistências. Mas passou de herói a vilão ao desperdiçar um arremesso de três que poderia ter empatado o placar nos últimos segundos. A ajuda providencial de Walter McCarty e Eric Williams acabou se tornando inútil, devido aos tiros cegos de Walker (6-20) e Delk (3-10). Se ao menos arrancasse rebotes, o Boston poderia ter aliviado o estrago dos contra-ataques. Mas foram apenas 30 (4 ofensivos) contra 44 do New Jersey.
Com 21 pontos, Kenyon Martin se livrou por pouco da eliminação com seis faltas e foi um dos cinco atletas dos Nets a pontuar em dígitos duplos. Aaron Williams, Kerry Kittles, Richard Jefferson e Jason Kidd completaram a festa. O basquete sólido exibido no confronto com o Milwaukee continua intacto. Se os Celtics não arrumarem um jeito de tirar essa locomotiva dos trilhos, os atuais campeões do Leste têm tudo para partir rumo ao bi. Pelo menos é este o quadro que vem se desenhando nos playoffs.
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Como eu disse ontem, manter Kobe Bryant e Shaquille O’Neal tinindo não será suficiente para o Los Angeles bater o San Antonio. No jogo 1, Kobe anotou 37 pontos e Shaq contribuiu com 24 (além de 21 rebotes), mas o resto do elenco praticamente sumiu. Tim Duncan, David Robinson e Manu Ginobili deram conta do recado e abriram 1-0 para os Spurs. A vitória foi fundamental para espantar os fantasmas e dar confiança ao time do Texas. Mas não há como ignorar um aspecto preocupante: a fraquíssima atuação dos armadores titulares. Tony Parker voltou a ser discreto, com 9 pontos, e Stephen Jackson, para surpresa geral, deixou a quadra zerado. Diante dos tricampeões, convém corrigir essas falhas o quanto antes.
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(Foto - Noren Trotman/NBAE)
5.5.03
DE VOLTA ÀS PREVISÕES
A partir de hoje, Shaq e Duncan fazem o chão tremer
Quando o Phoenix venceu o jogo 1 contra o San Antonio e o Orlando fez o mesmo contra o Detroit, prometi abandonar de vez minhas previsões. Afinal, no dia anterior eu havia apostado que Pistons e Spurs eliminariam seus oponentes com certa facilidade. Após a decepção momentânea, o tempo passou e acabou mostrando que meus palpites para o primeiro round não foram tão desastrosos. Nas oito séries, só errei o vencedor de Boston x Indiana. De quebra, ainda sugeri que Dallas x Portland seria o confronto mais disputado do Oeste. Por essas e outras, optei por suspender a autopunição. Concedi a mim mesmo uma espécie de anistia, resgatei a bola de cristal na lixeira e cá estou, pronto para exercitar novamente meus dotes de vidente. Espero não me arrepender mais tarde.
POR QUE O SAN ANTONIO VAI BATER O LOS ANGELES?
De início, a reposta é a mesma daquela primeira leva de previsões: o San Antonio vai bater qualquer time que cruzar seu caminho. Contra os Lakers, no entanto, será um duelo fabuloso. Briga de cachorro grande. Se Tim Duncan não ficar mascarado com o troféu de MVP, a turma de L.A. vai ter muito trabalho embaixo da cesta. Até porque David Robinson e Malik Rose já provaram, diante dos Suns, que têm plenas condições de contribuir. Por outro lado, Tony Parker não pode bobear, como fez no início do playoff. Para os tricampeões, manter Shaquille O’Neal e Kobe Bryant em alto nível não será suficiente. Os coadjuvantes (leia-se Horry, Fisher e George) precisam mostrar serviço. Vale lembrar que os Spurs varreram o adversário nos quatro encontros durante a temporada regular. Ok, isso não quer dizer nada a esta altura do campeonato, mas serve para sabermos que Gregg Popovich, o técnico do ano, pode ter encontrado uma receita.
POR QUE O SACRAMENTO VAI BATER O DALLAS?
Está aí o aguardado embate entre os dois melhores elencos da liga. Chris Webber vai ser um pouco mais exigido, Peja Stojakovic terá de manter a pontaria afiada nos arremessos e Mike Bibby enfrentará um armador mais veloz. Ainda assim, aposto nos Kings, pelo conjunto, pelo entrosamento, pela qualidade individual, pelo banco de reservas. Sei que o mando de quadra tem alguma influência, mas os Mavericks mostraram um bocado de fragilidade contra o Portland. Steve Nash e Michael Finley precisam melhorar (e muito) suas atuações. Contra o Sacramento, um alemão sozinho não dá nem para a saída.
