27.4.03



AVANÇA OU RECUA?




Em meio ao debate sobre ataque e defesa, Wallace só
quer saber se algum colega anotou a placa de T-Mac




As pranchetas estão cada vez mais rabiscadas. De acordo com o material humano disponível, os 29 técnicos da NBA e suas legiões de assistentes quebram a cabeça para definir uma tática que se aproxime do ideal. Insistir no garrafão ou chutar de fora? Gastar o tempo ou partir para o contra-ataque? Marcar por zona ou homem-a-homem? Esse tipo de dúvida fica para os especialistas, mas não custa nada visitar o tema proposto ontem por Gustavo Nery na caixa de comentários. Para chegar longe numa temporada, o que é mais importante: fazer cestas ou evitar que o adversário as faça?

Antes de entrar na discussão, é bom ressaltar que, felizmente, a figura do craque ainda é o fio condutor do basquete. O grande jogador é capaz de mandar para o espaço todo um conjunto de setas, círculos e triângulos. Em qualquer esporte, essa é a primeiríssima lei: pela ordem natural, vence o mais habilidoso. O resto é zebra.

Quando chegamos ao ponto em que apenas a elite entra na disputa (caso dos playoffs), é previsível que os craques estejam espalhados por vários times. Cada partida pode ser decidida em detalhes. Por isso, convém construir uma base tática capaz de aumentar o rendimento das estrelas, além de dificultar ao máximo a vida dos oponentes. Ora, não há como escapar do óbvio: o esquema perfeito é aquele que equilibra ataque e defesa. Mas se o casamento não for viável, por qual dos dois se deve optar?

Rebaixando a questão ao nível mais raso, vale lembrar que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Ou seja, um excelente ataque vai acabar batendo uma excelente defesa, mais cedo ou mais tarde. É como se, no futebol, armássemos uma seleção só com zagueiros e outra só com atacantes. No máximo, os retranqueiros arrumariam um empate. E no basquete, vocês sabem, empate é coisa que não existe.

Por essas e outras, Detroit Pistons e New Jersey Nets, donos das duas melhores defesas de todo o campeonato, estão penando para superar Orlando Magic e Milwaukee Bucks. Tiveram o azar de pegar pela frente as únicas equipes do Leste que figuram entre os oito ataques mais positivos da temporada.

Durante uma série, nem a defesa mais apurada do universo é capaz de anular quatro vezes um sujeito como Tracy McGrady (ou Kobe Bryant, ou Tim Duncan, ou Kevin Garnet...). Em algum momento, o bloqueio será furado. E se não houver uma contrapartida ofensiva para compensar esse furo, o risco de derrota é enorme. No jogo 2 contra o Orlando, o solitário T-Mac marcou 46 pontos, mas o Detroit conseguiu dar uma resposta, com os 30 de Rip Hamilton e os 48 somados por Chauncey Billups, Cliff Robinson, Ben Wallace e Corliss Williamson. Isso não vai acontecer sempre.

Passei a última madrugada estudando com calma a tabela que mostra os pontos marcados e os pontos cedidos por cada time da NBA. A análise rendeu conclusões curiosas, e a mais interessante é que o sonhado equilíbrio não passa de utopia. Ninguém consegue se manter, ao mesmo tempo, entre os dez melhores no ataque e na defesa.

Já que é difícil conciliar, cada conferência fez sua opção. O Oeste tem quatro dos cinco ataques mais positivos (Mavs, Warriors, Kings e Lakers), enquanto o Leste tem quatro das cinco defesas menos vazadas (Pistons, Nets, Heat e Hornets). Levando em conta o abismo que há entre a ala rica do Pacífico e a ala pobre do Atlântico, suponho que uma retranca encolhida não rende tantos frutos quanto um esquema ofensivo bem azeitado.

Isso significa o triunfo da arte sobre a força? Talvez. A discussão passa por uma série de pontos subjetivos, especialmente num esporte em que tudo pode se decidir com uma cesta no último segundo. Meu conselho é deixar de lado a teoria e seguir a intuição. Se uma bandeja de Kobe lhe dá mais prazer que um toco de Wallace, fique com Kobe. Se uma roubada de Artest lhe parece mais atraente que uma assistência de Kidd, fique com Artest. E seguimos todos satisfeitos, sempre de olho no jogo.

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Por falar em jogo, a rodada de domingo promete emoção da hora do almoço até a última refeição do dia. Às 13h, matinê com transmissão da ESPN: o Boston Celtics tenta ampliar a vantagem sobre o Indiana Pacers. À tarde, censura livre: o Los Angeles Lakers recebe o Minnesota Timberwolves e o Orlando Magic abre suas portas para o Detroit Pistons. À noite, programa para gente grande: o Dallas Mavericks tenta varrer o Portland Trail Blazers enquanto San Antonio Spurs e Phoenix Suns se engalfinham na America West Arena.

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(Foto - Andy Lyons/NBAE)

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