4.5.03



A HISTÓRIA BATE À PORTA




Ben Wallace recebe o Magic numa tarde que promete



Durante a tarde de hoje, dois palcos vão dividir as atenções do mundo do basquete. No American Airlines Center e no Palace of Auburn Hills, este inofensivo 4 de maio pode ficar marcado como uma data histórica. Se bater o Dallas Mavericks no Texas, o Portland Trail Blazers será a primeira equipe da NBA a vencer uma série de playoff após sair perdendo por 3-0. Em Detroit, os Pistons perseguem façanha semelhante: um triunfo sobre o Orlando vale o ingresso no seleto grupo dos seis times que superaram a desvantagem de 3-1. No caso de vitória do Magic, outro recorde: seria a terceira vez em que o oitavo classificado elimina o líder da conferência.

Enfim, teremos um dia de decisão, com a adrenalina tomando o corpo de cada atleta, sem espaço para erros e tropeços, como manda o figurino do mata-mata.

O que o Portland fez com o Dallas nem precisa se consumar numa bela virada para se tornar registro histórico. O simples fato de ter escapado da degola por três vezes consecutivas, sendo uma delas em terreno inimigo, já basta para credenciar o grupo comandado por Maurice Cheeks. Diante dos costumeiros problemas disciplinares e de lesões que abateram peças fundamentais como Derek Anderson e Scottie Pippen, os Blazers revelaram o verdadeiro sentido do heroísmo no esporte e confiaram numa regra muito simples: o jogo só acaba quando termina.

Mesmo diante da estupenda reação, o Portland não detém o favoritismo para a partida número 7. Afinal, os Mavs dificilmente repetirão hoje a sonolência apresentada nos últimos confrontos. Don Nelson já deve ter feito seu papel, mexendo com os brios de seus rapazes. A torcida do Texas também está em dia com seus afazeres, e o ginásio certamente vai transbordar de gente. Cabe a Dirk Nowitzki, Steve Nash, Michael Finley e mais meia dúzia de jogadores a missão de arrancar uma vitória e evitar um vexame sem precedentes. Aos Blazers, resta entrar em quadra e mostrar a garra de sempre, com o alívio de saber que a responsabilidade é um fardo nos ombros do oponente. Sem dúvida, vai ser um jogaço.

O mesmo pode ser dito sobre o embate que abre os trabalhos de domingo. A partir de 13h30, o Detroit tem a chance derradeira de recuperar o orgulho ferido. Na interminável guerra entre a força e o talento, é natural que estejamos sempre ao lado deste último. Por isso é tão doloroso embarcar na seguinte afirmação: não acho justo que o Orlando saia vencedor. Sou admirador confesso das habilidades de Tracy McGrady e sei que ele, sozinho, é melhor que todo o elenco dos Pistons, de Ben Wallace ao último reserva. Mas existe uma coisa que me incomoda bastante, principalmente no esporte.

Mesquinharia.

Muita gente discordou de mim quando critiquei o Magic por poupar T-Mac na última partida da temporada regular, contra o Milwaukee. A intenção era perder propositalmente para ficar com a oitava vaga e enfrentar o Detroit, adversário teoricamente “mais fácil” que o New Jersey Nets. A tática deu certo, mas o tiro pode sair pela culatra. Após um começo animador, o Orlando caiu de produção e hoje pode ser eliminado por um inimigo que escolheu a dedo. Quem tem bala para ser campeão (do Leste, que seja) não precisa burlar a ética e usar esse tipo de recurso.

Outra atitude de "timinho" foi encher Wallace de faltas no quarto período do jogo 6, aproveitando o baixo rendimento do pivô na linha de lances livres. A estratégia, muito usada contra Shaquille O’Neal num passado recente, é típica de quem não tem capacidade para resolver as coisas na bola e se vê obrigado a apelar para o antijogo.

Temos ainda outro agravante: antes da hora, McGrady deu com a língua nos dentes, cantando vitória quando vencia a série por 3-1. Sinto muito por ele, que paira em nível infinitamente superior ao dos companheiros, mas não me empolga a idéia de ver essa equipe limitada avançando nos playoffs. Até com certa tristeza, me pego torcendo pelos Pistons, que são brucutus mas se comportam de maneira digna.

(Foto - Gary Bassing/NBAE)

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