19.5.03



FERIDAS EXPOSTAS




Desacostumado com a derrota, o Los Angeles Lakers
olha para o futuro com uma boa dose de apreensão




Um título da NBA funciona, entre outras coisas, como um poderoso antídoto contra crises. Não há briga ou desavença que resista a um belo troféu. Uma equipe que se mantém no topo pode até se estapear internamente, mas, aos olhos do torcedor, navega sempre em mar de rosas. Quando a glória chega ao fim, a cortina de fumaça se abre e revela os problemas. Muitos deles.

Pois o Los Angeles Lakers acaba de interromper sua dinastia e já está em plena ebulição. O clima ferve em meio às conversas sobre quem fica e quem sai. As declarações já carregam um certo rancor que não se via há muito tempo. É como se, de uma hora para outra, não houvesse mais motivos para esconder as insatisfações.

“Estou contrariado. Foi uma falta de respeito com nosso grupo.” Dessa forma, o técnico-zen Phil Jackson reagiu ao saber que Shaquille O’Neal faltou ao último encontro dos tricampeões na temporada, sábado à tarde. Jackson disse ainda que a condição física do pivô será decisiva para a recuperação dos Lakers: “Trata-se de disciplina e dedicação. Sempre soubemos que o time vai bem quando Shaq vai bem”. Trocando em miúdos, foi um singelo “te cuida, grandalhão”.

Sabe-se lá que tipo de efeito uma fala dessas pode ter, por exemplo, em Kobe Bryant. Ao que parece, Jackson acha que o Los Angeles ainda gira em torno de O’Neal. Atravessando a melhor fase de sua carreira, como Kobe reagiria a isso? Vale lembrar que os astros não cruzam seus egos e adotam uma política de tolerância mútua em prol dos anéis que conquistaram juntos.

Jackson garantiu que não vai abandonar o barco, o que já é alguma coisa. Mas o treinador ainda não faz idéia do elenco que terá em mãos. O gerente Mitch Kupchak prometeu: “Teremos mais mudanças para o próximo ano. Faremos tudo o que pudermos para melhorar a equipe.” A intenção primordial do cartola é fortalecer o garrafão com um bom ala-de-força. Karl Malone, Juwan Howard e PJ Brown encabeçam a lista.

O elenco atual espera a ventania que vem por aí. Os veteranos Brian Shaw e Robert Horry dificilmente voltarão em 2003-2004. Shaw ganha passe livre e deve tomar outros rumos. Quanto a Horry, a diretoria tem até o mês que vem para estender seu contrato. Se isso não acontecer, o ala deve colocar sua experiência de cinco títulos à disposição do mercado. Ele próprio lamenta que seu futuro esteja longe da Califórnia: “Com certeza eu gostaria de continuar. Admiro esse sistema e estou muito velho para me adaptar a outro. Mas provavelmente não estarei aqui no próximo ano.” Mark Madsen, Tracy Murray e Samaki Walker também estarão livres para negociar com outras vizinhanças.

Shaq, Kobe, Fox, George, Fisher, Pargo, Rush e Medvedenko. É em torno desse grupo que o Los Angeles vai reconstruir sua vida. Como disse o próprio O’Neal ao comentar o fim da dinastia, “nada dura para sempre”. É hora de espanar a poeira e começar de novo.

(Foto - CBS)

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