9.4.03
UM MICROFONE, POR FAVOR
Quando ele fala, todo mundo escuta
Apesar da vitória de ontem sobre o Cleveland Cavaliers, o Washington Wizards dificilmente chegará aos playoffs. Mas isso não é motivo para excluir Michael Jordan do noticiário. O efeito é justamente o oposto: na iminência de encerrar a carreira com o fracasso da eliminação, o rei das quadras tem atraído microfones aonde quer que vá. E nem sempre os repórteres querem saber sobre as chances de sua equipe.
Ontem, em sua mais recente incursão na mídia, Jordan negou qualquer possibilidade de assumir no ano que vem a vaga de Jerry Krause, cartola dos Bulls que se aposentou por problemas de sáude. O nome do craque foi logo lançado ao vento, e ele tratou de jogar um balde de água fria nos antigos fãs de Chicago: “Foi uma pena o que aconteceu com Jerry. Mas em Washington comecei minha carreira de dirigente, e em Washington quero encerrá-la.”
A magnitude do assunto deixou em segundo plano outras questões abordadas por Jordan na manhã de terça-feira. Entre elas está uma sintomática declaração de apoio a Carmelo Anthony, que acaba de conquistar o título da NCAA à frente da Universidade de Syracuse. O garoto ainda nem decidiu se vai estudar mais um pouco ou se aventurar no basquete profissional. Mas Jordan já iniciou uma campanha para que ele seja o primeiro selecionado no próximo draft.
Evitando declarar abertamente sua preferência, o mestre garante que Anthony tem plenas condições de rebaixar o fenômeno LeBron James à segunda escolha (o nome do iugoslavo Darko Milicic, por sinal, nem chegou a ser mencionado na conversa).
Seria uma tolice supor que Jordan adotou essa posição “do contra” por enxergar em LeBron uma ameaça ao seu reinado. Mas o apoio a Anthony está longe de ter critérios exclusivamente técnicos. Parece claro que o oba-oba em torno do menino-prodígio incomoda sua Majestade. Por isso o recado soa aos meus ouvidos como um: “Menos, pessoal. Menos.”
A relação entre o melhor jogador de todos os tempos e o colegial mais badalado da história seguia de vento em popa. Há algumas semanas, a imprensa americana gastou um bocado de tinta para noticiar os supostos laços de amizade entre os dois, lembrando inclusive que um tinha o número do celular do outro.
O próprio Jordan desmentiu a lua-de-mel: “Não falo com ele há meses, portanto não me inclua nessa história. Sei que ele não tem meu celular porque acabo de mudar o número.” Em meio a elogios econômicos, a crítica veio forte: “LeBron pode se achar excelente para jogar na NBA agora. Mas quando chegar aqui e encontrar atletas de alto nível, vai notar que são bem diferentes daquelas crianças de 1.70m na escola.”
Os tapas e beijos do relacionamento transformaram-se em tema de um belíssimo texto redigido recentemente por Jim Armstrong, colunista do Denver Post, para a Página 2 da ESPN.com.
Vai ver, Jordan gostaria que o moleque adquirisse mais experiência encarando o purgatório da universidade (de preferência na sua estimada North Carolina) antes de saltar para a NBA. Talvez esteja meramente adotando uma tática para quebrar o deslumbramento de um adolescente tratado como gênio. Ou tudo isso pode ser apenas uma breve crise de ciúmes de um astro que cumpriu todo o percurso tradicional, como manda o figurino, antes de se consagrar no esporte.
Sinceramente, não creio nessa última opção.
(Foto - Jonathan Daniel/NBAE)
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