POR QUE O NEW JERSEY VAI BATER O BOSTON?
Muita gente pode pensar o contrário, mas a empolgação dos Celtics deve esbarrar no talento dos Nets. Jason Kidd, Kenyon Martin e Richard Jefferson encontraram uma química invejável contra o Milwaukee, e até reservas como Rodney Rogers cresceram na hora certa. Admito que falta ao New Jersey um artilheiro como Paul Pierce (este, sim, é o único que pode subverter a lógica). Porém, mesmo quando Pierce recebe apoio dos companheiros, o Boston continua sendo uma equipe instável. O grupo comandado por Jim O’Brien teve seus méritos contra o Indiana, mas cabe ressaltar que o resultado final deve-se muito ao inesperado colapso dos Pacers. Se peças importantes como Reggie Miller não tivessem sumido, a história poderia ter sido outra.
POR QUE O PHILADELPHIA VAI BATER O DETROIT?
Empurrei esta série para o fim por um simples motivo: não tenho a menor idéia da resposta. O que vai acontecer neste confronto me parece absolutamente imprevisível. Os dois tiveram altos e baixos na primeira rodada: entregaram jogos fáceis em casa e arrancaram vitórias heróicas na estrada. A diferença está no estilo. Será que o abusado ataque dos Sixers supera a forte defesa dos Pistons? Pode ser que sim, pode ser que não. Mas torcer pela retranca duas vezes seguidas é demais para mim. Desta vez, prefiro ficar com o basquete bem jogado. Allen Iverson na cabeça.
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A ação começa hoje à noite, com Spurs x Lakers e Nets x Celtics. Esperamos que, daqui em diante, a ESPN tome jeito e não nos deixe na mão, como fez neste domingo decisivo.
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(Foto - Andrew D. Bernstein/NBAE)
4.5.03
A HISTÓRIA BATE À PORTA
Ben Wallace recebe o Magic numa tarde que promete
Durante a tarde de hoje, dois palcos vão dividir as atenções do mundo do basquete. No American Airlines Center e no Palace of Auburn Hills, este inofensivo 4 de maio pode ficar marcado como uma data histórica. Se bater o Dallas Mavericks no Texas, o Portland Trail Blazers será a primeira equipe da NBA a vencer uma série de playoff após sair perdendo por 3-0. Em Detroit, os Pistons perseguem façanha semelhante: um triunfo sobre o Orlando vale o ingresso no seleto grupo dos seis times que superaram a desvantagem de 3-1. No caso de vitória do Magic, outro recorde: seria a terceira vez em que o oitavo classificado elimina o líder da conferência.
Enfim, teremos um dia de decisão, com a adrenalina tomando o corpo de cada atleta, sem espaço para erros e tropeços, como manda o figurino do mata-mata.
O que o Portland fez com o Dallas nem precisa se consumar numa bela virada para se tornar registro histórico. O simples fato de ter escapado da degola por três vezes consecutivas, sendo uma delas em terreno inimigo, já basta para credenciar o grupo comandado por Maurice Cheeks. Diante dos costumeiros problemas disciplinares e de lesões que abateram peças fundamentais como Derek Anderson e Scottie Pippen, os Blazers revelaram o verdadeiro sentido do heroísmo no esporte e confiaram numa regra muito simples: o jogo só acaba quando termina.
Mesmo diante da estupenda reação, o Portland não detém o favoritismo para a partida número 7. Afinal, os Mavs dificilmente repetirão hoje a sonolência apresentada nos últimos confrontos. Don Nelson já deve ter feito seu papel, mexendo com os brios de seus rapazes. A torcida do Texas também está em dia com seus afazeres, e o ginásio certamente vai transbordar de gente. Cabe a Dirk Nowitzki, Steve Nash, Michael Finley e mais meia dúzia de jogadores a missão de arrancar uma vitória e evitar um vexame sem precedentes. Aos Blazers, resta entrar em quadra e mostrar a garra de sempre, com o alívio de saber que a responsabilidade é um fardo nos ombros do oponente. Sem dúvida, vai ser um jogaço.
O mesmo pode ser dito sobre o embate que abre os trabalhos de domingo. A partir de 13h30, o Detroit tem a chance derradeira de recuperar o orgulho ferido. Na interminável guerra entre a força e o talento, é natural que estejamos sempre ao lado deste último. Por isso é tão doloroso embarcar na seguinte afirmação: não acho justo que o Orlando saia vencedor. Sou admirador confesso das habilidades de Tracy McGrady e sei que ele, sozinho, é melhor que todo o elenco dos Pistons, de Ben Wallace ao último reserva. Mas existe uma coisa que me incomoda bastante, principalmente no esporte.
Mesquinharia.
Muita gente discordou de mim quando critiquei o Magic por poupar T-Mac na última partida da temporada regular, contra o Milwaukee. A intenção era perder propositalmente para ficar com a oitava vaga e enfrentar o Detroit, adversário teoricamente “mais fácil” que o New Jersey Nets. A tática deu certo, mas o tiro pode sair pela culatra. Após um começo animador, o Orlando caiu de produção e hoje pode ser eliminado por um inimigo que escolheu a dedo. Quem tem bala para ser campeão (do Leste, que seja) não precisa burlar a ética e usar esse tipo de recurso.
Outra atitude de "timinho" foi encher Wallace de faltas no quarto período do jogo 6, aproveitando o baixo rendimento do pivô na linha de lances livres. A estratégia, muito usada contra Shaquille O’Neal num passado recente, é típica de quem não tem capacidade para resolver as coisas na bola e se vê obrigado a apelar para o antijogo.
Temos ainda outro agravante: antes da hora, McGrady deu com a língua nos dentes, cantando vitória quando vencia a série por 3-1. Sinto muito por ele, que paira em nível infinitamente superior ao dos companheiros, mas não me empolga a idéia de ver essa equipe limitada avançando nos playoffs. Até com certa tristeza, me pego torcendo pelos Pistons, que são brucutus mas se comportam de maneira digna.
(Foto - Gary Bassing/NBAE)
3.5.03
:::: BLOCO DE NOTAS ::::
Todo sábado, um passeio rápido pela liga
Robinson já pode dar os parabéns: Tim Duncan é MVP
DA SOMBRA PARA A LUZ - Nem Kobe, nem T-Mac, nem Garnett. O MVP da temporada 2002-2003 é Tim Duncan. Mestre em aliar discrição e eficiência, o ala-pivô dos Spurs, que já havia faturado o prêmio ano passado, vai receber o troféu no domingo, quando a decisão será anunciada oficialmente. O resultado vazou no início da madrugada de sábado, graças à apuração afiada do jornal texano The San Antonio Express-News, que imediatamente publicou a notícia em seu site. Em quadra, Duncan pouco se faz notar. Seus lances raramente integram os dez melhores da semana, seus movimentos não são plásticos, seu estilo não é expansivo. Ao contrário, é justamente “desaparecendo” das partidas que ele toma conta delas. Pelo segundo ano consecutivo, a NBA presta um tributo ao homem que joga em silêncio. Nada contra. Mas talvez fosse a hora de premiar um pouco de barulho.
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PEQUENO NOTÁVEL - Allen Iverson sequer sonhou em ser eleito MVP, mas também teve seus momentos de glória durante o campeonato. Um deles ocorreu ontem à noite, com uma vitória fora de casa sobre o New Orleans e a classificação do Philadelphia 76ers para as semifinais da conferência Leste. Altamente inspirado, Iverson anotou 45 pontos e mostrou sangue frio nas jogadas decisivas do quarto período. Coisa de gente grande. Os Hornets sofreram com a falta de tranqüilidade ofensiva. Robert Traylor desperdiçou dois ataques fáceis embaixo do aro e Jamal Mashburn, cestinha do time com 36 pontos, pecou pelo egoísmo nos momentos finais e passou a arremessar as bolas de qualquer jeito. Em todo caso, foi uma despedida digna, especialmente para Mash e Baron Davis, que atuaram no sacrifício.
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SELEÇÃO DE VERDADE - Dentro de poucos dias, Elton Brand, Richard Jefferson e o universitário Nick Collison serão chamados para a seleção americana que vai disputar o Pré-Olímpico em Porto Rico. Ao contrário dos outros nove convocados, o trio não tem presença garantida nos Jogos de Atenas, em 2004. Na verdade, essa inclusão de última hora serviu apenas para tapar os buracos. Afinal, trata-se de dois bons jogadores e um garoto que promete, mas nenhum deles tem valor suficiente para bater ponto numa Olimpíada. O restante da escalação, no entanto, garante o espetáculo: Tim Duncan, Karl Malone, Jermaine O’Neal, Tracy McGrady, Ray Allen, Kobe Bryant, Allen Iverson, Mike Bibby e Jason Kidd. Argentinos, iugoslavos e todo o resto do mundo terão de se contentar com a briga pela medalha de prata.
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ENQUANTO ISSO - Mesmo após os playoffs, não faltarão notícias para os jornalistas que cobrem a NBA nos Estados Unidos. Além do draft, que deve mobilizar o país no mês de junho, a movimentação nos bastidores já começa a dar o que falar. O novo gerente John Paxson insiste em ter Michael Jordan como cartola do Chicago Bulls. O Cleveland Cavaliers está doido para despachar Zydrunas Ilgauskas para Dallas. Alonzo Mourning se disse em condições de voltar às quadras e declarou seu amor ao Miami Heat. Gary Payton prometeu dar uma reposta sobre seu futuro daqui a um mês. Isso sem falar em outros bambas que podem mudar de uniforme, como Kidd, Duncan e Malone.
:::::::: :::::::: Z O N A . M O R T A :::::::: ::::::::
Ron Artest pediu desculpas por ter tentado agredir um torcedor do Boston Celtics no Fleet Center, no dia em que o Indiana Pacers foi eliminado do mata-mata. Pense bem, você desculparia?
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Por falar nos Pacers, Reggie Miller acertou apenas 28% de seus arremessos durante a série contra o Boston. Algo me diz que a aposentadoria está chamando e ele não está ouvindo.
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A terceira melhor jogada da semana na contagem regressiva do NBA Action, da ESPN, me deixou de queixo caído. O drible de corpo que Amare Stoudemire deu em Tim Duncan antes de concluir com uma bela cravada deve ter entortado a coluna do MVP.
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Hoje à noite, nada de basquete. Fica para amanhã a discussão sobre os esforços heróicos de Portland Trail Blazers e Detroit Pistons.
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(Foto – Ronald Martinez/NBAE)
2.5.03
TEMPO DE VINGANÇA
Walker e Pierce prometem partir para cima dos Nets e
devolver a eliminação na final do Leste do ano passado
No ano passado, o Los Angeles Lakers eliminou o San Antonio Spurs nas semifinais da conferência Oeste e o New Jersey Nets despachou o Boston Celtics na grande final do Leste. Foram séries bem disputadas, com placares apertados e alguns resultados imprevistos. A partir da segunda-feira, Spurs e Celtics finalmente terão a sonhada oportunidade de revanche.
Com uma vitória fácil impulsionada pelo triple-double de Jason Kidd, o New Jersey fechou ontem em 4-2 o confronto com o Milwaukee, espantando de vez a zebra. No começo do mata-mata, ficou no ar a impressão de que os Bucks poderiam surpreender. Pura ilusão. O técnico George Karl mexeu um bocado na escalação, não conseguiu ajeitar a rotação dos titulares e a química simplesmente não funcionou. Do outro lado, Kidd, Richard Jefferson e Kenyon Martin subiram de produção na hora certa e provaram que os Nets contam com um elenco muito superior.
O Boston agradece mais uma vez a Paul Pierce, que ontem marcou 27 pontos e atropelou o combalido Indiana Pacers. Em quase todas as partidas, o astro contou com a habitual colaboração de Antoine Walker. Vez por outra, surgia a inesperada ajuda de outros companheiros, como Walter McCarty, Tony Delk e J.R. Bremer.
Apesar do mando de quadra, os Pacers pareciam anestesiados pelos efeitos da crise que se instalou na equipe após o All-Star Game. Na hora da verdade, faltou justamente o que era tido como trunfo: a experiência dos veteranos. Reggie Miller teve atuações patéticas, assim como Tim Hardaway, pescado da aposentadoria na última hora para orientar a garotada. Pois Jermaine O’Neal e Ron Artest tiveram de jogar sozinhos. Deu no que deu.
Assim como os Nets, o San Antonio também levou alguns sustos no duelo contra o Phoenix Suns. A derrota no jogo 1, com uma estupenda cesta de Stephon Marbury, gerou um certo pânico. Mas a confusão logo foi superada, especialmente quando Tony Parker entrou no ritmo. Ontem, em plena America West Arena, Tim Duncan mostrou por que é candidato a MVP. Para não deixar Jason Kidd dominar sozinho a quinta-feira, a torre dos Spurs também fez seu triple-double, com 15 pontos, 20 rebotes e 10 assistências. Os passes foram um show à parte no quarto período.
Duncan sabe que, a partir de agora, as dificuldades tendem a aumentar. Afinal, Shaquille O’Neal e Kobe Bryant perceberam, ao eliminar o Minnesota, que o tetracampeonato não é um sonho tão distante assim. Ontem, os Wolves sofreram com mais uma atuação tímida de Kevin Garnett, enquanto Kobe e Shaq somaram 55 pontos e decidiram a parada. Coadjuvantes como Derek Fisher, Robert Horry e Devean George também colaboraram.
A promessa é de um embate equilibrado. Os 4-1 impostos pelo Los Angeles no ano passado dificilmente se repetirão. O mesmo vale para Nets-Celtics, uma série que desde já cheira a jogo 7. Como todos sabem, a vingança é um prato que se come frio. E, neste caso, com os ânimos fervendo.
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Logo mais, em Orlando, o Detroit Pistons tem a última chance de provar que não é uma farsa. Dallas e Philadelphia, que escorregaram no meio da semana, podem se redimir longe de suas torcidas. Dirk Nowitzki e Allen Iverson, os cestinhas dos playoffs, enfrentam missões complicadas em terreno inimigo: o primeiro em Portland, e o segundo em New Orleans.
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(Foto – Nathaniel S. Butler/NBAE)
1.5.03
UM POUCO ACIMA DOS SÚDITOS
O Sacramento de Webber foi o único time dos playoffs
que conseguiu encerrar a série em apenas cinco jogos
No playoff do equilíbrio, lá está o Sacramento Kings, um passo à frente, classificado para as semifinais da conferência Oeste. Diante do forte Utah Jazz, a equipe comandada por Rick Adelman se moveu sem alarde, quase em silêncio, mas confirmou o vigor de um basquete que beira a perfeição, combinando ataque e defesa em altíssimo nível.
O tropeço na terceira partida, quando o desengonçado Greg Ostertag foi celebrado como herói em Salt Lake City, não chegou a manchar o trabalho dos Kings, que agora esperam o vencedor do embate entre Dallas e Portland. Os Mavericks poderiam ter varrido seu oponente, mas complicaram uma série que parecia fácil. Esse desgaste imprevisto pode pesar um bocado na próxima fase.
À exceção de Kings-Jazz, todos os outros confrontos se arrastaram até o jogo 6, revelando um primeiro round disputado como há muito não se via na NBA. Independentemente da simpatia por um ou outro elenco, é uma satisfação ver o esforço admirável do New Orleans Hornets, evitando a eliminação mesmo com seus dois principais atletas (Baron Davis e Jamal Mashburn) atuando no sacrifício. Parabéns também aos Blazers, que encontrarão uma torcida incendiada na próxima partida e terão plenas condições de forçar o jogo 7.
O Orlando Magic, time-sensação do mata-mata, esbarrou na parede defensiva erguida pelo Detroit Pistons e levou uma sonora enfiada de 98-67. Limitado a míseros 19 pontos, o festejado Tracy McGrady agora se vê diante da urgência de fechar a série em casa.
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Por falar em urgência, quatro equipes entram em quadra hoje com a corda no pescoço. Duas elas (Phoenix e Milwaukee) contam, ao menos com o apoio dos torcedores. As outras duas (Minnesota e Indiana) precisam fazer das tripas coração no território do inimigo. Por sinal, ambas tinham mando de quadra e deixaram a vantagem evaporar. Mais uma prova de que este playoff anda meio virado do avesso.
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A derrota de ontem para o Sacramento pode ter sido o último jogo da carreira de John Stockton. Talvez também de Jerry Sloan (ao menos em Utah). Mas talvez não de Karl Malone. O estupendo ala-de-força não confirma nem desmente, mas crescem os boatos de sua transferência para o Los Angeles Lakers na próxima temporada. Aliás, há quem garanta que ele vai para a Califórnia acompanhado por Gary Payton, prestes a ganhar passe livre. Com Shaq, Malone, Kobe e Payton, nem é preciso preencher a posição 3. Dá até para jogar com um a menos.
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Tudo bem que os Kings parecem ser o time mais forte da liga. Mas os trejeitos de Peja Stojakovic e Vlade Divac, dançando ao som de Elvis Presley no anúncio da ESPN, fornecem mais munição para Shaquille O’Neal continuar chamando o adversário de Sacramento Queens.
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(Foto – Jed Jacobsohn/NBAE)